SALA
DE AULA
Educação sem paredes,
no meio do mato
Educa Mato Prato, em Campo Largo, tem um jeito todo diferente de ensinar bebês e crianças
BEM
PARANÁ
8
Educação
CURITIBA, TERÇA-FEIRA, 1º DE JULHO DE 2014
BOLETIM
ESCOLAR
Da redação|
Vagas na CEU
A Casa do Estudante Universitário do Paraná, sedia-
da em Curitiba, próximo ao Passeio Público, abriu inscri-
ções para o primeiro Processo Misto de Seleção de Novos
Moradores. Será a primeira vez na história da Fundação
em que a CEU aceitará mulheres. Todas informações so-
bre o processo estão em nosso site www.ceupr.com.br.
Benefícios que a CEU oferece: Café da manhã diário, Co-
lônia de férias em Guaratuba, Estacionamento, Serviço
de portaria 24 horas, Lavanderia, Sala de informática, Sala
de TV, Sala de jogos, Atividades acadêmicas e culturais.
Endereço: Fundação Casa do Estudante Universitário do
Paraná Rua Luiz Leão 01, Centro Curitiba. Telefone/FAX
secretaria: (41) 3324-1984. Telefone da portaria: (41) 3222-
4911. Site: www.ceupr.com.br.
Citações
De acordo como Ranking divulgado pelo grupo Qua-
cquarelli Symonds (QS) em maio deste ano a PUCPR é a
9° universidade brasileira com mais citações por artigo
científico. Este critério avalia o impacto da pesquisa de-
senvolvida na PUCPR mensurado pelas citações por arti-
go, em jornais acadêmicos internacionais. Na compara-
ção geral, a Universidade está em 21° lugar entre as insti-
tuições de ensino brasileiras e em 92° quando compara-
da com as latino-americanas. É a única paranaense parti-
cular a figurar entre as 100 melhores da América Latina.
ORanking, considerado umdosmais respeitados na área,
leva em conta outros seis indicadores que são: reputação
acadêmica, proporção de professores com Phd, número
de alunos por professores, presença digital da institui-
ção, número de artigos publicados pela universidade e
reputação no mercado de trabalho.
Retrato
O senador Cristovam Buarque, que foi um Ministro
da Educação com real compromisso com a educação,
costuma dizer que “o futuro de um país tem a cara de
sua escola pública no presente. Escola maltratada e atra-
sada é futuro atrasado e desequilibrado”. Não é boa a
situação material da maioria das nossas escolas públi-
cas: edificações carentes de manutenção e até mesmo
depredadas, laboratórios de informática e de ciências
inexistentes ou mal equipados, áreas de lazer inade-
quadas, poucas com bibliotecas.
Entre as poucas realizações do comunismo soviéti-
co que sobreviveram ao século XX, destacam-se as esta-
ções de metrô de Moscou. Os dirigentes consideraram,
acertadamente, que as pessoas que as utilizariam me-
reciam o melhor que o Estado pudesse proporcionar -
inclusive esteticamente: construíram-nas com materi-
ais e recursos artísticos que nobres usavam em seus
palácios em outras eras - e o resultado é magnífico, são
atrações turísticas da cidade, conservadas e amadas
pelos quase nove milhões de pessoas que as utilizam
todo dia.
João Clemente Jorge Trinta, o carnavalesco Joãosi-
nho Trinta, afirmava que o povo gosta de luxo; talvez
não goste necessariamente de luxo, mas certamente
gosta de ser bem tratado e respeitado. Escolas mal cui-
dadas desestimulam alunos e professores, dão-lhes a
noção exata da pouca importância com que são vistos
pelos órgãos públicos. Escolas precisam ter conforto tér-
mico e acústico, boa luminosidade, boa ventilação, se-
gurança estrutural. Também precisam ser motivo de
orgulho para os que nelas trabalham e estudam.
Uma parte das escolas públicas, principalmente as
instaladas em regiões de difícil acesso e extrema pobre-
za - ou seja, onde o ensino é indispensável até como
forma de melhoria das condições comunitárias -, estão
instaladas em regiões violentas, sob o comando do tráfi-
co e com alunos acostumados aos maus tratos, eles
mesmos vítimas com dificuldades de aprendizagem,
ou então já afeitos à brutalidade como forma de relacio-
namento.
Sabe-se, por meio de várias experiências da psicolo-
gia do comportamento, que destruição atrai destruição.
Uma vidraça quebrada em um prédio pode motivar a
quebra de várias outras, por sugerir que o lugar está
abandonado, e assim por diante. Agravando este qua-
dro, o Brasil é um dos raros países, afora os abaixo da
linha de pobreza extrema, onde a questão da alfabeti-
zação ainda é precária e incompleta para a população
de mais baixa renda - e para começar a vencer este de-
safio, deve-se considerar que os alunos (parte deles
morando em lugares precários) têm todo o direito de
estudar em escolas onde se sintam bem e das quais se
orgulhem.
Os diretores, professores e comunidades que não se
deixam abater pelas dificuldades e encaram a tarefa de
manter suas escolas em boas condições, com o melhor
uso dos poucos recursos disponíveis, com mutirões, cri-
atividade, determinação e coragem, colhem resultados
até acima de suas expectativas: melhora a qualidade
do ensino e do aprendizado, melhora a autoestima de
alunos e professores e até mesmo a criminalidade do
entorno diminui. Embora isso não isente os governan-
tes da necessária atenção ao assunto, envia a mensa-
gem de que a escola não se entregou, brilha como deve
ser sempre: um farol indicando o melhor caminho.
Uma educação sem pare-
des, uma educação sem limi-
tes. Este pode ser considerado
o lema da instituição Educa
Mato Preto, que fica em Cam-
po Largo. Criada em 2007, a
chácara recebe crianças que
têm desde os oito meses de
idade até os 12 anos. Hoje, são
cerca de 30 alunos e nove pro-
fissionais (praticamente um
profissional para cada três alu-
nos), todos em contato com a
natureza - a escola não conta
com salas, mas em troca ofe-
rece aos alunos muito verde,
com horta, cavalo, galinheiro,
patos... Afinal, como apontara
o escritor e dramaturgo austrí-
aco Hugo von Hofmannsthal,
o processo de formação é tan-
to mais feliz quanto mais as
suas diversas fases assumi-
rem o caráter de acontecimen-
tos vividos
Idealizadora da Educa
Mato Preto, a pedagoga Silma-
ra Crozeta conta que a ideia
surgiu após a leitura de um li-
vro durante a faculdade.
“Quando eu fazia magistério,
li um livro chamado ‘Quintal
Mágico’. O formato de educa-
ção apresentado pelo livro –
com vivência intensa com a
natureza e as pessoas – era um
convite para as crianças pen-
sarem. Eu me encantei, mas vi
que na educação tradicional
isso não era possível. Eu me
sentia muito sozinha nesse
caminho de quebrar as pare-
des”, afirma.A solidão da pe-
dagoga, porém, acabou ga-
nhando uma companhia após
ela se casar. Foi o primeiro pas-
so para a realização do sonho
antigo: oferecer um processo
educacional diferente para cri-
Na escola, as crianças caminham descalças na grama, jogam bola, veem minhoca: tudo é livre e no meio do verde
Ambiente lúdico e do campo também dentro dos espaços para aulas
anças. “Comecei cuidando do
nosso filho. Depois, começa-
mos a perceber que o espaço
da chácara era grande, ocioso,
e começamos a configurar a
vinda de escolas para passar
o dia. Na sequência, começa-
mos a ficar com filhos de cole-
gas e fomos amadurecendo
isso”, relata. Na escola, o olhar
para a educação passa pela na-
tureza. As crianças dão banho
em cavalo e alimentam patos,
sempre tendo o brincar como
princípio de educação. Além
disso, a cada época do ano (ve-
rão, inverno, primavera e ou-
tono), uma novidade de acor-
do com o que a natureza ofe-
rece, o que também acaba sen-
do incorporado ao ensino.“O
fato de ter uma chácara, ter a
natureza, é 50% do trabalho.
Saber o que fazer com isso é os
outros 50%. Aqui, as crianças
voltam a ser criança. Elas ca-
minham descalças na grama,
jogam bola, veem minhoca. O
verde, a natureza, é o foco que
traz o bem estar para a crian-
ça, que estabelece códigos com
a natureza e se comuinica com
ela. O espaço físico interno re-
toma as práticas cotidianas”,
explica Silmara.
Na escola, os jovens têm
aula de fotografia, montaria,
música, economia solidária,
agricultura natural biodinâ-
mica e yoga. Os mais novos
ficam com os mais velhos –
uma medida bem cuidadosa,
destaca Silmara, para que
ninguém se machuque. “Eles
(crianças) vivem como se fos-
sem uma grande família. Eles
comem juntos, um cuida do
outro, brincam juntos.Temos
uma liberdade e autonomia
para vivência, o que aposta-
mos como um diferencial”,
diz a pedagoga. Além disso,
nada de provas ou notas. O
que há é uma avaliação des-
critiva de cada aluno.“Temos
um caderno de anotações e
descrevemos o que aconteceu
no dia, o que vai acontecer...
Fazemos uma ‘memória’ das
crianças, e as crianças delas
mesmas. Observamos, então,
de que forma intervir para
ajudá-los a melhorar, evoluir.
Nossa avaliação é feita desde
a alimentação. Há, por exem-
plo, crianças que nunca come-
ram feijão. Daí elas vão na
horta e veem como é todo o
processo, acompanham a
transformação da mudinha
virando uma folha linda. Esse
processo de cada criança ve-
mos como um perfil para tra-
balharmos com eles e relata-
mos isso de uma forma des-
critiva para a família. A gente
percebe a importância dos
professores passarem para os
pais uma evolução do percur-
so pedagógico do desenvolvi-
mento das crianças”, explica
Silmara.De tão inovador que
é o método de ensino da Edu-
ca Mato Preto, há ainda quem
se assuste. Ao descrobrirem
que em vez de uma sala de
aula as crianças ficam em um
barracão, que elas não farão
provas e não terão uma nota,
muitos pais desistem da
ideia. Aos poucos, porém, a
novidade vai conquistando o
reconhecimento de familiares
e, principalmente, das própri-
as crianças.“Este lugar é dife-
rente do que costumamos en-
contrar. Aqui as crianças tem
um lugar seguro, acolhedor,
tem pessoas fazendo outras
coisas, pessoas presentes
como sujeito mais experien-
te, mas que não estão fiscali-
zando elas. Isso tudo, é claro,
sem perder a educação. Elas
não fazem o que querem,
mas tem espaço para ser cri-
ança”, diz Silmara. “As crian-
ças tem uma relação de res-
posta muito rápida, é de um
dia para o outro. Elas querem
voltar, encontram amigos de
diferentes interesses e expe-
riências e respondem muito
rápido porque encontramum
eco. Dificilmente tenho crian-
ça que não queira voltar.
Já os pais se convencem
quando notam que a criança
melhorou, começou a dormir
e se alimentar melhor. Ele vê o
bem estar do filho e aposta na
escola”, finaliza.Mesmo quan-
do a maioria das escolas entra
de férias, a Mato Preto segue
na ativa, com Colônia de Féri-
as – o pacote semanal de perí-
odo integral custa R$ 200 (6
horas por dia), mas é possível
também pagar por dia (R$ 45
período integral e R$ 38 meio
período). Já para matricular
seu filho para estudar na esco-
la, é necessário pagar uma
mensalidade, que custa R$
726 no período integral e R$
605 omeio período. Para o con-
tra-turno, há também pacotes
de frequência semanal com
valores que variam de R$ 488
até R$ 28 por dia.
SERVIÇO
Chácara Mato Preto
Rua Jose Rossa, 2112,
Campo Largo
https://www.facebook.com/
matopreto
* Wanda Camargo, educadora e assessora da presidência das
Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.
“
“Há, por exemplo,
crianças que nunca
comeram feijão. Daí
elas vão na horta e
veem como é todo o
processo,
acompanham a
transformação da
mudinha virando
uma folha linda.
Esse processo de
cada criança vemos
como um perfil para
trabalharmos com
eles e relatamos isso
de uma forma
descritiva para a
família”.
Da pedagoga
Silmara Crozeta
Valquir Aureliano
Valquir Aureliano