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BEM
PARANÁ
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Política
CURITIBA, SEGUNDA-FEIRA, 20 DE JULHO DE 2015
Ivan Santos
Há 40 anos o Paraná mer-
gulhava na maior crise de sua
história. No dia 18 de julho de
1975, o solo de boa parte do
território paranaense ama-
nheceu coberto por uma es-
pessa camada de gelo provo-
cada pela “geada negra”.
Paradoxalmente, essa tra-
gédia que provocou o maior
choque migratório do Sul do
País, levando 2,5 milhões de
pessoas a abandonaremo cam-
po e 1,5 milhão a deixarem o
Estado, abriu caminhoparaum
novo ciclode desenvolvimento
econômico do Estado, com di-
versificação da atividade agro-
pecuária e o inícioda industria-
lização. No “olho do furacão”
estava o empresário Jaime Ca-
net Júnior, que havia assumido
o governo quatro meses antes
e, pelas mãos do destino, assu-
miu a missão de transformar o
que seria uma crise sem prece-
dentes, emoportunidadede re-
nascimento.
Parte dessa saga está sen-
do contada agora no livro “
No
tempodoCanet–ahistóriadoParaná
nadécadade1970
”-escritoeorga-
nizado por Belmiro Valverde,
Adherbal Fortes eAntonioLuiz
de Freitas, a partir de relatos do
Uma tragédia climática que
mudou a história do Paraná
Há 40 anos, “geada negra” dizimava cafeicultura e provocava o maior choque demográfico do Estado
próprioex-governador.Nascido
em Ourinhos (SP) em 1925,
Canet mudou-se para Curitiba
comos pais ainda criança e de-
pois de uma bemsucedida car-
reira como empresário, iniciou-
se na política nos anos 60, na
campanha vitoriosa de Ney
Braga ao governo, ajudando
tambéma eleger, na sequência,
Paulo Pimentel. Depois de pre-
sidir a Café do Paraná e o Ba-
nestado, no primeiro governo
de Pimentel, filiou-se à Arena
em 66, e foi eleito vicegoverna-
dor na chapa de EmílioGomes.
Em1974, foi escolhido pelo pre-
Divulgação
sidente Ernesto Geisel para as-
sumir o governo, do qual to-
mou posse em março do ano
seguinte.
Logo no início do manda-
to, Canet teve que enfrentar
as consequências da geada
negra, que acabou com a ca-
feicultura e provocou o êxodo
rural, levandomilhões de pes-
soas a mudarem para outros
estados ou migrarem para as
cidades - onde não haviam
empregos suficientes, nem
infraestrutura para acomodar
essa população. Para piorar, o
café era responsável por 50%
da receita do Estado e pela
sustentação da economia pa-
ranaense. A erradicação da
cultura provocou, já no ano
seguinte, um corte de 20% do
orçamento de seu governo.
Ao invés de lamentar-se, o
governador arregaçou asman-
gas e partiu para a ação. Com
o apoio do governo federal e
das prefeituras, lançou um
ambicioso programa de inves-
timentos em obras rodoviári-
as. Eprogramas de créditopara
estimular os produtores rurais
a investirem em outras cultu-
ras, que não o café.
Canet: “Geada negra” veio quatro meses após a posse
Apesar de ter sido in-
dicado para o cargo pelo
presidente Ernesto Geisel,
em pleno auge da ditadu-
ra militar que comandava
o País, o governo de Jaime
Canet Júnior convivia com
uma oposição forte no Es-
tado. Como fimdo chama-
do “milagre econômico”
provocado pela crise do
petróleo e o desgaste do
regime, o MDB angariava
apoio popular e pressiona-
va os governos locais.
Nas eleições de 1974 –
um ano antes de Canet as-
sumir o cargo – de um total
de um total de 24,5 milhões
de votos para o Senado, o
partido de oposição obte-
ve 14,5 milhões, ou 59%,
conquistando 16 das 22 ca-
deiras em disputa, contra
apenas seis da Arena. In-
cluindo Leite Chaves, elei-
to senador pelo PMDB do
Paraná.
Da bancada federal
paranaense na Câmara, 15
eram do MDB contra nove
da Arena. Na Assembleia
Legislativa, onde os últi-
mos governadores parana-
enses se acostumaram a
contar com uma maioria
folgada, Canet enfrentou
uma situação bem diferen-
te: eram 25 deputados es-
taduais do oposicionista
MDB e 29 da Arena – ou
seja, uma vantagem de
apenas quatro cadeiras
para o partido governista.
Industrialização-
Empouco
tempo, a agricultura do Estado
se recuperou. Atragédiaacabou
abrindocaminhoparaadiversi-
ficação e novas culturas, como
as da soja, trigo, milho, alémda
agropecuária.EoParanápassou
a ser líder ou destaque na pro-
dução de 13 dos 15 principais
produtos agrícolas do País.
Ao final dos quatro anos
de mandato, Canet também
entregou o Estado com mais
de 4 mil quilômetros de rodo-
vias pavimentadas. De 93
municípios servidos por asfal-
to em 1974, esse número che-
garia a 260 dos 299 existentes
emmarço de 1979, quando ele
deixou o governo, o que signi-
ficou que 85% da produção
paranaense e 90% da popu-
lação passou a trafegar por
estradas pavimentadas.
As novas culturas agrícolas,
porém,empregavammuitome-
nospessoas. Erapreciso investir
na industrializaçãoenageração
de empregos urbanos. Com a
ajuda do presidente Geisel, o
governador conseguiu atrair a
suecaVolvo para o então incipi-
ente projetode criaçãodaCida-
de Industrial de Curitiba. Isso
em um Estado onde até 1970,
só 13% da economia vinha da
atividade industrial.
“Anos de chumbo”
Oposição forte,
apesar do regime
POLÍTICA EM DEBATE
Josianne Ritz | Com a colaboração dos editores do BEMPARANA |
Pedágio
A Federação das Indústrias do Estado do
Paraná (Fiep) divulgou nota dizendo que não
foi consenso entre as entidades que compõem
o chamado “G7” a defesa da abertura da dis-
cussão sobre a possibilidade de renovação das
concessões de pedágio. O grupo é formado
por sete principais entidades representativas
do setor produtivo do Estado – Fiep, Faep,
Fecomercio, Faciap, Fetranspar, Fecoopar e
ACP. “Por conta dessa ausência de consenso,
não devem ser emitidas opiniões ou informa-
ções que deem a entender que se tratam de
posicionamentos de todo o grupo. Mas, por
serem instituições autônomas, as entidades
podem se posicionar separadamente, respei-
tando a decisão de suas diretorias”, alega a
federação das indústrias.
Secos emolhados
Levantamento do site Contas Abertas re-
velou que o Ministério das Relações Exterio-
res empenhou aproximadamente R$ 5,4 mil
para compra de 54 garrafas de vinhos, cerca
de R$ 100,00 cada. O “sabor” do vinho é tinto
Reeleição
O prefeito de Curitiba,
Gustavo Fruet
(PDT), viajou
para Roma a convite do
papa Francisco, para
participar de eventos sobre
questões relacionadas à
sustentabilidade. Em
entrevista publicada ontem
pelo jornal Gazeta do Povo,
Fruet – que retorna ao País
no dia 25 – aposta na
divulgação dos
investimentos em educação
e saúde por sua
administração para reverter
os baixos índices de
aprovação nas pesquisas.
Sobre as eleições
municipais de 2016, o
pedetista aponta que em
meio à crise generalizada
de credibilidade dos
políticos, “vai sobreviver
quem ficar à margem dos
escândalos”.
Contramão
Fruet afirmou considerar que os resultados das últimas
pesquisas não implicam em “não significa que haja uma
rejeição absoluta”. E que seu governo estabeleceu uma
“postura que está na contramão do que a gente vê em
relação ao governo do estado e ao governo federal”,
por já ter tomado medidas de ajuste fiscal desde o
início da atual gestão que só agora estão sendo
adotadas pelas administrações Beto Richa e Dilma
Rousseff. Para o prefeito, também passou o tempo de
construir popularidade em grandes obras físicas, pois os
investimentos em áreas sociais, como educação, mesmo
sem tanta visibilidade, representariam um legado mais
duradouro para a cidade.
ÊXODO
1,5
milhão
de pessoas deixaram
o Paraná após a
Geada Negra de 1975
seco e a marca é “Valduga”. Já o Senado des-
tinou quase R$ 91 milpara a compra de 65
máquinas de café.
Lobby
O líder do PPS na Câmara, deputado Ru-
bens Bueno, disse que a abertura de investi-
gação pela Procuradoria da República no Dis-
trito Federal comprova que o “périplo” de Lula
pelos países africanos só tinha um objetivo:
favorecer a Odebrecht, cujo presidente, Mar-
celo Odebrecht, já se encontra preso na PF em
Curitiba, em função da Operação Lava-Jato.
Bueno avalia que situação do petista poderá
se complicar mais ainda em uma eventual
delação premiada de Odebrecht.
Correio
“Agora, não se pode mais dizer que as de-
núncias não passavam de especulação. O MP
já estava no encalço de Lula, que vinha dando
mostras, de que temia ser o próximo a ser in-
vestigado depois da prisão de seu amigo em-
preiteiro Marcelo Odebrecht”, afirmou o par-
lamentar.
Valquir Aureliano
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