10 Cidades Curitiba, terça-feira, 26 de março de 2019 [email protected] ## DIVERSIFICADOS Sebos: uma paixão que vai além dos livros e revistas usados Estabelecimentos de Curitiba unem força e ampliam leque de produtos para sobreviver na era digital Rodolfo Luis Kowalski Numa década marcada por especulações no mundo do livro, com o fechamento de grandes redes livreiras Bra- sil afora nos últimos anos, os tradicionais sebos, um dos lugares mais familiares para os apaixonados pela leitura, sobrevivem. Na contramão da era digital, esses estabele- cimentos se apoiam no apelo ao tradicional, na paixão pe- lo livro físico, para resistir aos maus agouros. Além disso, também trataram de diversificar o leque de produtos ofer- tados e uniram forças. Há poucos anos, a maioria dos alfarrábios (outro nome pelos quais são conhecidos os sebos) se limitavam a ven- der livros, gibis e revistas. Com o tempo, a música e o ci- nema passaram a dividir o espaço com as letras, com o co- mércio de CDs, discos de vinil e DVDs. Mais recentemente, apostas mais ousadas foram feitas. Localizada no Largo da Ordem (Rua São Francisco, nú- mero 308), a Sebomania Toys é um exemplo dessa diver- sificação de produtos. Desde 2000 trabalhando com livros usados, a loja passou a vender em 2010 brinquedos, focan- do no apelo ao nostálgico e ao colecionismo. Deu tão cer- to que a parte “toys” é responsável por metade do fatura- mento mensal da empresa. “A parte de brinquedos hoje é o nosso carro-chefe e o di- ferencial. O colecionismo é muito forte no setor e o mate- rial que temos foge do que se encontra nessas lojas tradi- cionais, contando com um forte apelo nostálgico”, comen- ta Adriano Flausino, proprietário da Sebomania Toys.“Com a entrada da internet, livros digitais, se não abrir o leque, trabalhar com outros materiais, vai ficar complicado. Pia- zada é tecnologia”, emenda. Para o futuro, ele pretende apostar na parte de bebidas, montando um buffet de sorvetes dentro da loja. “O ponto fa- vorece isso”, explica o empresário, que não pretende deixar os livros de lado. “Minha aposta para o futuro é trabalhar só com clássicos, como Dostoiévski, e obras especializadas.” Já no Sebo Kapricho, que conta com duas lojas em Curi- tiba (ambas na região central), a literatura ainda é o carro- -chefe dos negócios. CDs e discos de vinil também têm boa procura, seguidos pelas histórias em quadrinhos (HQs). “O que está mais devagar é DVD”, aponta Simone Campos de Oliveira, gerente comercial da empresa. De acordo com ela, após alguns anos de aperto por conta da crise econômica, que corroeu o poder de compra da popu- lação, o setor começa a dar sinais de recuperação em 2019. “Ano passado enxugamos o número de funcionários para po- der continuar,foi umanomais difícil.Mas sentimos que come- çou a dar uma reagida, tanto na loja física como na virtual. E já sentimos essa melhora desde o começo do ano”, diz Simone. Vida longa ou vida curta? Empresários divergem Questionados sobre o futu- ro dos sebos, Adriano Flausi- no, da Sebomania Toys, e Simo- ne Campos de Oliveira, da Sebo Kapricho, apresentamopiniões divergentes. Para ele, a tendên- cia é que o mercado de livros usados acabe sendo atropelado por conta da era digital, dos li- vros digitais. Ela, por sua vez, aposta em vida longa ao setor, apoiando-se na paixão dos lei- tores pelo livro físico. “Acho que vão ter poucos se- bos (no futuro próximo), com umgrande volume de livros pa- ra os clientes que gostam de li- vro físico,oquedeve cairmuito. Acredito que Curitiba vai per- der muitos sebos nos próximos anos”, opina Flausino. Já Simone acredita que o se- tor resistirá ao mundo digital. “Eu vejo vida longa. O sebo tem aquele contato com o papel, o garimpo, vemos também pais trazendo os filhos para passar o dia com a gente... O livro em si vai longe emuita gente ainda não consegue se adaptar a es- sa modernidade, acham cansa- tivo (livros digitais) egostamde ter o livro (físico), poder fazer marcações...” “Não somos concorrentes. Somos todos colegas”, diz idealizador de guia Recentemente, os sebos de Curitiba re- solveram se unir para incentivar nos curi- tibanos a paixão pelo garimpo. Numa ini- ciativa idealizada por Adriano Flausino e apoiada por pelo menos 22 sebos ou edi- toras, foi criado o Guia dos Sebos, dispo- nível gratuitamente nos principais estabe- lecimentos da cidade e que ainda traz um mapa mostrando a localização de cada um deles. “O guia foi ideia minha. Se o clien- te vai nos sebos, tem esse guia gratuito e pode fazer a pesquisa (de onde estão os sebos). Vem mapa junto, bem prático para ele (cliente) poder pesquisar”, diz Flausino. “Não somos concorrentes. So- mos todos colegas”, complementa. Franklin de Freitas Não são apenas livros: para sobreviver, sebos comercializam até brinquedos vintage

RkJQdWJsaXNoZXIy NDU2OA==