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PMDB deve ter candidato
próprio em 2014, diz senador
Para Sérgio Souza, aliança nacional com o PT da presidente Dilma Rousseff e histórico local tende a favorecer
os grupos que defendem a participação direta do partido na disputa pelo governo do Estado no ano que vem
BEM
PARANÁ
3
Geral
CURITIBA, SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JULHO DE 2013
Congresso
“Eu inaugurei
a campanha
de suplente
no Paraná”
Bem Paraná - Ainda sobre
2014, a impressão que a gente
tem é que o grupo do governa-
dor quer tirar o PMDB da dis-
puta, atraindo o partido para
uma aliança.
Sérgio Souza
– Eu acho que
o Beto (Richa) não conseguirá ti-
rar o PMDB de uma disputa e é
muito arriscado acreditar que
possa ter o partido do seu lado.
Vai depender muito do que
acontecer no cenário nacional.
Mas o PMDB tem uma aliança
federal. Segundo: tem uma pre-
ferência no PMDB que é pelo
lançamento de candidato pró-
prio (ao governo). Lógico que
tem toda uma articulação para
que haja coligação com o Beto,
com a Gleisi. Mas eu acho que o
militante do PMDB gosta da dis-
puta. Nos últimos 30 anos o
PMDB governou 20 anos o Para-
ná, então ele está acostumado a
ser governo. A candidatura pró-
pria é forte dentro do partido.
Tende a ser a tese vencedora.
BP – Na hipótese do PMDB
não ter candidato próprio, o se-
nhor acha que a chance maior
de aliança seria com o PT pela
questão nacional?
Souza
– Acho que essa seria
uma vontade mais da direção
nacional. OPMDB hoje temdois
grupos: o do Requião, o dos de-
putados estaduais, o do Pessuti,
do qual eu faço parte. E qualquer
um dos lados sozinho não deci-
de. Mas um dos lados pode de-
cidir (em favor) do outro. Então
não dá para dizer que vai coli-
gar com A ou B.
BP - O senhor chegou ao Se-
nado assumindo a vaga da mi-
nistra da Casa Civil Gleisi Hoff-
mann. E entre as questões que
se discute é justamente o mode-
lo de eleição de suplentes.
Souza
– Primeiro é preciso
entender que eleição de senador
é uma eleição majoritária. Não
é uma eleição proporcional. In-
dependente do tamanho do Es-
tado, do número de eleitores
você tem um número igual de
vagas. No entanto, o que nos úl-
timos anos a questão do suplen-
te está sendo discutida, é porque
grande parte é ou parente ou fi-
nanciador de campanha. E isso
é muito ruim. Isso é que nós pre-
cisamos retirar. Então o Senado
aprovou esta semana uma PEC,
já uma segunda, porque uma
primeira tinha sido rejeitada.
Ajudei a construir o segundo
projeto e defendi. Mas ele aten-
deu parcialmente. Mas não eli-
mina por completo você tirar
aquele que banca a campanha
do titular. Agora isso não é re-
gra. Tem uma boa parte do Se-
nado, dos suplentes, que estão
lá porque fazer parte de um gru-
po político, de uma aliança. Por
exemplo, eu sou um suplente
que não coloquei dinheiro na
campanha. Não tinha dinheiro
para colocar. E não sou parente.
Sou indicado de um partido que
era o governo do Estado naque-
le momento, que se coligou e
contribuiu enormemente para a
eleição. Eu inclusive inaugurei
a campanha de suplente no Pa-
raná. Fui a mais de 250 municí-
pios sozinho, descolado da cam-
panha da titular, Gleisi.
Pra mim foi uma
surpresa satisfatória
(as manifestações).
Fiquei muito feliz. Eu
não acreditava mais
que o Brasil pudesse
chegar a esse ponto.
Eu sou um suplente
que não coloquei
dinheiro na
campanha. Não tinha
dinheiro para colocar.
E não sou parente.
Sou indicado de um
partido que era o
governo do Estado
naquele momento.
Ivan Santos
Bem Paraná - Como o senhor vê
a onda de manifestações populares
que tivemos no país?
Sérgio Souza
- Primeiro que isso
pra mim foi uma surpresa satisfató-
ria. Fiquei muito feliz. Eu não acre-
ditava mais que o Brasil pudesse
chegar a esse ponto. Tanto que apre-
sentei um projeto há um ano e meio
atrás para inserir o ensino de cida-
dania, moral e ética, e ética social e
política no ensino fundamental e
médio. Para que nós passássemos a
formar um cidadão mais prepara-
do para ser mais crítico, para saber
interpretar, votar, para saber ser vo-
tado também. E imaginei que você
começasse essa informação para
que daqui a duas, três gerações, nós
chegarmos a um patamar de termos
realmente cidadãos de Primeiro
Mundo. De repente esse levante
todo me pegou de surpresa, mas
uma grata surpresa.
BP - O senhor tinha uma impres-
são de apatia?
Souza - De alienação. A impres-
são que eu tinha era que o cidadão
brasileiro, em todas as suas idades,
estava acomodado. Alheio às gran-
des causas nacionais, aos grandes
interesses de uma nação. De repente
quando se levanta esse gigante, eu
começo a ver não um movimento
pelo passe livre, ou pela redução da
passagem de ônibus, do aumento,
que não era a grande causa. A gran-
de causa era a insatisfação com a
qualidade dos serviços que o cida-
dão recebe. Porque o cidadão che-
gou a esse ponto? Porque ele evo-
luiu intelectualmente, financeira-
mente, ele ascendeu de classe. Ele
passou a ter acesso a informações e
chegou ummomento em que come-
ça a comparar Buenos Aires a São
Paulo, Orlando a Brasília, Miami.
Porque ele vai à Nova York, não todo
mundo, mas hoje tem essa condi-
ção. Começa a comparar assim: ‘vou
ao Paraguai fazer compras. Mas por-
que o Paraguai é mais barato? En-
tão o Brasil é caro. Então ele come-
çou a questionar: ‘eu quero um país
mais barato, que me dê sim salário
que eu ganho hoje, mas que o meu
salário vai ter maior poder de com-
pra’. Eu vejo isso com bons olhos.
Só fico triste porque parece que a
presidente Dilma é culpada de
tudo, e não é. Eu acho que o gover-
no tem sim culpa, principalmente
para mim o governo é bom para
anunciar. Anuncia excelente pro-
gramas, faz todo o planejamento or-
çamentário, mas não consegue dar
velocidade para implantar. E a úni-
ca coisa que está parecendo que foi
implantado no Brasil são as obras
da Copa. E não são as obras da Copa,
as obras dos estádios da Copa.
BP - O senhor acha que os políti-
cos entenderam o recado?
Souza – Eu tenho muito medo
disso. Eu acho que sim, até de certa
forma atropelado, na ansiedade.
Faz dois anos que eu estou no Sena-
do. Nós votamos nesse último mês
o que não votamos em dois anos.
Aquilo que não era pauta prioritá-
ria, que estava no fundo da gaveta,
se tornou prioritária.
Comunicação
“Governo federal precisa contar mais o que faz”
ve as do Paraná. Agora fico extre-
mamente frustrado. Parece que
para a sociedade, nós estamos lá
brincando de ser parlamentares.
BP - O governo tem problemas
de articulação política no Congres-
so? Quais?
Souza
– Eu acho que o governo
precisa melhorar a articulação polí-
tica. O Congresso é o resultado da
sociedade. Se você não souber fa-
zer a leitura disso você não dá velo-
cidade que você quer. O Poder Exe-
cutivo já engessa muito o Legislati-
vo com as Medidas Provisórias. E
se não tiver boa articulação, você
acaba tendo problemas. Se o Execu-
tivo não melhorar e muito a articu-
lação com o Congresso ele vai ter
problemas gravíssimos. A partir da
Bem Paraná - Casos como os de
uso de aviões da FAB por ministros
e líderes do Congresso para fins
particulares não comprometem o
esforço do governo e do Congresso
de tentar mostrar que está sensível
à voz das ruas?
Sérgio Souza
– Todo o esforço fei-
to pelo Congresso envolveu todo
parlamentar, independente do par-
tido, da ideologia. E uma situação
dessa, isolada, feita pelo presiden-
te da Câmara, do Senado, em dois
eventos particulares: um casamen-
to e outro um evento da Copa, pare-
ce-me que para opinião pública, que
o Congresso estava brincando de
trabalhar. Não é, o Congresso traba-
lhou. Eu sou comprometido com as
causas e procuro fazer isso, inclusi-
semana passada começou a contar
o prazo para os novos vetos. Eles
passam a ter 30 dias para serem
analisados pelo Congresso sob pena
de trancar a pauta. E analisar veto é
dizer se concorda ou não com o que
o governo fez.
BP - A queda de popularidade e
das intenções de voto da presiden-
te ameaça a reeleição dela?
Souza – Acho que isso não é para
esse ano. Qualquer resposta a isso
é para o ano que vem. Mas eu acho
o que vem de importante é um aler-
ta, ao governo federal, ao PT, ao
PMDB, à base do governo, a presi-
dente, que precisa mudar o seu jei-
to de trabalhar. Eu acho que o go-
verno federal precisa contar mais o
que faz. O que o povo quer é mais
transparência. Se deu publicidade
nos últimos tempos às obras da
Copa, estádios, publicidade espon-
tânea, normal, por conta da Copa
das Confederações. Eu vejo, por
exemplo, o governo está fazendo
centena de milhares de casas no
Paraná, mas parece que não é ne-
nhuma, que o governo do Estado é
que faz sozinho.
BP – O problema é de comuni-
cação então?
Souza – Eu acho que o governo
não consegue contar o que está fa-
zendo. Dois são os problemas do go-
verno hoje: velocidade. É bom para
anunciar, mas na hora de executar
está muito demorado. E está demo-
rado porque o Brasil é um País mui-
to burocrático.
Sérgio Souza: “Militante do PMDB gosta da disputa”
Franklin de Freitas
O
peemedebista Sérgio Souza foi eleito suplente em 2010, na chapa encabeça
da por Gleisi Hoffmann, e em junho de 2011, assumiu o mandato no Senado
com a ida da petista para a chefia da Casa Civil do governo Dilma Rousseff.
Mas ao contrário de outros na mesma condição, não se contentou com papel
de coadjuvante, conquistando em dois anos um espaço maior do que muitos
titulares da Casa. Apesar de discreto, assumiu a linha de frente da defesa do governo
Dilma no Congresso e teve papel destacado em questões como a aprovação da criação do
Tribunal Regional Federal do Paraná.
Hoje, já ambientado e com a desenvoltura de um veterano no Congresso, sonha com a
possibilidade de disputar no ano que vem uma cadeira de titular no Senado, enquanto
prepara ao mesmo tempo uma candidatura a deputado federal, caso esse plano não se
viabilize. Diante da crise motivada pela onda de manifestações populares que abalou a
política do País, Souza admite ver problemas de articulação do Palácio do Planalto, mas
acha que a principal dificuldade de Dilma é conseguir mostrar à população os avanços que
seu governo vem conquistando, além das barreiras para a execução das grandes obras de
infraestrutura deflagradas pela administração federal. No plano estadual, ele não vê outro
caminho para o PMDB a não ser disputar o governo do Estado com candidato próprio, e
considera que o governo Beto Richa não conseguiu dizer a que veio. Em entrevista ao
Bem
Paraná
, o peemedebista fala sobre esses e outros cenários e explica como acha que o País
pode enfrentar os desafios que se apresentam nesse contexto.
Reforma política
“’Caixa dois’ tem um custo enorme para o País”
BemParaná - O senhor acha que
o Congresso deve aprovar mudan-
ças na legislação eleitoral já para o
ano que vem?
Sérgio Souza
– Eu acho que pre-
cisa. Tem alguns pontos que eu gos-
taria de ver aprovado já. Por exem-
plo, unificação das eleições. É mui-
to caro uma eleição, para o Brasil,
para a sociedade e para os próprios
políticos. Precisamos entender se
queremos fortalecer os partidos ou
dar ao cidadão o direito de escolher
independente da ideologia partidá-
ria. Se for essa segunda opção eu
ficaria muito triste, frustrado. Por-
que estaríamos dando um passo
ruim. Se você parte para a anarquia,
deixa de ser organizado, vai se en-
fraquecer no futuro. Poucos partidos
são ideológicos hoje. Se você che-
gar no Congresso que tem 700 par-
lamentares, entre deputados e se-
nadores, e perguntar qual a ideolo-
gia do partido, a maioria não sabe.
Diria que 80%, 90%. Como você vai
exigir que a população saiba? Eu
acho que o que tem possibilidade
de andar é o fim das coligações, a
unificação das eleições é um deba-
te muito forte, e voto distrital, que
eu acho que nós não temos condi-
ções de votar de forma afobada.
BP - Sobre o financiamento pú-
blico de campanha, os críticos acham
que ele não impede o caixa dois.
Souza
– Eu tenho uma posição
que não é popular. Eu defendo o fi-
nanciamento público de campa-
nha. Mas aos olhos dos eleitores
parece que é dinheiro do povo que
está custeando campanha de can-
didato. Mas não é isso. Fui membro
da CPI do Cachoeira. E fui para lá
como objetivo de entender essa lou-
cura que é financiamento de cam-
panha. E é um corredor enorme de
caixa dois e de doadores de campa-
nha. Tem um custo enorme para a
sociedade. Quando você traz para
o financiamento público de campa-
nha você coloca um valor por can-
didato e você sabe o que compra
dez, quantos cartazes, santinhos,
quantos litros de gasolina. Se al-
guém aparecer com um volume de
campanha diferenciado, aí você tem
caixa dois. Fica muito mais fácil
identificar o caixa dois com financi-
amento público.
Governo Richa
“Paranaenses querem resultado prático”
Bem Paraná - O governador
Beto Richa tem atribuído as difi-
culdades financeiras do Estado a
queda nos repasses federais e a
uma suposta perseguição política
do governo federal e do PT contra
o Paraná. Como o senhor avalia
essas alegações?
Sérgio Souza
– É contraditó-
ria essa posição do governo, por-
que eu vejo ele pegando carona
em muitos programas do gover-
no federal. Por exemplo, o progra-
ma habitacional. Eu não sei qual
casa que o governo do Estado fez.
Eu sei em uma propaganda falan-
do que vai fazer mais de cem mil
casas. Mas todas essas cem mil
casas são com recurso do gover-
no federal. Eu vejo o hospital
anunciando em Curitiba, é recur-
so do governo federal. Eu não
vejo essa perseguição de forma
alguma. Ele fala isso por causa
dos empréstimos, mas os em-
préstimos tem uma Lei de Res-
ponsabilidade Fiscal que tem que
cumprir. Então não há persegui-
ção. Acho que já passou o mo-
mento de coitadinho, ‘o problema
era o governo anterior ’, ‘do gover-
no tal que não está me deixando
governar ’. O cidadão paranaen-
se quer resultado prático de
ações. Eu, por exemplo, acho que
o governo do Estado, nesses dois
anos e meio, não disse a que veio.
Não conseguiu sair das reclama-
ções, do choro.
Bem Paraná - Como o senhor
vê o cenário para a eleição para o
governo no Paraná em2014?Apon-
tava-se para uma polarização en-
tre o governador e a Gleisi.
Sérgio Souza
– Eu acho que é
mais menos isso. Acho que a can-
didatura da Gleisi é algo que
está muito desenhada. Está se
consolidando. Como está muito
desenhada a candidatura à ree-
leição do Beto. Agora ambos que-
rem que tenha mais candidatos
para que tenha dois turnos. A
experiência de 2010 (em Curiti-
ba, onde o ex-prefeito Luciano
Ducci, candidato do governador,
não chegou ao segundo turno),
nós conhecemos, uma eleição
polarizada não traz conforto a
ninguém.