[email protected] 3 Curitiba, sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021 Cidades No ‘novo normal’, não tem Carnaval. E Curitiba sai perdendo com isso ## SEM FOLIA, COM PREJUÍZO Sem a folia, cidade perde por não realizar eventos e deixa de receber um grande número de turistas. Resumindo: dinheiro que não entra Rodolfo Luis Kowalski No “novo normal”, não tem Carnaval.Pelomenosnãocomoa genteconheceafestacarnavales- ca, com os blocos na rua, música quase incessante (enãosóosam- ba, no caso curitibano), os foliões dançando e muita transpiração. E com a folia fechando o primei- ro ciclo de grandes feriados e da- tas comemorativas impactos pe- la crise do novo coronavírus (a próxima data será a Páscoa, que no ano passado já foi celebrada em meio à pandemia), o prejuí- zo deve ser grande para Curitiba. E não só no âmbito cultural, mas também no econômico. No ano passado, por exemplo, o Carnaval injetou cerca de R$ 8 bilhões na economia brasileira, conforme estimativa da Confe- deração Nacional do Comércio. Em termos de empregos tempo- rários,aestimativagiravanacasa dos 25,4 mil trabalhadores, para atender a uma demanda de pelo menos 36 milhões de brasileiros e turistas que pretendiam pular carnaval de Norte a Sul do Brasil. “A ausência do Carnaval será sentida inevitavelmente por to- dos os brasileiros, principalmen- te para os setores e pessoas que trabalham diretamente com as festividades. Turismo, hotelaria, gastronomia, serviços de trans- portes e autônomos serão os mais impactados.Para parte des- sesprofissionaisocarnaval é fon - te de renda para o ano todo. Para outros, é maneira de formar uma reserva financeira para cobrir os gastos ao longo ano. Isso vai im- pactar diretamente na renda de uma boa parte dos brasileiros”, diz Hugo Meza Pinto, economis- ta e professor da Estácio Curitiba Na opinião do professor, a so- ciedade vai se dar conta da im- portância desta data, não pela ausência da folia em si, mas pe- lo que ela representa na econo- mia.“É bem provável que discur- sos usados nos últimos anos de queoCarnaval nãodeveria ter in- centivopúblicoouprivadodeque seacabassenão teria impactone- nhum, cairá por terra, pois 2021 será o ano em que veremos na prática a ausência dos impactos positivosdeumadasmaiores fes- tas culturais mundiais”, destaca. Sem motivos para festejar Após 20 anos acontecendo de forma ininterrupta, o Psycho Carnival será um dos eventos que Curitiba deixará de receber em 2021. A cada edição, segundo Vladimir Urban, criador do festi- val, são entre 30 e 40 bandas par- ticipandoeumpúblicodeaproxi- madamente 7mil pessoas duran- te todos os dias de evento, sendo queumagrandepartedessaspes- soas (metade do público,pratica- mente) é gente de fora da cidade. “Você tem um rio de gente que vem de outras cidades, que vai gastar em hospedagem, alimen- tação, bebida, gasta para chegar aqui em avião, carro ônibus. En- tão é muita coisa que deixa de se arrecadar”,afirmaUrban.“Quan - do começamos o festival lá atrás, em2000, os hotéis da região cen- tral ficavam vazios. Agora, com o Psycho Carnival e outros even- tos acontecendo em Curitiba, essa época do ano tem bastante gentevindoparaa cidade.É,real- mente, um impacto muito gran- de [a não realização dos eventos carnavalesco”, aponta omúsico e produtor cultural. Ainda segundo Urban, já no ano passado a organização do Psycho começou a perceber que não teria como realizar a festaem 2021, tendo em vista a postura negacionista do governo federal no enfrentamento da pandemia. Quanto à possibilidade de reali - zar o evento ainda neste ano, em outra data, ele se mostra cético. “Muito difícil, pelo ritmo da vacinação e pela própria postu- ra dos governos. Eu espero que alguma coisa aconteça, alguma mudança, para em 2022 a gen- te ter o Carnaval”, afirma o artis - ta. “É óbvio que está todo mundo numa situação complicada de fi - car em casa, reduziram todas as atividades sociais, e muitas ve- zes parece que um evento como o Psycho seria sensacional para a gente ter um pouquinho da vida socialqueperdemosanopassado. Mas Carnaval é um momento de festa também.Nahoraemquevai festejar, temque ter alguma coisa parafestejar.Agenteestánomeio deumapandemia,achomuitodi- fícil ter motivos para festejar.” Mais da metade da hotelaria acaba afetada Sem Carnaval, um dos setores mais impactados noBrasil seráo dahospedagem.Segundo levan- tamento da Federação Brasilei- ra de Hospedagem e Alimenta- ção (FBHA), apenas no âmbi- to da hotelaria e similares, 58% dos empresários avaliam que terão menos de 50% de ocupa- ção durante a semana do feria- do. Por outro lado, 32% acredi- tam que conseguirão ocupar de 50% a 70% da hospedagem lo- cal; e apenas 10% esperam uma movimentação de 70% a 90%. “Nos principais destinos tu- rísticos, onde o carnaval é re- conhecido nacionalmente, não teremos os famosos desfiles e blocos de rua. Além disso, mui- tas capitais também optaram por cancelar o ponto facultati- vo nas datas destinadas à folia. O agravamento da situação sa- nitária inviabiliza a realização do evento”, informa Alexandre Sampaio, presidente da FBHA. Para Sampaio, enquanto a va- cina não estiver disponível em grande escala para a popula- ção, a tendência é de que outras grandes comemorações sofram igualmente com cancelamen- tos, o que impactará toda a ca- deia produtiva do setor. Apenas no ano passado, o turismo teve uma perda de 437,9 mil postos formais de trabalho, com uma redução de 12,5% de força de trabalho. O segmento de hospe- dagem respondeu por 65,4 mil dessas vagas. Para 2021, não há expectati- va de melhora na situação, ten- doemvista que 90%dahotelaria e similares não pretendem rea- lizar contratações temporárias durante o Carnaval. Em meio à pandemia, nasce uma escola de samba Mesmo em plena pande- mia, o Carnaval de Curitiba ganhou mais um novo e im- portante ator para os próxi- mos anos. Fundado em 20 de novembrode2020,aEscolade Samba Deixa Falar, comas co- res dourado, branco e grená e cujo nome homenageia a pri- meira escola de samba do pa- ís,fundada em12 de agostode 1928 e batizada pelo poeta Is- mael Silva. Sem a possibilidade de des- filar neste anoe tambémsema realizaçãodos tradicionaisen- saios abertos,que ajudavamas diversas escolas de samba da cidade a juntar fundos para se manter durante o ano, a no- vata curitibana tem se vira- do com o comércio de produ- tos como camisetas e copos. Além disso, no próximo dia 20 promoverá uma FeijoadaDeli- very, cujas vendas estão no se- gundo lote ao custo de R$ 35 (individual), R$ 55 (kit duas pessoas) e R$ 67 (kit três pes- soas). Para mais informações, entre em contato pelo telefo- ne (41) 99977-4234. Curitiba é ‘destino tendência’ para viagens domésticas Presidente do InstitutoMu- nicipal de Turismo, Tatiane Turra comenta que a capital paranaensenão terá,em2021, os mesmos resultados que vi- nha apresentando em anos recentes no Carnaval. “O se- tor [do turismo] foi muito im- pactado com a pandemia e as perspectivas ainda sãode uma retomada gradativa,mas mais animadora com a chegada da vacina”, comenta a gestora. Ainda segundo ela, a espe- rança é que o fato de Curiti- ba estar sendo apontada como destino tendência para via- gens domésticas ajude a mi- nimizar os impactos da não realização da tradicional fo- lia. “Não podemos deixar de enaltecer que recentemente a cidade foi apontadacomodes- tino tendência para as viagens domésticas, justamente, por proporcionar inúmeras ativi- dades ao ar livre e transmitir segurança com os protocolos adotados nos ambientes cul- turais e gastronômicos.” A Avenida Marechal Deodoro, que normalmente é o palco dos desfiles de Carnaval: vazia Franklin de Freitas