“Política é uma questão
de espaço”, diz Barros
Secretário da Indústria e Comércio afirma que prioridade dada por governador Beto Richa
a aliança com o PMDB leva seu grupo a buscar 3ª via para lançar candidato a cargo majoritário
Ivan Santos
Conhecido como um arti-
culador político habilidoso, o
ex-deputado federal Ricardo
Barros (PP) foi vice-líder dos
governos Fernando Henrique
Cardoso e Lula na Câmara
Federal. Hoje, comanda a Se-
cretaria de Estado da Indús-
tria e Comércio do governo
Beto Richa (PSDB), responsá-
vel pelo programa Paraná
Competitivo, que já atraiu in-
vestimentos de R$ 25 bilhões
para o Estado.
Nessa condição, Barros não
esconde suas ambições políti-
cas. Garanteque seugrupo, que
inclui o irmão e ex-prefeito de
Maringá, Silvio Barros (PHS), e
a esposa, deputada federal
Cida Borguetti (PROS) terá um
candidato a um cargo majori-
tário – governador, vice ou Se-
nado – nas eleições deste ano.
Até porque, explica nessa en-
trevistaao
BemParaná
, comade-
cisão de Richa de priorizar uma
aliança com o PMDB, não há
espaço para seu grupo na coli-
gação governista.
Bem Paraná - O Paraná
Competitivo é apontado como
o principal programa do atu-
al governo. Qual o volume de
investimentos atraídos hoje
pelo programa?
Ricardo Barros –
Já conso-
lidamos R$ 25 bilhões e va-
mos chegar a R$ 30 bilhões.
Com potencial de criação de
150 mil empregos.
BP – O Paraná teve nos
anos 90 um processo de in-
dustrialização com a atração
das montadoras de automó-
veis. O senhor diria que o pro-
cesso vivido hoje é compará-
vel com isso?
Barros –
Eu acho que esse
é o maior ciclo de industriali-
zação do Paraná. Ele se con-
solidou em vários setores.
Muito na agroindústria que é
o nosso negócio no Paraná, é
um grande produtor e quanto
mais ele verticaliza seu pro-
duto, mais valor agregado fica
no Paraná. Cresceu muito na
área de carne. Aves e suínos
cresceram muito. As coopera-
tivas investem R$ 1,4 bilhão
por ano, sempre nas suas ba-
ses, investimentos no interi-
or do Estado. A Klabin tam-
bém representa uma oportu-
nidade grande de equilibrar
aquela região que tem ainda
um IDH (Índice de Desenvol-
vimento Humano) muito bai-
xo. Mas com a engenharia
que foi feita de divisão do
ICMS por 12 cidades daquela
região vamos dar uma melho-
rada boa no IDH ali. Adrianó-
polis, com quatro cimenteiras
(fábricas de cimento) e R$ 1,5
bilhão de investimentos vai
ser também uma redenção
para o Vale do Ribeira que
sempre foi uma região depri-
mida, inclusive do lado de
São Paulo, após a divisa, é
uma região de baixo IDH
também. Nós temos soluções
importantes para várias regi-
ões do Estado. Londrina, Ma-
ringá, Cascavel. Muita coisa
no interior, nas pequenas ci-
dades. Temos de R$ 300,00 a
R$ 7 bilhões, que é a Klabin,
todo mundo é bem vindo pe-
las políticas de desenvolvi-
mento econômico do Paraná.
BP - Há hoje muita recla-
mação entre empresários e
investidores em relação à po-
lítica econômica do País.
Como o senhor vê a situação
e até que ponto isso pode pre-
judicar os investimentos no
Paraná?
Barros –
Sem dúvida, o
choque é geral. O aumento de
juros, especialmente, inibe
investimentos. O consumo
ainda está mantendo, o que é
bom, porque o que atrai inves-
timentos estrangeiros no Bra-
sil e o crescimento das nos-
sas indústrias é focado no
nosso mercado interno. O
crescimento do PIB não deve
Valquir Aureliano
ser grande, e também isso ini-
be os investimentos. Mas no
geral o nosso mercado inter-
no continua crescendo, ainda
há uma inclusão importante
de brasileiros nas classes de
maior poder aquisitivo e isso
é o que viabiliza a expansão
industrial no Estado e tam-
bém no Brasil.
BP - Ogovernador Beto Ri-
cha tem acusado o governo fe-
deral de discriminação contra
o Paraná pela demora na libe-
ração de empréstimos. Como
o senhor vê essa questão?
Barros –
Olha, essa é uma
questão política e burocrática
também. Evidentemente exis-
tem os favores da lei e os rigo-
res da lei. A habilidade para
conseguir os favores da lei
decorre de uma capacidade de
articulação que seria possível
o governo ter, na medida em
que ele tem aqui no Paraná
parceiros que são também ali-
ados do governo federal. En-
tão eu acho que o governo pre-
cisa é caminhar em Brasília
com os representantes que
são também base do governo
em Brasília. Isso facilitaria
muito o governador a agilizar
a tramitação dos seus proces-
sos aqui. Evidentemente des-
de que estejam cumpridas as
formalidades legais.
Articulação
“Maringá vai estar na chapa majoritária”
Bem Paraná - Circularam
comentários de que a sua re-
lação com o governador teria
sido abalada por conta dessas
articulações para o lançamen-
to de candidatos próprios ao
governo, vice ou Senado por
esse grupo do PROS e PHS.
Ricardo Barros
– Não. Mi-
nha relação com o governador
é pessoal. Meu pai era amigo
do pai dele, os dois no MDB
velho de guerra. E eu também
sou amigo dele, da Fernanda
(Richa). Temos uma relação de
amizade, um bom relaciona-
mento. O Paraná Competitivo
pode ser talvez o melhor pro-
grama do governo Beto Richa,
tive o privilégio de idealizar e
liderar. Mas política é uma
questão de espaço. Nós que-
remos ocupar o espaço e va-
mos ocupar. Se não puder es-
tar na chapa dele, eu respeito
as decisões dele de priorida-
des. Se ele acha que a priori-
dade é o Alvaro Dias, é o
PMDB, ele também entende
que nós temos o nosso projeto
político para constituir. Então
não é nada contra o governa-
dor, pelo contrário, é a favor de
uma visão nossa de que nós
temos hoje condições de ocu-
par o espaço. E que vamos bus-
car esse espaço. Se não for na
chapa dele, estaremos em ou-
tra, mas não é contra ele. É a
favor do projeto de Maringá, a
favor do nosso estado. Temque
ampliar o debate.
BP - O senhor é um dos
caciques do PP, sua esposa
deputada Cida Borguetti co-
manda o recém-criado PROS
e seu irmão, Silvio Barros, se
filiou ao PHS. O seu grupo
controla esses três partidos?
Barros –
Não. O PP nós
não controlamos. Como eu
disse, quem controla é o de-
putado Meurer e o deputado
Sperafico no Paraná. Eu faço
parte do Diretório Nacional.
Vou concorrer a deputado fe-
deral. A minha filha Maria Vi-
tória vai concorrer a deputa-
da estadual pelo PP. Ela é a
presidente da Juventude Pro-
gressista do Paraná. Então nós
temos uma posição estabele-
cida no PP, mas não temos
mandato no PP hoje. A não ser
o prefeito de Maringá, o Ro-
berto Puppin, que é do PPmas
acompanha o projeto de Ma-
ringá. Então nós estamos em
um momento de articulação.
Pode até acontecer de estar-
mos todos juntos lá na frente.
A deputada Cida se dispôs a
ser vice do governador Beto
Richa. Ela é uma das opções
que ele tem inclusive, porque
o PMDB pode acabar lá na
frente não decidindo pela co-
ligação com ele. E ele poderá
optar por escolher o (deputa-
do federal e presidente esta-
dual do PSD) Eduardo Sciar-
ra, ou a Cida, Ratinho (Jr, do
PSC), não sei, para ser seu
vice. E aí recompõe a possibi-
lidade de espaço que nós es-
tamos buscando para o nosso
bloco regional doNoroeste, de
Maringá. Então existe a pos-
sibilidade de conciliação. Mas
como a decisão sobre isso não
está no nosso controle, está no
controle do PMDB, nós temos
que nos preparar para as pró-
ximas situações que virão.
Você pode ter certeza que Ma-
ringá estará disputando uma
eleição majoritária, indepen-
dente desses partidos, em
qualquer um dessas opções
partidárias, Maringá vai estar
na chapa majoritária.
BP – A intenção do seu
grupo, então, é ter um candi-
dato ou a governador, vice, ou
Senado?
Barros –
Nós vamos ter um
dos nossos líderes em uma
posição dessas. Pode até a
Cida concorrer ao Senado com
a Gleisi. É uma possibilidade.
Depende de como vai se cons-
tituir. Pode ser que o PMDB
lance o Requião (ao governo).
Ele passe a ser a terceira via e
aí o Beto escolhe outro parti-
do na vice. Nós vamos ocupar.
Eu fui líder do governo Fer-
nando Henrique, fui líder do
governo Lula. Tenho o respei-
to de todos eles. Sou uma pes-
soa absolutamente transpa-
rente, franca. O que eu digo
para você eu digo para o go-
vernador. Minha conversa
com ele é aberta, clara. Não
tem nada de difícil no nosso
processo. Maringá hoje é a
cidade com melhor capacida-
de de investimento do Para-
ná, é a melhor em tudo. Está
crescendo 15% ao ano, não
tem uma favela, um barraco.
Então é uma cidade organiza-
da. Nós queremos que essa
pujança, esse desenvolvi-
mento em todo o Paraná.
Barros: “Existe possibilidade de conciliação, mas a decisão não está no nosso controle”
Bem Paraná - No Para-
ná, qual a avaliação que o
senhor faz da eleição para
o governo do Estado?
Ricardo Barros –
No
Paraná é a mesma coisa.
Quem está no poder é
sempre o favorito. O go-
vernador (Beto Richa) é
favorito. Evidentemente
tem suas dificuldades. A
senadora Gleisi (Hoff-
mann, do PT), agora, com
tempo para fazer articula-
ção, está procurando am-
pliar seu espaço também.
OPMDB dividido emqua-
tro alas: a ala da Gleisi, a
do Beto, do Requião e a do
(ex-governador Orlando)
Pessuti. Eu diria que ain-
da isso é imprevisível,
porque é preciso saber se
o Pessuti quer mesmo ser
candidato ou se não. Se
ele quiser mesmo a candi-
datura própria vence a
convenção, contra a deci-
são de coligação. E aí a
decisão é entre ele e o Re-
quião, quem será o candi-
dato. Então isso é uma coi-
sa que está ainda indefi-
nida. E o PMDB é a deci-
são que o governador es-
colheu como principal da
sua articulação política. E
da decisão do PMDB de-
correrá o posicionamento
dos outros partidos. Eu
acho que a terceira via está
garantida. Nós mesmos
temos essa pretensão.
Maringá deve propor a
candidatura do (ex-prefei-
to) Silvio Barros (PHS) ou
da deputada (federal)
Cida Borguetti (PROS),
para uma terceira via caso
o PMDB consolide a alian-
ça com o governador. E aí
o PMDB ocupará o espaço
dos aliados do governa-
dor, de quemajudou o Beto
a se eleger. Então nós va-
mos ter que buscar outro
espaço para nós.
BP – O PP faz parte
dessa articulação de uma
terceira via?
Barros –
O PP não. Ma-
ringá. Porque o Silvio Bar-
ros está no PHS e a depu-
tada Cida Borguetti está no
PROS. OPP não. OPP tem
outra posição porque ele
tem candidatos muito for-
tes a deputado federal,
tem uma chapa própria
para estadual e o partido
pode se posicionar no in-
teresse de estar em um
grande bloco, uma grande
coligação. Mas a cidade de
Maringá, que tem a me-
lhor gestão fiscal do Esta-
do, o melhor IDH, tem in-
teresse de ocupar espaço
na chapa majoritária e o
governador está escolhen-
do o (senador e candidato
à reeleição) Álvaro Dias
(PSDB) e o PMDB para
seus companheiros nesta
eleição. Então isso, não só
para o grupo de Maringá,
mas para outros partidos
que ajudaram o governa-
dor a se eleger pode pro-
vocar uma decisão de bus-
car o espaço da terceira
via. Porque tem partidos
que têm pretensões majo-
ritárias, Senado, vice, que
não vão caber mais na
chapa do governador.
BP – Então o senhor
acha que o PP tende a per-
manecer na coligação com
o Beto Richa?
Barros
– O PP eu não
posso dizer. Quem pode
responder sobre o PP é o
deputado (federal) Nelson
Meurer, ele é o presidente.
Ele e o deputado (federal)
Dilceu Sperafico é quem
tem o comando do partido.
Eu estou falando como vi-
são: o PP deve estar em
uma grande coligação, ou
com o PT ou com o PSDB.
Sucessão estadual
“Acho que
a terceira
via está
garantida”
Bem Paraná - O senhor
foi vice-líder do governo
Lula no Congresso. Hoje,
há muitas reclamações
em relação à articulação
política do governoDilma.
Concorda com elas?
Ricardo Barros –
Eu
sou dirigente nacional do
PP, tesoureiro do Diretório
Nacional. Frequento Bra-
sília
semanalmente.
Acompanho bastante essa
questão da articulação po-
lítica, essa dificuldade que
gerou até a formação des-
se blocão agora. Vários
partidos para pressionar o
governo a tratar de forma
equânime todas as banca-
das de apoio ao governo.
Há o temor aqui que o go-
verno atue para crescer
apenas a bancada do PT,
emdetrimento dos demais
aliados, direcionando re-
cursos para esses projetos
de parlamentares ou ou-
tros candidatos a deputa-
do do PT. É uma percep-
ção que ficou mais eviden-
te em Brasília dessa ma-
nobra, e há portanto uma
reação para que todos os
que fazem parte da base
do governo tenhamomes-
mo tratamento. Para que
todos os partidos possam,
de forma igual, manter as
suas bancadas. E isso é
uma articulação que não
precisaria ocorrer se tives-
se uma ação política mais
adequada. Mas o governo
está recebendo o recado,
os partidos também tem
capacidade, maturidade e
experiência suficiente
para viabilizar um equilí-
brio nesse tratamento.
BP - Como vê o cenário
para as eleições presiden-
ciais?
Barros –
A presidente
Dilma é a grande favorita.
Eu vejo a candidatura do
Eduardo Campos como
uma alternativa de tercei-
ra via que poderá se con-
solidar se as manifesta-
ções populares na Copa do
Mundo forem tão acentu-
adas como foram naquele
período que ocorreu no
ano passado e que a apro-
vação dos governos sofreu
uma queda acentuada. Se
houver grandes manifes-
tações durante o período
da Copa, o que é uma pre-
ocupação esperada por
todo mundo, eu acho que
isso pode afetar quem está
no poder. E aí surgirão as
possibilidades de eleição
de uma terceira via.
BP - Como o PP deve
se posicionar?
Barros –
OPartido Pro-
gressista não se coligou
nacionalmente nas últi-
mas eleições. Nem com
um lado, nem com o ou-
tro. Eu era líder do gover-
no Fernando Henrique,
nós tínhamos ministros no
governo, mas não coliga-
mos com ele, na eleição do
(José) Serra. E depois tam-
bém, nas eleições do pre-
sidente Lula e da Dilma o
PP não tomou posição,
porque nós temos diversas
posições regionais nos es-
tados que poderiam ser
prejudicados por uma de-
cisão nacional. Mas o nos-
so presidente Ciro No-
gueira e o ministro (das Ci-
dades) Aguinaldo Ribeiro
estão trabalhando com
bastante determinação
para o convencimento do
partido em coligar com a
presidente Dilma. Mas
existem complicadores.
Em Minas Gerais, o gover-
nador que assume agora é
do PP e é do grupo do Aé-
cio Neves, o Alberto Pinto
Coelho, que vai assumir
agora.
Presidência
Protestos
“podem
afetar quem
está no poder”
“
“Maringá deve
propor a candidatura
do (ex-prefeito)
Silvio Barros (PHS)
ou da deputada
(federal) Cida
Borguetti (PROS),
para uma terceira
via caso o PMDB
consolide a aliança
com o governador. E
aí o PMDB ocupará o
espaço dos aliados do
governador, de
quem ajudou o Beto
a se eleger. Então
nós vamos ter que
buscar outro espaço
para nós”.
do ex-deputado federal
Ricardo Barros (PP)
BEM
PARANÁ
3
Geral
CURITIBA, SEGUNDA-FEIRA, 10 DE MARÇO DE 2014