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Diversão & Arte 17 Curitiba, terça-feira, 12 de fevereiro de 2019 [email protected] Jornalista morreu ontem em uma queda de helicóptero e acidente chocou o Brasil Era para ser uma notícia triste, mas não incomum.No inícioda tarde de ontem,um helicóptero caiuno quilômetro 7 doRodo- nael, próximo ao acesso à RodoviaAnhan- guera, na chegada a São Paulo, em cima de um caminhão. Minutos após o aciden- te, ocorrido às 12h20, o Corpo de Bom- beiros informou que duas pessoas tinham morrido na queda — ambos ocupantes do helicóptero. Ementrevista à TVBand, antes de se sa- ber a identidade das vítimas, o comandan- te Marcos Palumbo afirmou que o aciden- te teve três vítimas, duas dentro da aero- nave e tiveram os corpos carbonizados, e a terceira era o motorista do caminhão. O motorista do caminhão foi socorrido pela concessionária. Ele teve apenas feri- mentos leves e às 14h40 já estava no 46º DP para prestar depoimento. Ele teria dito que viu a aeronave segundos antes da co- lisão, mas não teve tempo hábil para fre- ar ou desviar. Pouco antes das 13 horas, veio a confir- maçãode que o jornalistaRicardoEugênio Boechat,de 66 anos,era umdos ocupantes do helicóptero—e, portanto, havia morri- do.Anotíciamudou de impacto, eramuito mais trágicodoque sepensava.Jornalistas da equipe da rádio Band News FM chega- ram a interromper a programação ao vivo da emissora ao se emocionaremno ar com amorte do jornalista.Os âncoras Carla Bi- gatto e Eduardo Barão deram a notícia aos ouvintes sob o som da trilha de notícia de última hora, por volta das 13 horas. Am- bos os apresentadores, com as vozes em- bargadas, se emocionaram no ar. Em se- guida, a comoção tomou conta da equipe e a emissora passou a reproduzir trilha e uma gravação com a notícia da tragédia. A gravação se repetiu diversas vezes. “É com profunda tristeza que informa- mos que Ricardo Boechat (...) estava no helicóptero que caiu por volta demeio-dia na Avenida Anhanguera”, declarou Carla Bigatto claramente emocionada. “Todos estamos absolutamente arrasados e tive- mos que respirar fundo para entrar no ar. Para Veruska, mulher do do Boechat, pa- ra as meninas (filhas), o meu beijo”, disse Barão, que chorou. Boechat estava indo de Campinas — onde havia dado uma pales- tra — de helicóptero para São Paulo. Pou- saria no heliponto da Band, perto de on- de morava, porque queria almoçar em ca- sa com a mulher, Veruska. Vida e carreira Ricardo Boechat era filho do diplomata Ricardo Eugênio Boechat e nasceu no dia 13 de julho de 1952, em Buenos Aires. Na época, o pai estava a serviço do Ministé- rio das Relações Exteriores na Argentina. O jornalista já teve passagem pelo O Glo- bo, O Estado de S.Paulo, Jornal do Brasil e O Dia. Na década de 1990 chegou a ter uma coluna diária no Bom Dia Brasil, jor- nal matutino da TV Globo. Desde 2000, Boechat estava na Band. Era era apresentador do Jornal da Band e da rádio BandNews FM, além de ser colu- nista da revista ‘IstoÉ’. É ganhador de três prêmios Esso e, segundo o site da Band, é um dos maiores ganhadores da história do Prêmio Comunique-se, em que foi re- conhecido como âncora de rádio, âncora de televisão e colunista. Também foi elei- to o jornalista mais admirado do País na pesquisa do site Jornalistas&Cia em2014. O corpo de Boechat será velado hoje, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, antes de ser cremado à tarde. ## LUTO NO JORNALISMO A última hora de Ricardo Boechat O jornalista Ricardo Boechat: notícia da morte foi quase ao vivo na Band “Peço a Deus que console a todos pela perda irreparável de um dos grandes nomes do nosso jornalismo” da ministra da Agricultura, Tereza Cristina. “Boechat era um grande profissional, referência no jornalismo, capaz de conquistar o respeito tanto dos que convergiam quanto dos que divergiam de suas ideias e opiniões. Que seja sempre lembrado por isso” do deputado Carlos Bolsonaro. “Era um profissional reconhecido pelo trabalho e senso crítico aguçado revelado nos principais meios de comunicação do país” do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) “É uma perda horrível para o Brasil de um jornalista de incontáveis virtudes. Deixo aqui minha solidariedade à família, aos amigos, aos fãs desse grande profissional do nosso jornalismo” do senador Humberto Costa (PT) “Ele era uma pessoa especial e um dos maiores jornalistas do País” do apresentador José Datena “Expressamos nossos sentimentos à família e aos amigos do jornalista e das demais vítimas desse triste acidente” do América-MG, time do coração de Boechat “Tristeza e luto nessa tragédia para o jornalismo brasileiro. Perdemos uma referência para o jornalismo combativo e questionador” de Flávio Fachel, apresentador do Bom Dia RJ “Tá difícil de segurar a onda por aqui. Um dia choro por centenas, noutro por dezenas, agora choro por um colega: Ricardo Boechat, agora não! O jornalismo precisa de você” de Milton Jung, da CBN “Ricardo Boechat era um voz contestadora na imprensa, fará muita falta” de Mauro Cezar, da ESPN “Não posso acreditar. Eu lhe devo tantos favores, tantas palavras generosas em momentos difíceis. Você foi pessoa linda, jornalista maravilhoso” de Miriam Leitão, da TV Globo Em último comentário ao vivo, jornalista lamentou sucessão de tragédias Em seu último comentário na Rádio BandNews FM, na manhã de ontem, o jornalista Ricardo Boechat lamentou as tragédias que chocaram o País nos últi- mos dias e cobrou punição aos respon- sáveis.Poucodepois,Boechatmorreuem um acidente com um helicóptero. “A impunidade é o que rege, o que co- manda a orquestra das tragédias nacio- nais”, disse Boechat ao se referir ao rom- pimentodabarragemdaminadoCórrego do Feijão, em Brumadinho, e à morte de adolescentes no Ninho do Urubu, o cen- tro de treinamento do Flamengo no Rio. O jornalista citou uma matéria publi- cada no jornal ‘OGlobo’ sobre a sucessão de tragédias no País.“Você vê que não só os agentes públicos não pagaram nada por isso como os agentes privados e seus sócios também não. Esse é exatamente o ponto que une todas as tragédias.” “O que temos de colocar em cima da mesa, diante de nós mesmos, como so- ciedade, é se queremos continuar li- dando com essas tragédias, pranteado- -as no início e esquecendo-as logo de- pois. A tragédia de Brumadinho já sumiu das primeiras páginas.” Para o jornalis- ta, a sociedade brasileira segue uma “ve- lha tradição de tocar adiante”.“É preciso que as consequências sejam mais rápi- das, no campo da ação policial, do Mi- nistério Público, para que não fiquem no oba-oba”, disse Boechat. “Quando a gente chora, sofre, lamenta o fato ocorrido ontem, a gente parece es- taranestesiadoougostardaanestesiaque nos faz esquecer desse fato tão logo sur- ja o fato de amanhã, que terá o mesmís- simo tratamento”, concluiu o jornalista. Empresa envolvida em acidente não podia transportar passageiros A empresa RQ Serviços Aéreos Espe- cializados LTDA, dona do helicóptero de matrícula PT-HPG, que caiu ontem no acidente que matou o jornalista Ricardo Boechat, não estava autorizada a fazer o serviço de táxi aéreo, ou seja, a transpor- tar passageiros, segundo a Agência Na- cional de Aviação Civil (Anac). A empre- sa estava certificada para prestar Serviços Aéreos Especializados, como aerofoto- grafia, aeroreportagem, aerofilmagem. “Qualquer outra atividade remunera- da fora das mencionadas não poderia ser prestada. Tendo em vista essas informa- ções, a Anac abriu procedimento admi- nistrativo para apurar o tipo de transpor- tequeestava sendo realizadonomomen- to do acidente”, afirmou a Anac, emnota. O helicóptero, uma aeronave Bell Jet Ranger, prefixo PT-HPG, fabricada em 1975,tinha capacidade para cinco lugares e estava com a documentação e ordem. Divulgação

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