18
CURITIBA, TERÇA-FEIRA,
11 DE AGOSTO DE 2015
Diversão
&Arte
BEM
PARANÁ
Dois momentos de pura
idolatria — na semana pas-
sada, após uma consulta mé-
dica de rotina em São Paulo,
o ator Tarcísio Meira é surpre-
endido, ao entrar no eleva-
dor, por um homem que diz:
"Finalmente! Estou aqui há
horas, subindo e descendo,
esperando o senhor chegar só
para tirar uma foto". Em ou-
tro momento, no aeroporto
de Congonhas, a atriz Glória
Menezes é também surpre-
endida, dessa vez por um ra-
paz que se curva e lhe cede
passagem afirmando: "Por to-
dos os sonhos e bons momen-
tos que você me proporcio-
nou, por favor, passe na mi-
nha frente." "As pessoas são
sempre muito gentis conos-
co", comenta Tarcísio. "Ainda
somos tratados como mem-
bros da família", completa
Glória. Casados há 52 anos,
Tarcísio e Glória tornaram-se
referência na cultura brasilei-
ra. No cinema, teatro, mas es-
pecialmente na televisão,
eles presenciaram o cresci-
mento do gênero, desde a
época de precariedade técni-
ca ("Fazíamos novela quase
ao vivo", lembra Tarcísio) até
que o avanço tecnológico per-
mitiu que a TV integrasse o
País, derrubando fronteiras
regionais.
Protagonistas de um ma-
nancial de histórias saboro-
sas, Tarcísio e Glória estão
prestes a acrescentar mais
uma: ambos estarão em car-
taz em palcos paulistanos.
Ela reestreou, na sexta-feira,
7, a comédia romântica Ensi-
na-me a Viver, no Teatro Bra-
desco, espetáculo que está na
estrada desde 2007, quando
iniciou carreira em São Pau-
lo. E Tarcísio, perto de com-
pletar 80 anos (5 de outubro),
idade que Glória alcançou no
ano passado, está ansioso
para voltar ao teatro depois
de duas décadas com O Ca-
mareiro, poderoso drama em
que vive um ator à beira de
um colapso nervoso e que
estreia dia 4 de setembro, no
Teatro Porto Seguro.
"Durante quatro dias (de
4 a 6 de setembro), estaremos
em cartaz ao mesmo tempo",
observa Glória que, logo em
seguida, vai com sua peça
para Uberlândia e Porto Ale-
gre. "Eu fiz mais teatro que
Tarcísio, mas, em compensa-
ção, ele participou de mais fil-
mes." Telenovelas, no entan-
to, ambos somam números
portentosos — Tarcísio atuou
em 54 e Glória, em 37, pre-
parando-se agora para o pró-
ximo folhetim das 19 horas,
TotalmenteDemais
.
A trajetória artística do
casal praticamente coincide
com a história da televisão
Desde 2007, quando es-
treou a peça
Ensina-me a Viver
,
Glória Menezes coleciona his-
tórias pitorescas sobre as diver-
sas reações da plateia. "Eu me
acostumei a ser procurada por
senhorinhas dizendo esperar
por um Harold em sua vida",
diverte-se ela, que interpreta
Maude, a octogenária de bem
Tarcísio Meira dis-
farça a preocupação
com o notável sorriso
que se tornou sua mar-
ca registrada. "Depois
de 20 anos, volto ao pal-
co em um papel mara-
vilhoso, mas exigente",
conta o ator, cuja última
peça foi
EContinua... Tudo
Bem
, que encenou em
1996, ao lado de Glória
Menezes.
Agora, Tarcísio vive-
rá o velho ator de teatro
de
O Camareiro
, que es-
treia em 4 de setembro,
no Teatro Porto Seguro.
A peça se passa duran-
te a 2.ª Guerra, quando
Sir, como é chamado por
todos, luta no limite de
suas forças para inter-
pretar uma vezmais Rei
Lear, de Shakespeare.
Ao seu lado, está
Norman (KikoMascare-
nhas), dedicado cama-
reiro que tenta atender
suas demandas e, prin-
cipalmente, ajudá-lo a
lembrar suas falas, uma
vez que o velho ator
encontra-se confuso e
desorientado.
"Nos ensaios, fiquei
convencido de que Sir,
na sua loucura, assume
a posição do próprio
Lear e começa a dizer
as falas dele como suas",
diz Tarcísio, que ainda
reluta em assistir à ver-
são cinematográfica da
peça,
O Fiel Camareiro
,
com Albert Finney no
papel principal. "Não
resisti e vi apenas uma
cena, no YouTube. Éma-
ravilhosa: Finney chega
atrasado à estação e, ao
notar o trem saindo, gri-
ta: 'Stop this train!'", di-
verte-se Tarcísio, que
abreumsorrisoque brin-
ca em torno das bordas
de sua boca, ameaçan-
do materializar-se dian-
te da mínima provoca-
ção. Quando finalmen-
te se espalha por seu
rosto, lenta e tranquila-
mente, transforma esse
ator em um homem en-
cantador.
Emnova
peça, Meira
vive homem
senil
Tarcísio Meira e Glória Menezes são testemunhas da evolução tecnológica da TV
Volta ao palco
MAIS
Histórias de um casamento
com a vida que desperta a pai-
xão deHarold (Arlindo Lopes),
o jovem angustiado.
O humor marca a relação
de 52 anos de casados. Glória
preocupa-se em alinhar o ca-
belo domarido—a intenção é
tanto deixá-lo bonito para as
fotos como lhe dar umcarinho.
Já Tarcísio se preocupa com a
pequena contusão de Glória,
que caiu no camarim enquan-
to se preparava para a peça.
"Minha mulher é forte, faz gi-
nástica, está sempre disposta,
mas preciso cuidar dela", reve-
la o ator, que não esconde sua
insatisfação quando a duração
de seu casamento é lembrada
comomérito.
TarcísioMeira e
GlóriaMenezes
ainda buscam
desafios
Casal se confunde com a televisão e o teatro brasileiros
brasileira, ainda que o casal
iniciasse a carreira no teatro.
Tarcísio estreou em 1957, com
AHoraMarcada
, enquantoGló-
ria começou no mesmo ano
com
Devoção à Cruz.
Mas eles
começaram a se tornar popu-
lares com 2-5499 Ocupado, a
primeira telenovela diária
brasileira, exibida pela TV Ex-
celsior em 1963.
"A trama era ruim, água
com açúcar, inspirada em
uma história argentina, fize-
mos por obrigação", conta
Glória. "Mas, apesar disso, foi
um sucesso tremendo e teve
o mérito de permitir o que
tanto ambicionávamos: as
novelas acostumaram o pú-
blico ao teatro popular, algo
que não conseguíamos com o
formato tradicional", comple-
ta Tarcísio. "Foi graças ao su-
cesso dos folhetins que o pú-
blico também criou o hábito
de se informar pelos telejor-
nais, exibidos entre uma his-
tória e outra. No seu auge,
quando contou com criadores
como Bráulio Pedroso, Jorge
Andrade, Dias Gomes, a no-
vela representou um exercí-
cio de sensibilidade para o
espectador."
Tarcísio, cuja mais recen-
te aparição na telinha foi no
remake de
Saramandaia
, em
2013, não esconde o desgos-
to com as tramas atuais, que
considera frias. "Sinto que
faltam personagens que cai-
am no gosto do público, que
se tornem seus amigos."
Personagens vividos por
ele e Glória com grande su-
cesso, às vezes excessivo -
certa vez, no Recife, onde fo-
ram perseguidos por uma
multidão de fãs, tiveram as
roupas rasgadas e fios de ca-
belo arrancados. "Mas, de
uma maneira geral, sempre
somos bem tratados", obser-
va Glória.
Eles são testemunhas
também da evolução tecno-
lógica da TV, especialmente
da Globo. "No começo, era
uma emissora pobrezinha,
com equipamentos de se-
gunda linha e usando fitas
usadas", conta Tarcísio. "Em
um dia de dez horas de tra-
balho, passávamos duas en-
saiando, outras duas gravan-
do e o resto esperando o con-
serto das câmeras."
Essa época de desbrava-
mento é lembrada com boas
histórias. Glória se diverte
quando lembra do marido
gravando cena para Sangue
e Areia, na qual vivia um
toureiro. "Ele gravava no ter-
raço da Globo e fingia toure-
ar com uma capa vermelha.
Só que o touro era o guidão
de uma bicicleta, o que fazia
a festa dos moradores dos
prédios vizinhos."
Divulgação