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Diversão & Arte [email protected] 15 Curitiba, segunda-feira, 11 de março de 2019 Preparem-se! Paul McCartney promete 48 músicas em show ## ELE SE APRESENTA NO DIA 30 EM CURITIBA Ex-Beatle diz que vai tocar pouca coisa do novo disco e vai priorizar as músicas dos tempos dos Beatles Julio Maria As peças são praticamente asmes- mas, misturadas de outra forma. E assim segue Paul McCartney, de 76 anos, cheio de energia, reembara- lhando as cartas que ele e os Beatles começarama colocar no tabuleiro há mais de 50 anos, criando turnê atrás de turnê. ‘Freshen Up Tour’ é outra delas a voltar ao Brasil, a nona via- gem de Paul a um dos países em que mais se apresenta no mundo A ban- da, vale lembrar, está a seu lado há 15 anos, mais tempo do que existên- ciadosBeatles.Umaespéciedegrupo que se comporta como se fosse uma família, com Paul ‘Wix’ Wickens (te- clados), Brian Ray (baixo/guitarra), Rusty Anderson (guitarra) e, este um monstro, Abe Laboriel Jr (bateria). O repertório que vem sendo apre- sentado mostra a predominância da fase Beatles, seguida por uma pre- sença forte dos Wings, sua banda pós-Beatles, e materiais de fases so- los. Do disco novo, duas ou três can- ções. O que tem feito, em geral, são ‘Fuh You’, a segunda depois da aber- tura de ‘Hey Jude’, e ‘Who Cares’ bem no meio da noite. ‘Hey Jude’ na abertura já seria uma revolução no conceito que ele vem mostrando nas últimas turnês. Co- meçar um show com a catarse faz perguntar o que viria depois. Só Paul emais dois ou trêsmortais poderiam fazer omesmo.Nomais,se nadamu- dar (algo que sempre acontece), será outro baile Beatles que oAllianz Par- que vai receber nos dias 26 e 27 de março e no Couto Pereira, em Curi- tiba, no dia 30 de março. A Curitiba, Paul volta pela primei- ra vez desde 1993, quando fez uma apresentação na Pedreira Paulo Le- minski comemorando os 300 anos da cidade.Os números de Paul no Brasil impressionam. Ao todo, foram mais de 1,5milhãode ingressos,incluindo seu histórico show no Maracanã, no Rio de Janeiro, em1990. É desta épo- ca o recorde mundial para maior pú- blicoemestádiosde todosos tempos. Paul foi visto ali por 184mil pessoas. Serãoao todo48músicas emquase três horas de show.Emuma entrevis- ta para Zeca Camargo, no Fantástico dos anos 1990, Paul contou que não bebia água no palco por uma questão de costume. “Não havia tempo. Nin- guém bebia água no palco naqueles anos.” Ele brincou, gesticulando co- mo se cantasse She Loves You e pa- rasse para beber água. Assim, segue atéhoje.Emumtextoqueenviaà im- prensa do País, diz o seguinte: “Eu não posso esperar para voltar aoBra- sil. O público é sempre incrível,mui- to especial. Nós renovamos o show desde nossa última visita e estamos animados para apresentar algumas de nossas novas músicas do novo ál- bum, bemcomo asmúsicas que sem- pre amamos tocar...”. Não é certo, como disse em entre- vista ao jornal ‘O Estado de S Pau- lo’, que tocará ‘Back in Brazil’ no Brasil. “Precisamos aprendê-la” ele diz, e não brinca. Uma coisa é gravar uma canção, outra é prepará-la para o show. Não é das melhores músicas de Paul, nem dos destaques do disco novo, e sua pegada não parece em- polgar grandes plateias. Mas a sen- sação deve ser como a dos russos ou- vindo ‘Back in the USSR’ emMoscou. Paul McCartney parece já ter co- locado todo, ou quase todo, o reper- tório da banda debaixo dos dedos de seus músicos. Os shows sempre ga- nham alterações pontuais e surpre- sas. Curioso como agora, depois de abrir com‘Hey Jude’, ele temposicio- nado ‘The End’, a música que fecha- va a turnê anterior, ainda na primei- raparte,por voltada23ª colocação.A última já chegou a ser ‘Get Back’ em uma apresentação do final de 2018. Seria o homem mais assediado do mundo um solitário, fazendo de seu palco a compensação com uma mul- tidão à sua frente? Seria a banda que formou há 15 anos, seguindo-o por turnês consecutivas, a tentativa de vencer um fim nunca bem digerido por ele? As duas perguntas filosófi- cas feitas para jogá-lo no divã não ti- veram o retorno esperado. Paul não parece ter crises existenciais. A res- posta da primeira: “Não, eu não me sintosolitário,nunca.Euestoumuito bem casado, tenho uma linda esposa (Nancy Shevell), muitos amigos, te- nho família, lindos netos, os fãs. Não sou um homem solitário”. À segunda, sobre um possível ape- go eterno aos Beatles para compen- sar seu fim precoce, ele diz apenas que ama o palco e que não pensa ja- mais em decretar aposentadoria. A história e os fãs agradecem. Asequência de shows parece cansativa para um senhor que, embora teorias sustentem o contrá- rio, se trata de um ser humano. "O que explica is- so, Paul?Aos 76 anos, amigos seus já estão emca- sa brincando com os netos. Não seria por dinhei- ro, certo?" Segundo o jornal ‘The Sunday Times’, Paul segue sendo o artistamais rico doReinoUni- do, com 780 milhões de euros, algo como R$ 3,2 bilhões. “Não, não é pelo dinheiro”, ele sorri. "Sa- be, eu gosto das grandes plateias, estar comos fãs pelomundome dá energia,e ainda consigopassar um bom tempo com meus netos. É possível viver as duas coisas. Se eu fosse um pintor, gostaria de continuar pintando por toda a vida.Você está cer- to, eu não tenho que fazer isso o tempo todo,mas é só o que eu sei fazer desde garoto." O mundo parece dividido hoje entre esquer- da e direita, como se nenhuma ideia pudesse se encaixar em outra definição. O rock n’ roll já foi acusado dos dois: direita, alienando os jovens, e esquerda, tornando-os rebeldes. Os Beatles eram de esquerda ou direita? Paul — É uma pergunta difícil, mas acredito que os dois. Eu não acho que nos tempos de Beatles fazíamos distinção entre direita e esquerda, não era nosso interesse assumir uma ideologia. Está- vamos mais preocupados em sermos sensíveis. Se lutar pelos direitos humanos é ser de esquerda, então digam que éramos de esquerda. Se fazer músicas que falavamde amor e de família era algo de direita, podem dizer que éramos de direita. Seu disco mais recente, ‘Egypt Station’, traz uma história que se passa no Brasil na músi- ca ‘Back in Brazil’. Uma parte soa como crítica social quando diz que a garota sente medo e que “a esperança começa a desmoronar e seus sonhos, a desaparecer”. Você quis dizer algo? Paul — Essa música narra uma história de amor, como se fosse um filme, e não pensei em outra coisa quando a fiz. Mas gosto quando a canção abre portas para outras interpretações. Pode le- var isso para esse entendimento, acho ótimo. Vai tocá-la no Brasil? Paul — Estamos ensaiando, não sei se teremos tempo de aprendê-la até lá. Espero que sim. Paul, qual seria a sua banda dos sonhos? Não vale colocar ninguém dos Beatles, Ok? Paul — Ah, ok, deixe-me ver. Na bateria: John Bonham (baterista do Led Zeppelin, morto em 1982). Nos teclados... Billy Preston (músico que toca órgão em‘Let It Be’,morto em2006). No bai- xo (faz silêncio): John Entwistle (baixista do The Who, morto em 2002). Na guitarra, Jimi Hendrix (morto em 1970). E no vocal, Elvis Presley (se- gundo Paul, o imortal). Paul, você tem uma música no disco novo, ‘Despite Repetead Warnings’, que fala de um capitão de um navio que, sem se preocupar com as advertências do aquecimento global, caminha para o fim com sua tripulação. O presidente do Brasil, neste momento, é um capitão com inspirações em Donald Trump, o homem a quem você dedicou sua música. Paul — Eu não sei o suficiente sobre seu novo presidente para fazer comentários, mas, geral- mente, olhando para o mundo, há um infortú- nio no ar. Muitas pessoas estão assustadas, com medo, e uma grande preocupação nas Américas e na Europa tem relação com a questão dos imi- grantes e dos refugiados. Émuito fácil dizer: "Hey, eles vão roubar nossos empregos". Mas, se você olhar para os Estados Unidos, verá que todos ali são imigrantes. Eu vejo nações sendo construídas com pensamentos de antissemitismo e políticas anti-imigratórias. Não posso falar do Brasil, mas vejo a ascensão de políticos que causammedo. Roger Waters foi vaiado no palco ao falar so- bre suas convicções políticas e uma questão apareceu ali. O que vale? Estar ao lado dos fãs que pagam para vê-lo ou ao lado do que você acredita ser a verdade? Paul — Sempre ao lado do que você acredita. A situação política em muitos países está difícil, e aqui no Reino Unido não é diferente. Estamos passando por grandes mudanças na América, Itá- lia, França. É tempo de falarmos a verdade. O fim dos Beatles foi precoce ou eles acaba- ram no tempo em que tinham de acabar? Paul — Os Beatles foramuma grande banda e po- deriam muito bem estar tocando agora. Infeliz- mente, houve um fim. Aquela foi a melhor banda do mundo e eu tenho certeza de que, se estives- sem todos vivos, estaríamos na estrada ate hoje. Um dia, Paul. Se tivesse de escolher apenas um para viver de novo, qual seria ele? Paul — Hoje. Eu sou um homem feliz. E no final, o que é que fica? O avô que curte os netos nos feriados ou o artista que canta ‘Hey Jude’ para 80 mil pessoas? Paul — Eles são o mesmo homem. No final o que fica é o amor. ‘Eu gosto das grandes plateias’

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