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Diversão & Arte 10 Curitiba, terça-feira, 7 de julho de 2020 [email protected] Músico escreveu o próprio obituário em Roma EnnioMorricone escreveu o próprio obituário, segun- do revelou seu advogado e amigo Giorgio Assuma para a imprensa italiana. Segun- do ele, o compositor queria escrever sobre si e sua mor- te em primeira pessoa. No texto, Morricone se despede de sua esposa, Maria Travia (com quem era casado des- de 1956), de seus filhos, ne - tos, amigos e do diretor de cinema Giuseppe Tornato- re, com quem trabalhou em vários filmes. “Ennio Morricone es- tá morto. Anuncio a todos os amigos que sempre es- tiveram próximos de mim e também aos que estão um pouco distantes e os saúdo com muito carinho. Impossível nomear a to- dos. Mas uma lembrança especial vai para Peppuc- cio e Roberta, amigos fra- ternos muito presentes nos últimos anos de nossa vi- da. Há apenas uma razão que me leva a cumprimen- tar todos assim e a ter um funeral privado: não quero incomodá-los. Saúdo calorosamente Inês, Laura, Sara, Enzo e Norbert por terem compartilhado grande parte da minha vida comigo e com minha famí - lia. Quero lembrar com cari- nho as minhas irmãs Adria - na,Maria,Francaeseusentes queridos e que elas saibam o quanto eu as amava. Uma saudação comple- ta, intensa e profunda aos meus filhos Marco, Ales - sandra, Andrea, Giovanni, minha nora Monica e aos meus netos Francesca, Va- lentina, Francesco e Luca. Espero que eles entendam o quanto eu os amava. Por último mas não me- nos importante (Maria). Re- novo a você o extraordinário amor que nos uniu e que la- mento abandonar. Para vo- cê, o adeus mais doloroso.” ## LUTO NA MÚSICA ‘Ciao’ para Ennio Morricone Compositor italiano que assinou 520 trabalhos em trilhas sonoras e virou um “imperador” morreu ontem Lycio Vellozo Ribas “Ennio, Ennio, Ennio. Ciao, Grazie”. Assim o mundo do cinema se manifestou no dia de ontem, diante de uma notícia triste: O compositor italiano Ennio Mor- ricone, de 91 anos, havia morrido em Roma. “Ennio Morricone morreu em 6 de ju - lho, consolado pela fé. Ele permaneceu “totalmente lúcido e com grande dignidade até o último momento”, disse ontem o advogado e amigo da família Giorgio Assu- ma em comunicado citado pela imprensa. Aos 91 anos, Morricone estava bem de saúde até alguns dias atrás. Em 5 de junho, ele foi anunciado o vencedor, ao lado do também com - positor John Williams, com o prêmio Princesa das Astúrias das Artes na Espanha, e compareceu à premiação. Contudo, há al - guns dias sofreuumacidente doméstico e fraturou o fêmur.Foi internado em uma clínica em Roma. Piorou. E não resistiu. Morricone é um dos intocáveis no panteão dos grandes músicos do cinema. Não só pelo trabalho prolífico – 520 tri - lhas para todos os tipos de filmes, segundo o site IMDB –, mas tambémpela relevância.Milhões de pessoas conhecem ou sabem cantarolar temas de filmes que eventualmente nem viram, como o assovio de ‘Três Homens em Conflito’ (1966), ou o solo de oboé de ‘A Missão’ (1986). O músico nasceu em Roma em 10 de dezembro de 1928 em Roma e começou a compor aos 6 anos. Aos 10, foi matriculado emum curso de trompete da Aca - demia Nacional Santa Cecília de Roma. Também es- tudou composição, orquestra e órgão. Em 1961, aos 33 anos, estreou no cinema com a música de ‘O Fas- cista’, de Luciano Salce.Nos anos 60, ganhou fama com as trilhas sonoras de westerns-spaghetti, como ‘Por um Punhado de Dólares’ (1964),‘Por uns Dólares aMais’ (1965), ‘Três Homens emConflito’ (1966) e ‘Era uma Vez no Oeste’ (1968). O gênero ajudou a consagrar o ator Clint Eastwood e o diretor Sergio Leone. Esses trabalhos o levaram a ser conhecido na Europa como o “Imperador das bandas sonoras”. Alguns dos trabalhos mais revelantes do músico, contudo, ocor - reram nos anos 80. O primeiro deles foi ‘Era Uma Vez na Amé - rica’ (1984), em nova parceria com Sergio Leone. A partitura é uma das composições mais desafiadoras, complexas e impor - tantes de sua carreira. Em 1986, fez ‘A Missão’ de Roland Joffé. Para o tema principal, inspirou-se ao ver o ator Jeremy Irons dedilhando o oboé. O tema até ganhou letra, virou ‘Nella Fan - tasia’ e foi gravado com a voz angelical de Sarah Brightman. Com ‘A Missão’, Morricone era o favorito ao Oscar – que seria seu primeiro –, mas perdeu para ‘Por Volta da Meia-Noite’, de Herbie Hancock. Em 1987, assinou a trilha de ‘Os Intocáveis’, de Brian de Palma, que mistura suspense e jazz e leva o públi - co à atmosfera da cidade de Chicago dos anos 1930. Em 1988, compôs a música de ‘Cinema Paradiso’, repleta de delicadeza e nostalgia, que ajudou Giuseppe Tornatore a conquistar o Os - car de Melhor Filme Estrangeiro. Apesar de tudo,Morricone demoroupara ser consagradopela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Em2007, recebeu umOscar honorário por sua abundante e elo - giada carreira musical. Na ocasião, dedicou o prêmio à espo - sa Maria Travia, com quem era casado desde 1956 e conside- rava sua melhor crítica. Morricone só ganhou um Oscar mes - mo em 2016, já aos 87 anos, com a trilha de ‘Os Oito Odiados’, de Quentin Tarantino. Antes, havia sido indicado (e preteri - do) por ‘Cinzas no Paraíso’ (1978), ‘A Missão’ (1986), ‘Os Into - cáveis’ (1987), ‘Bugsy’ (1991) e ‘Malenà’ (1999). “O maior pre - sente que eu ganhei fazendo esses filmes foi a amizade do ma - estro Morricone”, disse Tarantino, que afirma ter mais álbuns de música do italiano do que de Mozart ou Beethoven. Afinal, ninguém é chamado de “imperador” à toa. TRINTA TRILHAS FAMOSAS DE ENNIO MORRICONE 1964: ‘Por um Punhado de Dólares’, de Sergio Leone 1965: ‘Por uns Dólares a Mais’, de Sergio Leone 1966: ‘Três Homens em Con- flito’, de Sergio Leone 1966: ‘A Batalha de Argel’, de Gillo Pontecorvo 1968: ‘Era uma Vez no Oes- te’, de Sergio Leone 1969: ‘Os Sicilianos’, de Hen - ri Verneuil 1970: ‘O Pássaro das Plumas de Cristal’, de Dario Argento 1971: ‘Quando Explode a Vingança’, de Sergio Leone 1971: ‘Decameron’, de Pier Paolo Pasolini 1971: ‘A Classe Operária vai para o Paraíso’, de Elio Petri 1971: ‘Sacco e Vanzetti’, de Guiliano Montaldo 1974: ‘Medo sobre a Cidade’, de Henri Verneuil 1975: ‘Saló ou os 120 Dias de Sodoma’, de Pier Pasolini 1976: ‘1900’, de Bernardo Bertolucci 1978: ‘Cinzas no Paraíso’, de Terrence Malick 1978: ‘A Gaiola das Loucas’, de Edouard Molinaro 1981: ‘O Profissional’, de Ge - orges Lautner 1984: ‘Era uma Vez na Amé- rica’, de Sergio Leone 1986: ‘A Missão’, de Roland Joffé 1987: ‘Os Intocáveis’, de Brian de Palma 1987: ‘Busca Frenética’, de Roman Polanski 1989: ‘Cinema Paradiso’, de Giuseppe Tornatore 1989: ‘Ata-me!’, de Pedro Almodóvar 1989: ‘Pecados de Guerra’, de Brian de Palma 1991: ‘Bugsy’, de Barry Levinson 1992: ‘A Cidade da Esperan- ça’, de Roland Joffé 1998: ‘A Lenda do Pianista do Mar’, de G. Tornatore 2000: ‘Vatel, um Banquete para o Rei’, de Roland Joffé 2000: ‘Missão: Marte’, de Brian de Palma 2015: ‘Os Oito Odiados’, de Quentin Tarantino Ennio Morricone e o Oscar que ganhou em 2016, com a trilha de ‘Os Oito Odiados’: um dos intocáveis na música de cinema

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