[email protected] Educação 16 Curitiba, terça-feira, 22 de janeiro de 2019 Leitura dificil pode ter relação com a visão Cerca de 20% da crianças em idade escolar apresentam problemas oculares # ESCOLA Crianças muito quietas: problema à vista? Muitas vezes no ambiente escolar fica bastante difícil reconhe- cer nas crianças muito quietas aquelas apenas sonhadoras, en- simesmadas por algo que uma grande escritora chama de “sin- toma de poesia”, ou seja, a semente de alguém que olha o mun- do com curiosidade, tem profundo interesse pela leitura – o que depende de ter acesso a uma biblioteca ou acervo domés- tico de seus pais ou parentes – e que manterá ao longo da vi- da o hábito de pensar antes de falar, uma discrição inerente à sua personalidade, e que provavelmente será canalizada para a música, a pintura ou a escrita, um trabalho mais criativo com as mãos, um jeito inovador de usar o conhecimento. De forma geral, procuramos “incluir” estes educandos, mesmo contra suas vontades, para a convivência e o trabalho em gru- po, pois sabemos que este é um valor para nossa sociedade atual, fazer parte de uma equipe tem valor no mundo do traba- lho, e o sistema educacional tem, entre suas várias outras fun- ções, preparar desde muito cedo um futuro profissional. Embo- ra, claro, contrariando uma tendência natural, esta obrigação não deixa de constituir uma imposição da vontade da maioria sobre uma minoria não problemática e até desejável numa co- munidade saudável. Porém, as caladas podem também simplesmente estar denun- ciando, através deste silêncio, algo de muito grave que aconte- ce em seu meio familiar, ou seja, fazendo um pedido de socorro, pois jovens e crianças dão sinais, embora sutis, de que as coisas não estão bem, revelando suas angústias durante algumas brin- cadeiras, na elaboração de um texto, ou no péssimo comporta- mento que manifestam. É indispensável um olhar atento, coisa que salas superlotadas, ou excesso de alunos em muitas salas dificultam ao professor; pais ocupados demais, em luta pela so- brevivência ou simplesmente descuidados de seus filhos rara- mente conseguem detectar a tempo; e tais crianças podem in- clusive estar sofrendo de depressão, abusos ou agressões. A questão da violência não demonstra, infelizmente, ter solu- ção no curto prazo. Este não é um fenômeno novo, tem acom- panhado a história de nossa civilização desde os primórdios, merecendo ao longo dos séculos alguns comentários de perso- nagens ilustres ou desconhecidos – porém atentos – que ten- taram entender suas origens e modos de efetivação. No entan- to, tem tido atualmente um destaque inédito e intenso em pu- blicações e pesquisas acadêmicas, assim como de profissionais das diversas mídias, pois, inscrita em nossa história, sempre re- presentou um estágio em que a vida em sociedade corre peri- go, pois estabelece um clima de pânico, de terror e de ausência de empatia. A presença da selvageria implica na imprevisibili- dade, no caos, deixa rastros de uma situação dramática, perde- mos qualquer certeza nos comportamentos cotidianos; e se is- so é verdadeiro para adultos, mais ainda nas idades iniciais. Em acréscimo, mesmo na ausência da violência física outras modalidades de más influências podem atuar levando à de- pressão, cujos sintomas são difíceis de detectar, dado que vio- lência moral não deixa marcas físicas e nem por isso é menos prejudicial, muitas vezes colocando em risco a própria vida e equilíbrio mental. Depressão é doença insidiosa, e acomete os muito jovens com mais frequência do que gostamos de acei- tar, e assim não é fácil a tarefa educacional, pois alunos trazem nas suas narrativas existenciais contextos muito diferentes, que exigem tempo e observação acurada para serem compreendi- das, dedicação para serem acompanhadas e amor (sim, esta é a palavra correta) para serem orientadas. Quem tem uma crian- ça ou jovem muito quieto em casa deve se esforça para, às ve- zes, ouvir o seu silêncio, que pode ser mais eloquente do que pensamos. Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil. S ALA DE A ULA Wanda Camargo | [email protected] Dificuldade em ler e copiar o que o professor escreveu no quadro, que- da no rendimento escolar e queixa de dores de cabeça ao final da au- la são alertas importantes de que a saúde ocular infantil precisa de mais atenção. Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), cerca de 20% das crianças em idade escolar apre- sentamalgum tipo de problema visu- al. Por isso, pais e professores devem ficar atentos aos sinais e buscarem ajuda médica o mais rápido possível. “Em casa, deve-se observar se a criança está sempre muito próxima da TV, franzi a testa para enxergar al- go de longe e se há falta de interes- se por objetos distantes. Já na escola, os educadores podem notar se o alu- no está com dificuldades no aprendi- zado, se há mudanças comportamen- tais, como falta de interesse no estu- do e troca de carteiras,chegando cada vez mais perto do quadro”, enumera Tiago Ribeiro, oftalmologista do Vi- são Hospital de Olhos. De acordo como especialista, as al- terações visuais mais comuns nesta fase são os erros refrativos: miopia, astigmatismo e hipermetropia. “O estrabismo é, também, um problema muito comum em crianças. É impor- tante destacar que essa doença apre- senta um grande risco de danos irre- versíveis à visão, se não tratada cor- retamente”, ressalta. Ribeiro explica que o diagnóstico de doenças oftalmológicas em crian- ças é muito complicado, já que elas não sabem identificar os sintomas e, por isso, não costumam reclamar. “A maioria das alterações oculares é identificada na consulta com o oftal- mologista. Desta forma, é fundamen- tal uma avaliação logo após o nasci- mento (o testedoolhinho) eoutra aos 6 meses de idade. A partir de então, a consulta é semestral até os dois anos e após essa fase as visitas são anuais. Claro que essa frequência pode mu- dar caso os exames detectem algum problema”, diz o médico. Miopia Na maioria das vezes, crianças com miopia não se queixam ou apenas se queixam da dificuldade para ver as coisas de longe. Uma criança mío- pe pode se aproximar de objetos pa- ra ver claramente. Mesmo já sabendo expressar o que sentem, as crianças, muitas vezes, não sabem que enxer- gam mal. Algumas delas só perce- bem o problema quando são alfabe- tizadas: ou porque não vêem a lousa direitoouporque sentemdores de ca- beça ao estudar. Antes disso, a crian- ça pode achar que enxergar embaça- do ou que não ver o que estámais lon- ge é normal. Os pais devem prestar atenção aos sinais de problemas que, geralmen- te, aparecem antes da alfabetização. Na sala de aula ou durante o horá- rio do recreio, os professores também podem observar sinais de que os alu- nos apresentam algum problema de visão e devem passar por uma con- sulta oftalmológica. Astigmatismo Os sintomas de astigmatismo mais comuns incluem ver as bordas de um objeto desfocadas, confusão de sím- bolos semelhantes como as letras H, M, N ou os números 8 e 0, não con- seguir enxergar corretamente linhas retas. Assim, quando se temalgumdestes sintomas é aconselhado ir no oftal- mologista para fazer o teste de visão, diagnosticar o astigmatismo e iniciar o tratamento, se necessário. Outros sintomas, como vista cansada ou dor de cabeça,podemsurgir quando o pa- ciente sofre de astigmatismo e outro problemadevisão,comohipermetro- pia ou miopia, por exemplo. SINTOMAS MAIS FREQÜENTES DE MALES NA VISÃO • A criança se queixa ou evidencia dificuldade para enxergar o quadro-negro na escola • O aluno escreve com letras tortas e grandes demais para a idade • Começa a ocorrer falta de atenção nas aulas • Quando vai escrever, a criança se aproxima muito do caderno • Ao assistir à TV, a criança quer ficar muito perto do aparelho • Esfregar o olho constantemente • Franzir a testa ao ler • Dores de cabeça e olhos vermelhos

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