Rigor da Lei Seca emCuritiba derruba
em 30% o movimento de bares
Para não fechar as portas casas do centro cortam pessoal; nos bairros empresários comemoram a boa frequência da vizinhança
Ana Ehlert
Omovimento dos bares de
Curitiba teve uma queda mé-
dia de 30% desde janeiro des-
te ano. O afastamento da cli-
entela tem vários fatores, sen-
do o principal o maior rigor
da chamada Lei Seca. Com
mais receio de cair em uma
blitz, que se multiplicaram em
Curitiba, os consumidores
que costumavam frequentar
bares e depois dirigir, aos
poucos vão se afastando dos
locais mais conhecidos da
noite curitibana.
O recuo no número de cli-
entes já repercutiu no fecha-
mento de postos de trabalho
no setor, que emprega 75 mil
pessoas no Paraná. “Pelo me-
nos 10% deste total já perdeu
emprego”, estima Fábio
Aguayo, presidente da Asso-
ciação dos Restaurantes, Ba-
res e Casas Noturnas do Pa-
raná (Abrabar). Em algumas
casas ouvidas pela reporta-
gem, o corte de pessoal quase
chegou ao mesmo patamar
registrado na queda de movi-
mento.
A queixa principal dos do-
nos de bares e restaurantes,
ao contrário do esperado, não
BEM
PARANÁ
5
Geral
CURITIBA, SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JULHO DE 2013
é contra a lei, mas sim contra
a falta de estrutura alternati-
va de locomoção na cidade.
Aguayo reclama da falta de
táxis em Curitiba. “Disseram
que irão entrar nomercado de
Curitiba mais 700 carros, mas
ainda assim é pouco”, argu-
menta. Com a licitação, em
andamento, a frota atual de
2.252 carros passará para
3.002 táxis.
Para Aguayo, a atual pro-
porção de um táxi para cada
776 habitantes em Curitiba é
insuficiente. “O casal que sai
para jantar chama um táxi na
sexta-feira à noite, geralmen-
Franklin de Freitas
te acaba brigando por causa
da espera de quase uma hora
para o carro chegar”, comen-
ta. “E isso não é piada não, é o
que tenho ouvido e muito de
donos de bares”, ressalta.
O poder público não dá a
sua contrapartida para um
dos setores que mais empre-
ga no Estado, avança Aguayo.
“Não temos nenhuma alter-
nativa de leva e traz para os
nossos clientes ou que favo-
reça a população a sair de
casa para se divertir ”, argu-
menta. Aguayo cita ainda,
comomedida de contenção de
gastos, mudanças no horário
CAMPANHA
Vai pegar
A fiscalização mais
intensa por parte do
Batalhão de Polícia de
Trânsito (BPTran), em
parceria com a
Secretaria de
Trânsito (Setran) e o
Instituto Paz no
Trânsito, começou no
dia 14 de junho. A
partir desta data as
blitze na cidade
passaram para no
mínimo três por dia.
O rigor faz parte da
campanha a “Lei Seca
vai Pegar”. Ao mesmo
tempo a campanha
percorre os bares
entregando folhetos
informativos sobre a
campanha. Aintenção
é que a cultura de
não dirigir após beber
seja incorporada na
vida dos
paranaenses.
de funcionamento das casas.
“Se antes os bares abriam nos
sete dias da semana, agora
estão abrindo apenas em seis
ou cinco dias por semana”,
relata.
De acordo com a proposta
aprovada pela Câmara Muni-
cipal de Curitiba e já sancio-
nada pela Prefeitura, o limite
de autorizações para o servi-
ço de transporte público de
táxi determina a existência de
no mínimo um táxi para cada
700 habitantes e no máximo
de um táxi para cada 500 ha-
bitantes.
O Taj Bar tenta se adequar à realidade e até estacionamento é oferecido aos clientes: na foto, Valdevino Maciel Santos, um dos sócios
TOLERÂNCIA
Zero
A lei 12.760/12, a Lei
Seca, colocou o Brasil
como um dos 12 países
do mundo de maior
rigor quando se trata
de embriaguez ao
volante, segundo a
pesquisa publicada pela
International Center
forAlcohol Policies, dos
Estados Unidos. Aqui a
tolerância ao consumo
de álcool e direção é
zero.
Na contramão dos bares da
região mais central de Curiti-
ba, os donos de casas situadas
em bairros mais distantes do
centro afirmam que não têm
do que se queixar. Umas das
empresárias que declarou sem
o menor receio que o negócio
“vai de vento em popa, graças
aDeus”, foi Nilza Sabatke, pro-
prietária da casa de rock,
Seba’s Rock Bar, no Boqueirão.
Tocando o bar há 5 anos,
ela revela que quando entrou
em vigor a lei seca, percebeu
uma queda no movimento.
“Mas não durou mais que
duas semanas”. Ela conta que
percebeu que houve uma
maior freqüência dos mora-
dores do bairro e dos bairros
mais próximos a casa. “Tem
também muita gente de São
José dos Pinhais, que é bem
perto daqui”, conta.
Além da frequência do bar
ser mais da vizinhança, após
o início da lei seca Nilza relata
que passou a vender mais re-
frigerantes e cerveja sem álco-
ol. “Mas tem aqueles que pre-
ferem pegar um táxi, mas dá
até pena de ver eles esperan-
do por mais de uma hora as
vezes por um carro”, diz. O
Seba’s fica na Rua Waldemar
Loureiro Campos, 2632, e tem
capacidade para 200 pessoas.
Outro bar que também tem
tido um bompúblico é o Fica a
Dica, no bairro São Lourenço.
“Mais de 80% dos nossos cli-
entes são da região, quase vi-
zinhos nossos”, conta um dos
proprietários LeandroGonçal-
ves Branco. Ele relata que per-
cebeu uma queda no movi-
mento no começo e ainda não
retornou aomesmo padrão de
antes. Mesmo assim sem o
drama de outras casas. O bar
fica na Mateus Leme, 4.271.
Novo comportamento beneficia bairros
Almoço ajudou a equilibrar
o caixa de bar no Juvevê
Para tentar se adequa-
rem ao novo cenário do
mercado, donos de bares ti-
veram de mexer no quadro
funcional e criar alternati-
vas. “Para poder continuar
tocado os bares, eu tive de
cortar em 20% o número
geral de funcionários”, rela-
ta Giocondo Villanova Arti-
gas Neto.
Proprietário de três ca-
sas, todas no Batel (Bar San-
ta Marta, Taj e Shed), o em-
presário afirma que o corte
precisou ser geral para
compensar as perdas resul-
tado do recuo de 30% do
movimento das casas.
“Desde os garçons, aos se-
guranças, do administrati-
vo a cozinha. Não tive op-
ção”, argumenta.
Antes de cortar o núme-
ro de funcionários, Neto con-
ta que chegou a cotar uma
van para colocar à disposi-
ção dos clientes, mas acabou
desistindo. “O passivo, caso
acontecesse alguma coisa
neste trajeto com qualquer
uma das pessoas transpor-
tadas era muito alto”, expli-
ca. “Com os táxis, não dá
para contar”, diz. “Qualquer
pessoa que tenha solicitado
um carro sabe que o tempo
mínimo de espera é de 40
minutos”, ressalta.
Na tentativa de oferecer
algum benefício aos clien-
tes, Neto conta que o estaci-
onamento da casa é dispo-
nibilizado para quem quiser
deixar o carro na casa e bus-
car na manhã seguinte. “O
carro fica no estacionamen-
to e em segurança”, afirma.
Corte de pessoal
e pernoite para o carro
No Bar Baronesa, locali-
zado no bairro do Juvevê, a
saída para tentar driblar a
queda de movimento, entre
25% e 30% durante a noite,
foi a implantação de um
programa de demissões vo-
luntárias e o reforço do al-
moço. “Quando entrou em
vigor a lei seca, fazia uns
três, quatro meses que tí-
nhamos começado a abrir
para o almoço e, olha, foi o
que nos segurou”, pondera
um dos sócios da casa, Ri-
cardo Ritter Von’Jeleta.
Como o bar está localiza-
do em uma região da cidade
onde há vários prédios resi-
denciais e não muito longe
daAvenida JoãoGualberto—
onde há uma grande concen-
tração de empresas e bancos
— o público da casa, segun-
do Von’Jeleta, é formado por
um pessoal mais velho, fa-
mílias e por quem gosta de
freqüentar happy hours.
Segundo o empresário,
a situação é generalizada.
“Os bares da Itupava e até
mesmo outros bares, meus
vizinhos aqui no Juvevê,
sentiram uma queda no
movimento”, diz referindo-
se a conversas informas
que manteve com os pro-
prietários destas casas.
Mortes no trânsito têm queda
O número de mortes no trânsito em Curitiba caiu 28% de
janeiro a junho deste ano, em comparação ao mesmo período
do ano passado, de acordo com o balanço do Batalhão de
Polícia de Trânsito (BPTran). Em 2013 foram contabilizadas 21
mortes nas ruas de Curitiba, contra 30 registradas entre
janeiro e junho do ano passado. O tenente Ismael Veiga, do
BPTran, relata que, em igual período, houve um avanço de
175% no número de prisões por embriaguez ao volante.
“Foram 287 casos entre janeiro e junho deste ano”, afirma.
Já o número de autuações administrativas, ou seja, de multas,
cresceu 50% — 986 motoristas foram multados em R$ 1.915
por terem sido flagrados ao volante após terem ingerido álcool
neste ano. O tenente Veiga justifica os números, não apenas
pelo maior rigor da lei, mas pelo número de fiscalizações
realizadas. São feitas três operações de fiscalização diárias,
em média, em pontos diferentes da cidade.
Ainda de acordo com o tenente do BPTran, os dia de maior
ocorrência são os finais de semana e feriados. As regiões
centrais e de Santa Felicidade também concentram o maior
número de ocorrências.
Arquivo/AN-PR
Seba’s, no Boqueirão: movimento com clientes da região
Franklin de Freitas