Diversão & Arte [email protected] 14 Curitiba, terça-feira, 5 de fevereiro de 2019 ## ENTREVISTA Milton Nascimento fala sobre a turnê ‘Clube da Esquina’ Show passará por Curitiba no dia 1º de junho. Em entrevista, cantor fala sobre o que o público pode esperar Adriana Del Ré Ouvir as canções do ‘Clube da Es- quina’ nos transporta a universos elo- quentes, poéticos. Há uma série de es- tudos e teses sobre o tema que tenta decifrar essa admirável obra, construí- da a partir dos encontros de jovens mú- sicos nas esquinas do bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, na década de 1960. Milton Nascimento conheceu os irmãos Borges (Marilton, Márcio e Lô) no Edifício Levy. Da turma, faziam parte também Wagner Tiso, Fernando Brant, Beto Guedes, Flávio Venturini, e outros. Apesar das teorias bem ela- boradas, Milton prefere uma definição simples e afetiva sobre o ‘Clube da Es- quina’ - que ganhou status de ‘movi- mento’ na história da música brasilei- ra. “Foi um encontro de amigos”, diz o cantor e compositor, de 76 anos. Com as comemorações de 45 anos do álbum ‘Clube da Esquina’, de Milton e Lô (1972), em 2017, e de 40 anos do dis- co ‘Clube da Esquina 2’ (1978) no ano passado, surgiu a ideia de reviver essa obra no palco de uma maneira inédi- ta: reunindo as canções dos dois dis- cos. A turnê ‘Clube da Esquina’ estreia em Juiz de Fora, no dia 16 de março, e segue para outras cidades, incluindo Rio, Lisboa, Porto, Zurique, Paris, Ams- terdã e Madri. Em São Paulo, no Espa- ço das Américas, o primeiro show, no dia 27 de abril, já está com lotação es- gotada, e, para a data extra, no dia 28, há poucos ingressos. A aguardada tur- nê ‘Clube da Esquina’ de Milton Nasci- mento vai passar por Curitiba. O show será no dia 1º de junho e foi confirmado pelo próprio compositor no Instagram. No repertório, estão canções como ‘Clube da Esquina 2’, ‘O Trem Azul’, ‘Cais’, ‘Cravo e Canela’, ‘Maria, Ma- ria’ e ‘Nada Será Como Antes’, além da clássica ‘Para Lennon e McCartney’, ti- rada do disco solo Milton, de 1970 - e que dialoga com essa história. Aliás, foi com ‘Para Lennon e McCartney’ que Milton abriu seu showno sábado, 26, no Mineirão, como hino de amor a Minas após a tragédia em Brumadinho - e, nas redes sociais, ele replicou a frase: “Bru- madinho: Não foi desastre. Foi crime!”. Segundo a assessoria de Milton, a participação de outros integrantes do ‘Clube’ na turnê ainda não é confirma- da, mas pode haver alguma surpresa. Milton falou com o jornal ‘O Estado de S. Paulo’ por e-mail. A ideia de realizar um show do Clube da Esquina era algo que você relutava em fazer? Milton Nascimento — Não me lembro de ter pensando algo assim no sentido de relutar, isso acho que não. Até porque nós fizemos turnês dos dois discos (do Clube) na época de ambos os lançamen- tos. O que eu nunca tinha feito antes era uma turnê com o repertório dos dois discos, e é isso que vai acontecer neste novo projeto. Ele será todo dedicado ao repertório dos Clubes 1 e 2. E essa foi uma ideia do meu filho, Augusto Nasci- mento, que, além de meu empresário, é também o diretor artístico deste show, ao lado de Wilson Lopes, responsável pela direção musical. Você é saudosista? Pergunto isso no sentido de: quando você canta ou ouve as músicas do ‘Clube’, tem sau- dade daquela época, daquele encon- tro de amigos? Milton— Aquela época do ‘Clube’ foi de muita importância na minha vida. Mas posso dizer tranquilamente que o mo- mento atual aqui em Juiz de Fora, onde moro hoje em dia, além do meu convívio pessoal, familiar e também na estrada com o pessoal que trabalha comigo, é das melhores coisas que já me aconte- ceram. O repertório do show vai abranger os dois discos do ‘Clube’, mas, segundo você já adiantou, serão mais músicas do primeiro álbum? Por quê? Milton— Primeiro por conta do tempo do show, e depois pelo fato de que por ter sido o primeiro disco dessa fase, o ‘Clube 1’ talvez seja aquele que esteja com o repertório mais presente entre os pedidos dos fãs. E isso acontece em praticamente todos os nossos shows, e o lance que a gente mais gosta é deixar as pessoas felizes. Numa entrevista que fiz com Lô Bor- ges, ele se recordou com carinho de quando conheceu você em Belo Hori- zonte. Ele disse: “É coisa do destino: eu, com dois meses morando no cen- tro em BH, conheci o Milton e o Beto (Guedes), pessoas fundamentais na minha vida. No primeiro mês, conhe- ci o Milton na escadaria do prédio e Beto andando de patinete”. Qual a lembrança que você tem desse en- contro como os irmãos Borges? Milton — Tudo isso foi uma passagem natural da vida. Eu tinha que conhecer Marilton, depois o Marcinho, para aí sim mais tarde conhecer o Lô e toda família Borges. Uma das lembranças mais fortes que eu tenho desse tempo foi quando eu percebi que o Lô tinha crescido, a gente chegou num bar lá em BH e em vez de refrigerante ele pediu uma batida de li- mão (risos). Saímos dali e fizemos nossa primeira parceria, ‘Clube da Esquina 1’ (Milton/Lô e Márcio Borges). O ‘Clube da Esquina’ nasceu em meio à ditadura. Aquele cenário endure- cido no Brasil influenciou o surgi- mento da obra do Clube de alguma forma? Milton — O repertório do ‘Clube 1’ foi todo praticamente composto na praia de Mar Azul, Piratininga, Niterói (RJ). E a gente só decidiu sair um pouco da cidade do Rio depois que as coisas fo- ram ficando mais complicadas. Então, de certa forma, essa mudança aconteceu por conta disso também. A que você atribui o alto nível de qua- lidade do som do ‘Clube da Esquina’? E o quanto as influências (musicais, cinematográficas, etc.) que vocês car- regavam na época foram importan- tes na construção dessa identidade? Milton — O ‘Clube da Esquina’ foi um encontro de amigos que estava na hora certa e no lugar certo. E, principalmen- te, que sempre se cercou de pessoas que queriam dividir o melhor do mundo onde quer que fosse: amizade, música e amor, sempre. Para você, por que as músicas com- postas nessa época se perpetuam por gerações? Milton — Nunca gostei de analisar as coisas que a gente mesmo faz. Gosto mesmo é quando as pessoas me contam seus sentimentos. Isso pra mim é o mais importante. Divulgação

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