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[email protected] Saúde 17 Curitiba, segunda-feira, 8 de fevereiro de 2019 Depressão em idosos: peso da idade e o impacto social ## TERCEIRA IDADE Especialista em comportamento aponta a necessidade dos maiores de 60 anos manterem ativos socialmente e, na medida do possível, conservarem a independência Para muitas pessoas, os 60 anos marcam um ponto de transição na vida, seja positiva ou negativamen- te. Na maioria dos casos, o perfil dos novos 60+ revela pessoas que enca- ram a idade com mais disposição, sendo que 73,2% sente que são mais jovens do que a idade real. No entan- to, há uma pequena parcela que so- fre com “o peso da idade”, acaba se isolando devido a problemas físicos ou emocionais e é grupo de risco pa- ra o desenvolvimento de depressão em idosos. De fato, é menos comum encon- trar pessoas commais de 60 anos com diagnóstico do transtorno depressivo maior. A prevalência é de 3% a 6%. Mas, quando se observa os sintomas de depressão, a taxa aumenta entre 15% e 33%. “A idade em si não é um fator de risco para a incidência da depressão clínica, sendo menos fre- quente em idosos do que em popula- ções mais jovens. Entretanto, a iden- tificação de sintomas isolados ou as- sociados da síndrome depressiva são encontrados em alta frequência en- tre idosos”, afirma a psicóloga Sami- la Batistoni,mestre em gerontologia. Nessa etapa da vida, a depressão está mais associada a respostas somáticas do que à tristeza. A pesquisa O Brasil 60+, que traçou o perfil dos novos idosos (que rejei- tam essa nomenclatura), mostra que 13% deles são resistentes quanto à chegada dessa idade. Entre eles, pre- valecemos indiferentes,e a junção de ambos forma um grupo que seria de risco para o desenvolvimento de de- pressão em idosos. “É possível que esse perfil coinci- da, emgrande parte, comaqueles que manifestam insatisfação, baixa espe- rança, dores e fadiga nos questioná- rios de sintomatologia depressiva. É possível que já possuam baixas ex- pectativas futuras e inexistência ou ineficácia de recursos para enfrentar os eventos da vida”, diz Samila. A especialista cita que os estudos em psicologia do envelhecimento apontam a manutenção de um po- tencial adaptativo, presente princi- palmente nas fases iniciais da velhi- ce. Nesses casos, a pessoa pode usar recursos de resiliência desenvolvidos ao longo da vida. “Por exemplo: ou- tras metas ou propósitos de vida, ou- tros papéis ou funções sociais a serem desempenhados e que compensam outras mudanças ou perdas, maior foco no presente e estratégias de ma- ximização do bem-estar”, enumera. Apsicóloga faz uma distinção entre a depressão que ocorre pela primei- ra vez após os 60 anos e aquela que é a manifestação de quadros iniciados em fases anteriores da vida. “Quando a depressão é iniciada anteriormente, o que é recorrente, a depressão está associada ao reco- nhecimento da condição pelo pró- prio idoso, com sintomas de triste- za e anedonia [perda de satisfação, prazer]. A que se manifesta pela pri- meira vez na velhice tende a estar muito associada a alterações cere- brais ou cerebrovasculares ou mes- mo metabólicas. Há maior manifes- tação de irritabilidade e referência a dores e incômodos sem especifica- ção”, explica. Em ambos os casos, o tratamen- to para depressão é possível e se dá tanto por medicamentos quanto por psicoterapia. “O prognóstico da de- pressão na velhice também é pior do que em outras fases da vida, as- sociando-se com comorbidades, in- capacidades, maior uso de serviços médicos e mortalidade”, acrescenta a especialista. Umavidasocial ativa temsidopres- crita por profissionais e leigos como uma receitamágica do sucesso na ve- lhice. O fortalecimento das redes de suporte social são fontes importan- tes de apoio emocional, instrumental e informativo. Entretanto, o conceito de atividade, por si só, tem sido clas- sicamente rechaçado como estraté- gia para envelhecer bem.Estar ativo a qualquer custo, além de pouco moti- vador para os idosos, pode expô-los a baixo senso de eficácia, comparações sociais negativas, quedas ou estresse. Considerando os idosos em geral, há uma tendência à diminuição da participação social, principalmen- te naquelas que envolvem trocas so- ciais mais amplas, chamadas de dis- tais, que são geograficamente mais distantes e nas que exigemmaior es- forço físico ou precisam de energia. Estudos nacionais e internacionais apontam também um pouco de res- trição ematividades consideradas in- termediárias (como ir à igreja, festas, eventos) e maior manutenção de ati- vidades proximais (como fazer e rece- ber visitas emcasa e se comunicar por telefone). Neste último caso, a redu- ção está ligada à presença de depres- são ou queixas psicológicas de insa- tisfação com a vida A especialista afirma que os consi- derados “comportamentos típicos na velhice” não são da “velhice em si”. “Tendem a ser mais reflexos das con- dições ambientais aque eles estãoex- postos (como barreiras arquitetôni- cas, negligência, ausência de opor- tunidades e, até mesmo, excesso de ajuda comportamental) ou da mani- festação de doenças que se apresen- tam no contexto da velhice”, diz. Contudo, todas as manifestações que diferem grandemente dos in- teresses e funcionalidade do idoso, principalmente que trazem prejuí- zos funcionais e sofrimento emocio- nal, são dignas de atenção e avalia- ção. Esquecimentos que prejudicam o funcionamento diário, dificuldades de aproveitar recursos do ambiente para o enfrentar uma situação, qua- dros de apatia e falta de prazer no en- volvimento em atividades que sem- pre se gostou de realizar são sinais de depressão importantes e que cau- sam sofrimento. S aúde em foco *Dr. Marco Lipay Todo homem precisa saber um pouco mais sobre testosterona A preocupação sobre a necessidade de reposição hormonal é um tema universal e recorrente em nossos dias. Os exemplos são da Associação Americana de Urologia (AUA) – 2018 - e da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) – 2017 -, que publicaram normas e recomendações para boas práticas no uso da testos- terona. Ambas preconizam o diagnóstico e tratamento de repo- sição de testosterona de forma eficaz e segura. Nos Estados Unidos, a AUA fez uma revisão sistemática e crite- riosa a partir de pesquisas de artigos científicos publicados no período de 1980 a 2017, que rendeu 15.217 referências e en- volveu aproximadamente 350.000 homens. Dessa análise, fi- cou evidenciado que os testes de testosterona e prescrições quase triplicaram nos últimos anos. Muitos homens estão usan- do testosterona sem uma indicação clínica precisa. Alguns es- tudos estimam que até 25% dos homens que recebem terapia com testosterona não têm testosterona testada antes do iní- cio do tratamento. Dos homens que são tratados com testoste- rona, quase metade não tem seus níveis de testosterona verifi- cados após o início da terapia. Estima-se que até um terço dos homens que são colocados em terapia com testosterona não atendem aos critérios para serem diagnosticados como defi- cientes em testosterona. Os sinais e sintomas do Distúrbio Androgênico do Envelheci- mento Masculino (DAEM) podem ser sexuais e não sexuais, co- mo diminuição ou perda de libido (perda do interesse sexual); disfunção erétil; ereções matinais menos frequentes e de me- nor qualidade; obesidade abdominal; baixa densidade mineral óssea; depressão; fadiga; perda de pelos corporais; redução da sensação de vitalidade ou de bem-estar; anemia; presença de níveis alterados de colesterol, triglicérides e glicemia. O declínio da função gonodal é parte do processo normal de envelhecimento masculino. Estima-se que os níveis de testos- terona em homens com mais de 40 anos diminuam a uma ta- xa de 1% ao ano. O diagnóstico do DAEM requer a presen- ça de sinais e sintomas característicos em combinação com ní- veis baixos de testosterona. Para isso, deve-se realizar a coleta da amostra de sangue para dosagem da testosterona pela ma- nhã e são necessárias pelo menos duas dosagens em dias dife- rentes, quando a primeira dosagem for baixa. Quando se faz o diagnóstico de hipogonadismo (baixos níveis de testosterona), os níveis séricos de hormônios luteinizantes e prolactina de- vem ser medidos. Vale ressaltar que, recentemente, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) emitiu nota apoiando a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), reforçando a publicação do Conselho Federal de Medicina (CFM), que não reconhece a especialidade intitulada “Modulação Hormonal”. Esse posiciona- mento vem ao encontro da Resolução do CFM, segundo a qual a reposição de deficiências de hormônios e de outros elemen- tos essenciais se fará somente em caso de deficiência especí- fica comprovada e que tenha benefícios cientificamente com- provados. Portanto, a reposição hormonal é um ato médico e somente pode ser feita por profissionais médicos, preferencial- mente um especialista. *Marco Aurélio Lipay é doutor em Cirurgia (Urologia) pela UNIFESP, titular em Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia, membro Correspondente da Associação Americana de Urologia e autor do Livro Genética Oncológica Aplicada a Urologia

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