[email protected] Saúde 7 Curitiba, segunda-feira, 25 de março de 2019 Doenças pulmonares podem se agravar no outono ## TROCA DE ESTAÇÃO Época do ano propicia acúmulo de poluentes no ar e dificulta vida de quem convive com o problema No próximo dia 20 de março, às 18h58min, se inicia o outono. Gradativamente, as altas temperaturas do verão brasileiro vão deixando de fazer parte da rotina e abrem espaço para dias mais amenos do inverno, que se ini- cia em junho. Porém, essa estação de transição–co- mo é conhecido o outono, e que vale também para a primavera – apresenta oscilações de temperatura bruscas que podem variar entre 12°C a 28°C, o que prejudica a saúde, principalmente quando se fala das doenças pulmonares. Outra característica dessa época do ano é a redu- ção das chuvas em grande parte do País, con- forme indica o Instituto Nacional de Pes- quisas Espaciais, o INPA. Para se ter uma noção, para o período de chu- va é estimado 150mm e 400mm, quando no verão, esse número passa de 600mm nas regiões su- deste, centro-oeste e extremo sul do Amazonas. Essa redu- ção pode propiciar um acu- mulo de poluentes no ar, o que é uma notícia ruim pa- ra quem tem asma ou a do- ença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). “As partículas de po- luição são extremamente prejudiciais para os pul- mões. Para quem já apre- senta uma predisposição a essas doenças ou já sofre com elas, a falta de chuva é sentida ainda mais. É preciso tomar cuidados e manter a medicação em dia para evitar crises graves” informa o Alex Macedo, Mestre em Pneumologia pela Unifesp e professor de Pneumologia da Universidade Metropoli- tana de Santos. Em lista divulgada recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre os problemas de saúde que merecem atenção desde já, a poluição aparece logo em primeiro lugar. De acordo com eles, nove entre dez pessoas respiram ar poluído no mundo. A mesma lista mostra que a DPOC e outras doenças crônicas são res- ponsáveis por 70% das mortes globais, sendo que des- sas, 15 milhões morrem prematuramente entre as ida- des de 30 e 69 anos. No Brasil, a OMS estima que 7,5 milhões de pesso- as são portadoras de DPOC. A doença é caracteriza- da pela obstrução do fluxo de ar devido à inflama- ção dos pulmões decorrente de contato com gases e partículas nocivas que são encontradas em fuma- ças como na do cigarro, químicos, madeira e, claro, poluição. Os sintomas iniciais são a tosse frequen- te e o catarro, o que faz com que a doença demore a ser diagnosticada “Com o tempo, a DPOC irá se desenvol- ver em enfisema, obstruindo as pare- des dos alvéolos e fazendo com que a pessoa comece a sentir falta de ar que pode prejudicar as tare- fas diárias” esclarece o médico. Para quem já foi diagnostica- do, o primeiro passo, no caso dos fumantes, é largar o há- bito. A doença não tem cura e para melhorar a qualida- de de vida, além do diag- nóstico correto, o pacien- te precisa manter o tra- tamento sempre em dia e consultas regulares com pneumologista. Em casos de crise in- fecciosas quando se tem a DPOC, o uso de medicamentos anti-infecciosos como o moxifloxacino (Avalox, da Bayer) oferece, para 70% dos pacientes, melhora do quadro em até três dias. Para evitar gripes e resfriados, também comuns nessa época, recomenda-se evitar ambientes fechados, agasalhar-se bem em dias de frio mais intenso, usar soro fisiológico para hidratas as narinas. 4020 4411 S aúde em foco * Fernando Vinhal A realidade de um doente renal (parte1) Pedro tem 45 anos, filho único, casado, pai de três filhos. Seu pai morreu com a mesma idade por causa desconhecida. É um exe- cutivo de sucesso que acaba de fechar um novo negócio magní- fico, que exigiria total empenho pessoal. Após saída com colegas para uma comemoração, amanheceu com náuseas, vômitos e in- disposição. Procurou um médico que, após alguns exames, diag- nosticou insuficiência renal terminal, causada por doença poli- cística. A partir de agora dependeria de terapia renal substitutiva, que consumiria em torno de 20 horas semanais para o tratamen- to de hemodiálise. Pedro se desesperou e, para piorar, descobriu que a doença é hereditária. Seria sua culpa transmitir uma doen- ça dessas aos seus filhos? – pensava ele. Ao perguntar como po- deria mudar isso tudo ouviu: “Somente com um novo órgão, uma família doadora e um transplante renal podem devolver a vida que você tinha antes”. Em seu primeiro dia em hemodiálise, co- nheceu vários pacientes. Um mundo doente que não pensava existir. O que mais chamou sua atenção foi uma garota - Maria, de 2 anos - que devido a uma má formação do trato urinário evo- luiu com insuficiência renal crônica e necessidade de tratamen- to dialítico.“Tão jovem! A doença não escolhe idade”- pensou ele. “Mas ela pode realizar um transplante, resolveria o problema?” perguntou Pedro. Mais uma vez ouviu a mesma resposta: “Depen- de de uma família doadora”. Desafios Em seu segundo dia de tratamento, observou uma correria da equipe médica, entusiasmada com a possibilidade de um doador em potencial: um jovem de 23 anos, vítima de acidente automo- bilístico, quando retornava para casa após sua formatura em me- dicina. Apresentara morte encefálica. A Central de Transplante in- formou os médicos que a família estava inconsolável pela tragé- dia e que era uma deselegância os abordarem naquele momento tão delicado. Além disso o jovem médico nunca tinha comentado nada sobre doação. Ele perdeu a vida e pessoas perdiam a opor- tunidade de serem curados.“Por que as pessoas são tão egoís- tas?”- questionava um membro da equipe. Ouviu como resposta: “As pessoas não conhecem uma a outra na intimidade ou em to- dos os seus desejos, não paramos para pensar em nosso momen- to final”. Outro grande problema dessa doença é que ela exige tratamentos especializados e de alto custo. Apenas 7% dos muni- cípios brasileiros possuem centros de tratamentos. Pacientes fora desse circuito morrem sem diagnósticos ou sem tratamentos ou viajam dezenas de quilômetros para conseguir sobreviver. Insuficiência funcional de um órgão é mais comum que imaginamos Insuficiência funcional de um órgão pode variar de intensidade e é chamada de terminal quando a função desempenhada por es- se órgão é incapaz de atender a necessidade do organismo. Nes- se momento é preciso iniciar uma terapia substitutiva como a hemodiálise ou transplante, no caso de uma insuficiência renal, por exemplo. Casos como do Pedro e da Maria são mais comuns do que imaginamos. A prevalência de doença renal (número de casos em uma determinada população) gira em torno de 6% so- mente no Brasil - quase 10 milhões de pessoas, número que au- menta cerca de 10% a cada ano. São mais de 1,5 milhão de pes- soas realizando tratamento dialítico no mundo, sendo em torno de 113 mil no Brasil, o que não representa 0,5% da população. Infelizmente o restante morre antes de ter o diagnóstico ou por- que não conseguem acesso ao tratamento, por falta de vagas ou por habitar em um local distante de um centro de tratamento. Somente com esses pacientes, o Ministério da Saúde gasta em torno de 4 bilhões de reais em tratamento dialítico por ano no Brasil. Apesar dos custos elevados, a hemodiálise sozinha não é suficiente e necessita de terapia medicamentosa de apoio, o que pode aumentar em até 50% esse custo. Fernando Vinhal é membro da equipe de transplantes no Brasil

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