“Primeiro orçamento
da Arena foi um chute”
Coordenador culpa demora na liberação de financiamento do BNDES por atraso na Arena
Ivan Santos
O primeiro orçamento de
R$ 134 milhões, para as obras
da Arena do Atlético para a
Copa do Mundo, feito ainda
durante do governo Orlando
Pessuti foi “um chute”, feito
para garantir a atração do
evento para Curitiba. Quem
afirma é o coordenador geral
da Copa para o Paraná, Mário
Celso Cunha. Ele culpa ainda
a demora na liberação do fi-
nanciamento pelo Banco Na-
cional de Desenvolvimento
Econômico Social (BNDES)
pelos problemas na obra do
que seria o estádio “mais
pronto”, e hoje mais atrasado
entre as sedes do torneio, le-
vando inclusive a Fifa a ame-
açar tirar os jogos da capital
paranaense.
Apesar disso, Mário Celso
diz estar confiante que a nova
engenharia feita para acelerar
o processo, com a formação de
um comitê gestor com a parti-
cipação de representantes do
governo do Estado e da prefei-
tura, vá garantir a realização
da Copa na cidade. Em entre-
vista ao
Bem Paraná
, o coorde-
nador fala sobre isso, comenta
quem pagaria o prejuízo em
casode não realizaçãodo even-
to aqui, e justifica o aumento
do custo da obra.
Bem Paraná - Vai ter copa
em Curitiba?
Mário Celso Cunha –
A
esperança é que sim, pelo
planejamento que está sendo
executado a partir de agora
com a participação de um co-
mitê gestor junto ao Clube
Atlético Paranaense, que atra-
vés da CAP S/A está adminis-
trando essa modelagem para
a execução da obra e que já
tem praticamente 90% de
área construída, o que signifi-
ca que nós estamos trabalhan-
do em cima desses 10% final.
Esse comitê gestor é apenas a
colaboração do governo, pre-
feitura e COL (Comitê Orga-
nizador Local) aos organiza-
dores e responsáveis pela
execução da obra. Que são
pessoas altamente qualifica-
das, mas que dependeram
muito do fluxo financeiro.
BP – De zero a dez, qual o
risco de Curitiba ficar de fora?
BEM
PARANÁ
3
Geral
CURITIBA, SEGUNDA-FEIRA, 3 DE FEVEREIRO DE 2014
Responsabilidades
“Governo
do Estado
fez a sua
parte”
Bem Paraná - O presi-
dente do Atlético culpou o
governo do Estado e a pre-
feitura pelos problemas,
alegando que o dinheiro
não saiu no tempo certo?
Mário Celso Cunha –
Eu não entro na polêmica
com o presidente, que tem
lá suas razões, sua ótica de
ver a situação. O que eu
diria em termos de gover-
no do Estado é que graças
ao governo foi liberado o
financiamento do BNDES.
O BNDES não empresta
dinheiro para clube, para
terceiros, só para constru-
toras e governos. Então
nós abrimos essa possibi-
lidade da Fomento receber
esse dinheiro e repassar ao
Atlético com as garantias
legais, a primeira do Cen-
tro de Treinamento do
Caju e o potencial constru-
tivo. E o segundo financia-
mento que foi feito agora,
a garantia é a verba de
transmissão da TV. Nós fi-
zemos a nossa parte. Nós
tentamos fazer o naming
rights, consultamos quatro
empresas. Agora se não há
entendimento financeiro
com o clube, é outra ques-
tão.
BP – Afinal de contas,
o que há de dinheiro pú-
blico nas obras da Arena
do Atlético?
Mário Celso –
O Tribu-
nal de Contas considerou
o potencial construtivo,
que é uma moeda virtual,
dinheiro público. E é rees-
calonado, e segundo o
Atlético, não está resolven-
do o problema deles. Por-
que não entrou muita coi-
sa. Você tem que colocar
no mercado. E se as cons-
trutoras não compram.
Tem que ter um mercado
muito aquecido para po-
der valorizar. E é a única
coisa. Não tem dinheiro
em espécie. O governo do
Estado não repassou um
centavo de dinheiro em
espécie para a Arena. E a
prefeitura também. Porque
legalmente não pode. É
um estádio privado. Ago-
ra porque essas manifes-
tações estão acontecendo,
as pessoas estão contra. A
população não é contra a
Copa. O brasileiro é apai-
xonado por futebol. É uma
paixão. O brasileiro quer
a Copa. O que o brasileiro
não quer é roubalheira. E
nós estamos vendo que
são doze estádios, dos
quais nove são públicos.
Quando você vê um está-
dio aqui da Arena, diga-
mos que é privado, está
fazendo um estádio de R$
300 milhões, porque o
Maracanã, que foi refor-
mado, está custando R$ 1,4
bilhão. Porque um Mané
Garrincha está custando
R$ 1,3 bilhão. Salvador R$
1 bilhão. Porque está cus-
tando tanto? Algo está er-
rado. O que o povo recla-
ma é isso. Por isonomia
você dá a impressão que o
Brasil inteiro está nesse
processo. Quando você
tem três estádios privados
e os demais são públicos,
não têm limite de gastos.
Mário Celso –
A gente não
pode avaliar porque aí tem os
itens que estão na cabeça dos
técnicos da Fifa. Mas eu diria
que dentro do que o Jêrome
Valcke projetou, que seria
entrega do gramado, a cober-
tura, mas de dez mil cadeiras,
eu acho que isso é fundamen-
tal para a visibilidade do es-
tádio. Com isso nós podería-
mos realizar a Copa. É claro
que aí entra também ilumina-
ção, TI (Tecnologia da Infor-
mação), sistema de placar, as
catracas, bilheteria e tudo isso
que precisa estar preparado
para que o estádio possa re-
ceber os torcedores.
BP - Noticiou-se que a Fifa
consultou a construtora OAS
sobre a possibilidade de uso
da arena do Grêmio, em Por-
to Alegre.
Mário Celso –
Eu vejo
como uma falsa notícia. Acre-
dito que isso não é verdadei-
ro, mesmo porque o próprio
Jêrome Valcke declarou que
no caso de Curitiba não ser
contemplada, ele distribuiria
esses jogos pelas outras sedes
já existentes. Ele não coloca-
ria uma nova sede. Então ele
já descartou esse tipo de pro-
cesso. Mesmo porque não dá
tempo. A própria Arena do
Grêmio que o presidente diz
que tem padrão Fifa, tem vá-
rias deficiências. Já esteve in-
terdição recentemente. E não
teríamos como ter duas sedes
na mesma sede. É muito com-
plicado para segurança, uma
série de fatores. Não acredito
nessa possibilidade. Não hou-
ve consulta, mas uma mani-
festação de alguém que quer
tumultuar.
BP - O que precisa aconte-
cer até 18 de fevereiro para
queCuritiba não perca a copa?
Mário Celso –
Eu diria que
esses fatores, gramado, cadei-
ras colocadas, vestiários, co-
bertura, mas fundamental-
mente definir o fluxo de cai-
xa. Quanto o Atlético vai gas-
tar até o final da obra. Isso é
muito importante. A Price está
fazendo esta avaliação. Já an-
daram divulgando números
que não são oficialmente re-
ais ainda. E nós precisamos
ter isso em mãos para ver de
que forma será conduzido.
“
“O primeiro
orçamento, de R$
134 milhões, foi um
chute. Feito na
época pelo (ex-
governador Orlando)
Pessuti e por aquele
grupo que estava
tocando a Copa.
Para poder acertar
os financiamentos, a
participação de
Curitiba na Copa”
“Há possibilidade,
de talvez não
realizar (a
construção do
Centro de Mídia) nos
seis andares que
estão programados.
Talvez dois, três
andares.”
Mário Celso Cunha: “Tudo sobe, os operários, a mão de obra, o ferro, o material”
Valquir Aureliano
Atraso
“Dinheiro
só saiu em
janeiro
de 2013”
Bem Paraná - Quando
Curitiba foi escolhida,
falava-se que o estádio
do Atlético era o que es-
tava mais pronto. Porque
acabou sendo o mais
atrasado?
Mário Celso Cunha –
Nós tínhamos ali 40% de
área construída, mas en-
trou algumas interferênci-
as. Por exemplo, a Fifa não
aceita vestiários atrás do
gol, tem que ser nas late-
rais. O Atlético teve que
destruir três vestiários
modernos, com toda a in-
fraestrutura, de visitante,
do Atlético e da arbitra-
gem. Teve que desmontar
tudo e fazer novos. Eles
não permitem ponto cego.
Tiraram as seis torres que
já existiam, com elevado-
res. Tira fosso, alambrado,
mudou o visual. Eu diria
que ficou 20% dos 40%
que tínhamos. Era o mais
adiantado. Porque ficou
mais atrasado? Porque
desde 2010 tentou-se o fi-
nanciamento junto ao BN-
DES e ele só saiu em ja-
neiro de 2013. Isso com-
prometeu toda a estrutu-
ra. Quando saiu o financi-
amento o BNDES fez uma
exigência que não fez para
ninguém. Eles exigiram
que o Atlético apresentas-
se as notas dos gastos, e só
depois libera o valor. Isso
gera mais prejuízo para o
clube porque demora mais
para receber. Esse fluxo de
caixa é fundamental. Isso
que provocou maior atra-
so.
BP - Falou-se muito em
legado, mas boa parte, se
não a maioria das obras de
mobilidade em Curitiba
para a copa não estão pron-
tas, e outras foram retira-
das do plano inicial. Isso
não corrobora as críticas
ao evento?
Mário Celso –
Hoje eu
diria que o Paraná já con-
seguiu mais de R$ 2 bi-
lhões de recursos que eu
considero legado. Mais de
R$ 400 milhões só no ae-
roporto Afonso Pena, di-
nheiro da Infraero. R$ 30
milhões em Londrina, R$
60 milhões em Foz, tam-
bém da Infraero. Equipa-
mentos para a área de se-
gurança, recebemos qua-
tro caminhões de alta tec-
nologia para fazer o con-
trole da segurança em áre-
as específicas. Cada cami-
nhão desse custa R$ 5 mi-
lhões, foram doados pelo
Ministério da Justiça.
BP - Como está a parte
estadual do corredor aero-
porto-rodoviária? O se-
nhor acha que ficará pron-
to até a Copa?
Mário Celso –
Com
atraso, mas fica pronto. A
projeção é que no máximo
emmaio tudo esteja entre-
gue. Estamos retirando a
alça da Salgado Filho, co-
locando no PAC da Mobi-
lidade para não perder o
orçamento.
Peso de Curitiba
“População
está insatisfeita”
BP – Porque nós passa-
mos de um orçamento ini-
cial de R$ 134 milhões
para R$ 319 milhões?
Mário Celso –
O pri-
meiro orçamento, de R$
134 milhões, foi um chute.
Feito na época pelo (ex-
governador Orlando) Pes-
suti e por aquele grupo que
estava tocando a Copa.
Para poder acertar os fi-
nanciamentos, a partici-
pação de Curitiba na Copa.
Na matriz de responsabi-
lidade foram feitos vários
entendimentos de artigos
e cláusulas que tivemos
que alterar depois. Nós
mudamos esses artigos,
com o Tribunal de Contas,
fizemos aditivos, que tinha
que corrigir isso. Então de
R$ 134 milhões passou
para R$ 185 milhões, que
era o número real, que a
gente está trabalhando.
Agora depois disso apre-
sentaram valores de R$
219 milhões. Tudo sobe, os
operários, a mão de obra,
o ferro, todo omaterial. Por
exemplo, eles estavam
pintando uma parte da
Arena, choveu, acabou
com tudo. Tem que refazer
e não é sem custo, a cons-
trutora vai cobrar.
Risco
Cancelamento seria “catástrofe”
Bem Paraná - O Centro de
Midia onde ficarão os jorna-
listas e equipes para as trans-
missões de tv e rádio ainda
está em suas fundações. Ele
ficará pronto em tempo?
Mário Celso Cunha –
Há
possibilidade, de acordo com
a Fifa, de talvez não realizar
ele nos seis andares que es-
tão programados. Talvez
dois, três andares. Na reu-
nião do COL (na última ter-
ça-feira, 28), um dos assun-
tos foi esse. Porque é impor-
tante, é a imagem do Brasil
lá fora. Esses jornalistas que
vão levar a imagem, se a
Copa é boa, se não é boa, tudo
isso será jogado na mídia in-
ternacional por esses jorna-
listas. Então é importante
atendê-los bem. A Fifa falou
que ‘se vocês fizerem um
prédio menor, não tem pro-
blema, desde que façam um
prédio com todas as condi-
ções de atendimento à Fifa’.
BP - Se não houver copa,
como fica o dinheiro investi-
do? Quem paga o prejuízo?
Mário Celso –
Claro que
a gente não pode falar sobre
suposição. Até o dia 18 nós
temos essa expectativa. Mas
eu diria que seria uma ca-
tástrofe. Porque o investi-
mento é muito grande, nós
temos várias preocupações
que repassamos ao Jerome
Valcke. Uma delas é que
Curitiba é a terceira (sede)
mais solicitada para ingres-
sos. Primeiro ficou São Pau-
lo com a abertura, segundo
o Rio, com o encerramento,
terceiro Curitiba. Então isso
o que representa nas opera-
doras de turismo que já ven-
deram pacotes envolvendo
hospedagem, gastronomia,
ingressos. Nessa possibili-
dade remota dessa catástro-
fe nós teremos problemas
com o Procon, que vai para
cima da Fifa, pelo direito do
consumidor que já comprou
ingresso, já tem vôo marca-
do. Nós já temos treze mil
leitos reservados. Tudo isso
é consequência desastrosa.
Por isso eu acredito que ele
vai repensar e definir pela
realização.
BP – Em relação ao finan-
ciamento público oferecido
para a Arena do Atlético,
como ficaria?
Mário Celso –
O financia-
mento é um problema da
Agência de Fomento e do
BNDES. Eu acho que perde a
condição de juros baixos, pra-
zo. Aí é uma negociação des-
sas entidades com a CAP.
BP - Porque só agora uma
comissão com governo e pre-
feitura acompanhando as
obras? Isso não deveria ter
sido feito desde o começo?
Mário Celso – E
u enten-
do que sim. Acho que até po-
deríamos ter feito isso antes.
Mas acontece que no acor-
do tripartite foi feito apenas
para viabilizar essa parte fi-
nanceira. Que nasceu o po-
tencial construtivo, a possi-
bilidade do BNDES fazer o
repasse através da Agência
de Fomento. Não se pensou
em um acompanhamento
direto das obras em termos
de cronograma. O que nós
fizemos foi confiar na CAP
S/A, que estabeleceu o cro-
nograma, vem cumprindo
esse cronograma. E nós fa-
zemos apenas a fiscaliza-
ção. Nós temos na secreta-
ria duas comissões de acom-
panhamento. A gente tem
na Fomento, eles contrata-
ram a Price, que faz os le-
vantamentos diários. E a
prefei tura também vem
acompanhando através de
uma comissão e da Price.
Agora como surgiu esse im-
passe da visita do Jerome
Valcke, não se sabia direito
as prioridades, formou-se
essa comissão tripartite com
a presença do COL, e agora
a gente faz o levantamento
das prioridades e o que vai
custar isso.
“
“Porque ficou
mais atrasado?
Porque desde
2010 tentou-se
o financiamento
junto ao BNDES
e ele só saiu em
janeiro de 2013.
Quando saiu o
BNDES fez uma
exigência (...)
de que o
Atlético
apresentasse as
notas dos gastos,
e só depois
libera o valor.
“
“O governo do
Estado não
repassou um
centavo de
dinheiro em
espécie para a
Arena. E a
prefeitura
também. Porque
legalmente não
pode. É um
estádio privado.
Copa em Curitiba