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[email protected] Cidades 3 Curitiba, segunda-feira, 20 de setembro de 2021 No “novo normal”, empreendimento pretende resgatar os funerais, que na pandemia se modificaram Pandemia transforma despedidas e Curitiba inaugura o primeiro memorial # VELÓRIOS E FUNERAIS Espaço criado na Capital é inédito no país e permite a personalização de cerimônias fúnebres, uma tendência no mundo Rodolfo Luis Kowalski A pandemia do novo coronavírus, você já sabe, provocou mudanças profundas na ro- tina das pessoas. O uso de máscara e a ne- cessidade de distanciamento social são, pro- vavelmente, as faces mais evidentes dessas mudanças, mas estão longe de ser as úni- cas. No setor funerário, por exemplo, o pro- cesso de luto passou por uma transforma- ção profunda, com as despedidas póstumas ganhando novos rituais, que envolvem até transmissões online para familiares e ami- gos distantes. Em Curitiba, um prédio erguido na Aveni- da Kennedy, com cerca de 2 mil metros qua- drados, pode ser considerado uma espécie de símbolo de algumas dessas transformações, ao menos das que vieram para ficar no que se tem chamado de ‘novo normal’. Construí- do para atender diferentes formas de home- nagem, o Memorial Luto Curitiba começou a ser estudadoanosatrás,em2017,edemandou cerca de R$ 8 milhões de investimento até fi - car pronto. Com previsão de começar a fun- cionar no final destemês, o espaço conta com cerca de 2 mil metros quadrados, que se dis- tribuememhall de entrada, cinco salas de ve- lório com jardins privativos, estacionamen- to coberto com manobrista e área gourmet. Segundo Luís Henrique Kuminek, diretor da Luto Curitiba, a crise sanitária acabou ocasionando a realização de velórios mais curtos (com cerca de quatro horas de dura- ção, caso a pessoa não tenha sido vítima da Covid-19, que aí é ainda mais rápida a des- pedida), sepultamentos mais rápidos (geral- mente no mesmo dia do velório) e também com a participação de menos pessoas nessas despedidas, para evitar aglomerações. Algumas dessas mudanças acabaram vi- rando tendência, como a participação das pessoas à distância. Outras, como as des- pedidas mais curtas, devem ser alteradas na medida em que a sociedade possa volta a al- go mais próximo do que se poderia chamar de normalidade. “Temos hoje uma tendência de despedidas cada vez mais rápidas, sem a presença das pessoas, e isso não é saudável para o psicoló- gico das pessoas. Queremos usar essa estru- tura,quetembastanteconforto,infraestrutu- ra, para devolver para as pessoas essa rotina”, diz Kuminek. “Essa coisa da participação das pessoas à distância, por outro lado, é algo que veio para ficar. Pessoas que não podem com - parecer, podem enviar homenagem, acender vela virtual, mandar coroa de flores virtual… São tendências de digitalização, de virtuali- zação. É algo que veio para ficar”, emenda. Mais conforto e possibilidade até de customização Outro diferencial do Memorial Luto Curitiba e que segue uma tendência no mundo é a possibilidade de personaliza- ção das cerimônias, o que vem no sentido de dar um significado individual para as despedidas. Hoje, por exemplo, é comum a exibição de vídeos nos velórios ou o uso de bandeiras do time do coração para ex- pressar a saudade em forma de homena- gem. Enquanto algumas famílias são mais reservadas, outras gostam de confraterni- zar, contar histórias. “Não podemos mais impor um modelo de cerimônia, mas facilitar que cada um semanifeste conforme suas preferências e crenças”, descata Kuminek, contando que o Memorial oferece um sistema de vídeo wall com wi-fi nas salas de velório para transmissões aovivodas cerimônias.“Em- presas têmauditórios fixos, telão, show de luzes, pirotecnia, e a cerimônia é umpaco- te que é vendido, tudo definido pela em - presa. Queremos entregar algo mais per- sonalizado, dentro da vontade da família, para que a cerimônia tenha um significa - do mais pessoal. Não temos um auditório pronto,fixo.Todos osmóveis podemos co - locar, tirar, mudar de lugar”, destaca. Franklin de Freitas MAIS Pandemia prejudicou o processo do luto No que diz respeito às despe- didas, o cenário mais grave e preocupante em meio à pan- demia diz respeito justamente à situação de pessoas acome- tidas pela doença pandêmica. Nessas situação, não há veló- rio, mas apenas uma despedi- das de aproximadamente 20 minutos no cemitério, instan- tes antes do sepultamento. Há um cenário, portanto, no qual as pessoas se vão, mas seus familiares não conseguem se despedir, de fato. “Como efeito, o que tivemos foi uma aceleração desse pro- cesso de luto que eu acho que vai aumentar muito a incidên- cia do que os psicólogos cha- mam de luto não processado, tem uma espécie de arrepen- dimento por não se despedir direito do seu ente querido, passar por aquele momento, fazer sua oração, sua despedi- da”, afirma Luís Henrique Ku - minek.“O luto é um processo em que a pessoa vai aceitan- do isso, aquilo vai se tornando parte da vida dela até ela con- seguir dar sequência na vida. Isso é um processo, leva de- terminado tempo para acon- tecer, e quando impede que as pessoas façam a despedida, as orações, se encontrem pa- ra conversar sobre esse acon- tecimento, vejam o falecido no caixão, isso vai dificultan - do esse processo de elabora- ção do luto.” “O velório de amanhã, acho que cabe a nós como profissionais não deixar que essa normalidade de agora seja permanente, que não é a coisa mais saudável. Passa tão rápido, quatro horas é muito pouco tempo [para se despedir de um ente querido]. Não dá nem pra pessoa entender o que está acontecendo. Temos a expectativa de, na medida em que a pandemia vá terminando e a vacinação avance, que a gente possa voltar ao normal, se reunir, participar. Esperamos que essa questão da duração [dos velórios] volte ao normal e aí tem inúmeras possibilidades, desde coisas mais tecnológicas com vídeo e música, ou uma cerimônia mais pessoal, só com os familiares” Luís Henrique Kuminek, diretor da Luto Curitiba

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