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[email protected] Educação 17 Curitiba, terça-feira, 8 de janeiro de 2019 Incentivo à leitura vale até mesmo nas férias # DESCANSO Projetos de novo ano O registro da passagem do tempo sempre teve grande impor- tância, desde traços em tábuas de argila ou nós em cordas até o sofisticado calendário Maia, vários povos procuraram formas de controlar o escoar dos dias e das estações. Saber quando foi e quando será o tempo de plantar e de colher, o tempo das tor- mentas e o das festas, nascimentos e mortes. As efemérides, as datas festivas que comemoramos são marcos do tempo que passa e passou, têm papel relevante até mesmo em nosso equi- líbrio emocional, organizam um pouco o turbulento caudal da vida. Mesmo quem não gosta de festas, ou a elas acredita ser indiferente, envolve-se de algum modo. Um ano é o tempo aproximado em que a Terra realiza uma translação ao redor do Sol; como tal movimento não tem co- meço ou fim definido em nossa concepção de tempo, várias cul- turas estabelecem datas que marcam o final de um determina- do ano e o início do próximo. No calendário gregoriano, usual- mente adotado no Ocidente, o ano inicia-se no primeiro dia de janeiro e encerra-se aos trinta e um dias de dezembro. Os chi- neses usam um calendário lunar e o Ano Novo chinês é come- morado na segunda lua nova após o solstício de inverno no he- misfério Norte, seu próximo ano (4717, chamado Ano do Porco) terá início no dia 5 de fevereiro de 2019. Os judeus adotam um calendário denominado rabínico, e o ano judaico 5780 começa- rá no dia 30 de setembro de 2019. Para a maioria dos povos, o Ano Novo assume um significado de renovação, encerramento de determinadas etapas e início de ou- tras, anos escolares, civis, contábeis. Talvez, mesmo contrarian- do a racionalidade, temos o sentimento de que muito do que vi- vemos e que nos desagradou “passou, ficou para trás”. Assim, to- dos os anos, renovamos nossas esperanças –mesmo que sem o menor senso de realidade – ao findar de um ano e inicio de um novo. Fazemos a nós mesmos dezenas de promessas: fazer mais exercícios, começar o regime com o qual finalmente vamos ema- grecer aquele excesso acumulado ao longo de vários anos, traba- lhar mais (ou menos, em alguns casos), permanecer mais tempo com a família, ou muitos e muitos outros desejos aos quais atri- buímos o sucesso e bem estar de nossa vida futura. Em todo réveillon esperamos renovação, boa fortuna, energia positiva e muitas mudanças, uma série de tradições observa- das para que venha amor, dinheiro e, claro, sorte. Por isso, pro- curamos usar apenas roupas brancas, em princípio pelo signifi- cado de paz e pureza espiritual, assim como de homenagem à Iemanjá, soberana dos mares, à qual levamos flores, perfumes e outras oferendas quando estamos próximos ao mar. Outros usam amarelo, que atrairia ouro, dinheiro, sem esquecer as co- res das roupas intimas, já que a cromobiologia sugere que es- tas afetam a vida humana, impulsionando o cérebro às mudan- ças comportamentais. Também como saudação, pulamos se- te ondas, já que o mar tem a capacidade de renovar energias e garantir a força de “passar por cima” das dificuldades... Em ter- mos alimentares, nossos rituais para garantir felicidade: comer sementes de romã, ou lentilhas, uvas ou avelãs, já que todas estas delícias prometem fartura; evitando o consumo de aves, pois estas ciscam para trás, podendo atrasar a prosperidade, sem esquecer o vinho espumante, identificado com a sabedoria. Mas o maior de todos os projetos, um dos poucos efetivamen- te capazes de mudar nossa vida, é o de estudar um pouco mais. Fazer o curso de graduação, seja ele o primeiro ou mesmo o se- gundo, que nos realizaria antigos sonhos; ou a especialização que faria diferença na nossa vida profissional, a escola de idio- ma, de artes, que melhoraria nossas viagens e ampliaria a vida cultural. Realizar este tipo de proposta faz a real diferença, ao nos tornar mais solidários e melhores, aumentando a capacida- de de enfrentar tempos difíceis. Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil. S ALA DE A ULA Wanda Camargo | [email protected] Colégio traz dicas de literatura para entreter crianças e adolescentes no período longe das escolas O incentivo à leitura deve ser prati- cado ao longo do ano letivo, tanto na escola como em casa com a família. Uma pesquisa realizada em2018 pelo NationalLiteracyTrust,noReinoUni- do, apontou que apenas 30% dos pais leem para seus filhos, o que corres- ponde a 3 em cada 10 responsáveis. Foram entrevistados mil pais, den- tre os quais 97% enxergam a impor- tância da leitura.Alémdisso, 58%de- les afirmaram que ler histórias para os pequenos antes de dormir pode fortalecer o vínculo parental. Entre- tanto, apenas 30% mantêm esse há- bito diariamente. ParaabibliotecáriadoColégioSale- siano Santa Teresinha, Silvana Stac- co,comcrianças cada vezmais conec- tadas, a leitura, estimulada ainda na infância, pode ser um hábito impor- tante na adolescência, “tanto para o desenvolvimento cognitivo, quanto para a apropriação de uma lingua- gem mais rica, com interpretações e argumentações importantes para pe- ríodos de vestibular ou participação ativa na vida social”, explica. Apro- veitando o período de férias, Silvana indica cinco leituras para crianças e adolescentes. SUGESTÕES DE LIVROS Para crianças: Férias na Antártica — Marininha Klink - Editora: Peiropolis • Três irmãs, idades diferentes, três visões de mundo, todas no mesmo barco, de férias na Antártica. Conhe- ça neste livro o delicado equilíbrio do planeta e, de quebra, o divertido jeito de encarar o mundo das jovens Lau- ra, Tamara e Marininha, filhas do navegador Amyr Klink e da fotógrafa Marina Bandeira Klink. Nos relatos de via- gem, estão as lembranças de cinco expedições em família ao continente antártico, onde focas, pinguins, ba- leias e muitos outros animais especiais passam o verão. Com ainda pouca vivência, elas já sabem e entendem que nosso planeta precisa de cuidados e que, onde quer que a gente viva, nossas atitudes refletem em lugares muito distantes daqui. De Cabeça pra Baixo — Ricardo da Cunha Lima - Editora: Companhia das letras • Um livro de poemas que ensina o que é poesia e que estimula o leitor a escrever seus próprios poemas. Essa é, em linhas gerais, a proposta que Ricardo Cunha Lima desenvolve em De cabeça para baixo. O autor lida com a linguagem de uma maneira extremamente lúdica: brinca com as palavras e com o modo de ver o mundo. Um de seus poemas nos fala, por exemplo, de um aspirador de pó... alérgico a pó: “Toda vez que era ligado, / Já ficava todo inchado, / Inteirinho empelotado”. E Ricardo, que quer levar o leitor aos “bastidores” do mundo poé- tico, ensina que esse poema é um “vilancico”, uma forma típica da poesia espanhola da Idade Média. Rima, métri- ca, aliteração, soneto e antítese são outros conceitos explicados pelo autor, neste livro de poemas que é também um ma- nual para aprender a ler poesia. Prêmio Jabuti 2001 de Melhor Livro Infanto-Juvenil. Para pré-adolescentes e adolescentes: Sete Desafios para Ser Rei — Jan Terlouw. Editora: Ática • Katoren é o fantástico país dos dragões e das árvores com frutos explosivos. Lá vive Stach, um garoto po- bre que precisa vencer sete grandes desafios para realizar seu sonho: ser rei. O Visconde Partido ao Meio — Ítalo Calvino. Editora: Companhia das Letras • O Visconde Partido ao Meio, publicado originalmente em 1952, veio a compor com O cavaleiro inexisten- te e O barão nas árvores, ambos publicados pela Companhia das Letras, uma trilogia a que Italo Calvino (1923- 85) chamou de Os nossos antepassados, uma espécie de árvore genealógica do homem contemporâneo, aliena- do, dividido, incompleto. É a história de Medardo di Terralba, o voluntarioso visconde que, na defesa da cristan- dade contra os turcos, leva um tiro de canhão no peito, mas sobrevive, ficando absurdamente partido ao meio, a metade direita atormentada pela maldade e a esquerda, pela bondade.“Ainda bem que a bala de canhão o dividiu apenas em dois”, comentam aliviadas suas vítimas. Capitães da Areia — Jorge Amado. Editora: Companhia das Letras • Desde o seu lançamento, em 1937, Capitães da Areia causou escândalo: inúmeros exemplares do livro fo- ram queimados em praça pública, por determinação do Estado Novo. Ao longo de sete décadas a narrativa não perdeu viço nem atualidade, pelo contrário: a vida urbana dos meninos pobres e infratores ganhou contornos trágicos e urgentes. Várias gerações de brasileiros sofreram o impacto e a sedução desses meninos que moram num trapiche abandonado no areal do cais de Salvador, vivendo à margem das convenções sociais. • Verdadeiro romance de formação, o livro nos torna íntimos de suas pequenas criaturas, cada uma delas com suas carências e suas ambições: do líder Pedro Bala ao religioso Pirulito, do ressentido e cruel Sem-Per- nas ao aprendiz de cafetão Gato, do sensato Professor ao rústico sertanejo Volta Seca. Com a força envolvente da sua prosa, Jorge Amado nos aproxima desses garotos e nos contagia com seu intenso desejo de liberdade.

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