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BEM
PARANÁ
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CURITIBA, 24 DE NOVEMBRO DE 2014
Diversão & Arte
Deborah Secco atinge novo
patamar no filme
Boa Sorte
A atriz faz uma soropositiva drogadita, que se sacrifica por amor, e garante que foi o papel que a escolheu
Como no Festival do
Rio, onde o público teve a
sensibilidade, para não
dizer a grandeza, de esco-
lher como melhor filme o
que era realmente o me-
lhor de toda Première Bra-
sil —
Casa Grande
, de Felli-
pe Barbosa, ignorado pelo
júri oficial —, em Paulínia
foi o público que também
salvou
Boa Sorte
, de Caro-
lina Jabor, do quase esque-
cimento. Para o júri ofici-
al, o filme só mereceu o
prêmio de direção de arte.
Para Deborah Secco, nada.
E, no entanto, ainda está
para surgir, no cinema bra-
sileiro deste ano, uma in-
terpretação melhor que a
dela no filme de Carolina.
Deborah faz uma soro-
positiva drogadita, que se
sacrifica por amor. O fil-
me, em cartaz nos cine-
mas, reabre a vertente de
Bicho de Sete Cabeças
, de Laís
Bodanzky, no cinema bra-
sileiro, mas não é sobre a
violência do sistema ma-
nicomial. Neto (Rodrigo
Santoro) quase perde sua
alma naquela ficção. Em
Boa Sorte
, João (João Pedro
Zappa) também é interna-
do pelos pais. Ansioso, re-
siste a ser dopado. Encon-
tra Deborah, outra interna,
e ela se dopa o tempo todo,
para aguentar a barra da
vida - dentro e fora da ins-
tituição.
A atriz gosta de dizer
que não escolheu a perso-
nagem— foi escolhida por
ela. Desde que leu a histó-
ria curta de Jorge Furtado,
Deborah sentiu que aque-
la Judite, tão diferente dela,
tinha tudo a ver com ela.
Quando descobriu que
Atriz perdeu 11 quilos para papel
Deborah: “Já apareci nua antes, e nunca foi um incômodo, mas o caso da Judite foi especial”
Carolina Jabor ia fazer o
filme, ligou para a direto-
ra. Seu argumento para
conseguir o papel foi o
mais direto: “Judite sou
eu”. Deborah é uma linda
mulher, objeto de desejo
de todos os machos do
Brasil. Isso nunca lhe bas-
tou. Ela sempre quis ser
atriz, não só um invólucro
bonito.
Os amigos sempre sou-
beram disso. Com alguns,
ela se aconselha — os di-
retores Guel Arraes e Jorge
Furtado. Quando disse que
ia fazer
Bruna Surfistinha
, fo-
ram contra. Ela bateu pé.
Reconheceram. “Ainda
bemque você fez”. No caso
de Judite, e
Boa Sorte
, deram
toda força. Deborah não é
só boa — é excelente. E os
seus olhos... Ninguém re-
presenta com os olhos
como ela.
O parceiro de cenas —
João Pedro Zappa é quem
divide a cena com Debo-
rah Secco em
Boa Sorte
. No
longa — sucinto — de Ca-
rolina Jabor (apenas 90 mi-
nutos), ele faz João, que é
internado pela família.
Conhece Judite, e sua vida
muda para sempre. Aos 26
anos, Zappa até parece ter
menos. Tem um monte de
amigos que também são
artistas, músicos, princi-
palmente. Os não artistas
é que querem os detalhes
— como é fazer uma cena
de sexo com Deborah Sec-
co? Pois ele faz, em
Boa
Sorte
, e é uma bela cena.
Intensa, mas triste. O pró-
prio filme carrega umpou-
co dessa tristeza, mas que
ninguém se assuste com
isso.
Deborah minimiza a
própria beleza, e não é
para fazer gênero. "Não
vou negar que, produzi-
da, causo certo impacto,
mas se eu coloco um je-
ans simples, faço um rabo
de cavalo, passo desper-
cebida em qualquer lu-
gar”. Vai ao shopping, ao
supermercado. "Tem gen-
te que até encara, mas fica
em dúvida. Será...?" Ela
perdeu 11 quilos para fa-
zer
Boa Sorte
— ainda está
delgada, mas não naque-
la magreza. “Já apareci
nua antes, e nunca foi um
incômodo, mas o caso da
Judite foi especial. Ela é
muito mais que um cor-
po. Já disse e repito. É
minha
personagem
mais apaixonante. Se ti-
vesse de escolher uma
para passar a noite, seria
ela. E olhem que ali es-
tou na minha pior forma
física”, avalia.
De novo Deborah Sec-
co é impressionante. Na
trama do filme de Caroli-
na Jabor, João, amoroso de
Judite, quer morrer com
ela, e por ela. Sabendo dis-
so, Judite cria uma situa-
ção— sacrifica-se -—para
que ele tenha uma chan-
ce. Boa sorte, João.
Ela conta que teve de
se isolar para fazer a per-
sonagem. Durante a pre-
paração e, depois, a roda-
gem, foi morar num ho-
tel, sozinha. Todo mundo
estranhava, a própria di-
retora. "Não fazia sentido
para mim continuar com
minha vida, cercada pela
família, os amigos. Sentia
que, para entrar na Judi-
te, eu precisa daquele
isolamento, de ficar comi-
go." Quando a rodagem
terminou, Judite insistia
em permanecer com ela.
"Achava tudo sem senti-
do, que a vida não valia a
pena. Foi só uma fase. Ja-
mais pensei em me sui-
cidar. Tive uma irmã que
morreu quando eu ainda
era criança, e aquilo me
marcou. A morte vai che-
gar para mim, como para
todo o mundo, mas quan-
do isso ocorrer vai me
encontrar cheia de vida".
Felipe Oneill/divulgação