18
CURITIBA, TERÇA-FEIRA,
25 DE AGOSTO DE 2015
Diversão
&Arte
BEM
PARANÁ
A Caixa Cultural
Curitiba apresenta, de
hoje a 30 de agosto, a
mostra
NewQueerCinema
—Cinema,SexualidadeePo-
lítica
. Serão exibidos 27
filmes de língua inglesa
dos anos 1980 a 1990 so-
bre formas alternativas
de sexualidade, alémde
quatro títulos nacionais
lançados entre 2013 e
2014. Ao todo, são 14
longas, 4médias e 9 cur-
tas metragens.
O termoNewQueer
Cinema surgiuno fimda
década de 1980 para de-
finir obras de uma nova
geração de cineastas
norte-americanos e bri-
tânicos, que produziram
filmes que desafiavamas
normas politicamente
corretas com as quais
Hollywood e a televisão
norte-americana trata-
vam os homossexuais.
As produções eramuma
tentativa de se criar dis-
cussões sobre assimila-
ção e tolerância de gê-
neros pela mídia e pela
sociedade.
Com curadoria de
DenilsonLopes eMateus
Nagime, a mostra
New
QueerCinema
tambémpro-
move um debate, no dia
27 de agosto (quinta-fei-
ra), às 20h, com o tema
Subversão eArte
,mediado
por Nagime e com parti-
cipação do professor e
pesquisador José Gatti,
da realizadora Tamiris
Spinelli edeUirádosReis
realizador e codiretor do
longa
DoceAmianto
,exibi-
do na Mostra.
“Oobjetivodoproje-
to é reavaliar esse inter-
valo de 25 anos, a rele-
vância e o impacto do
NewQueerCinema
eoque
ele representa na socie-
dade contemporânea
com novos debates e
questões”, explica Nagi-
me. Alguns filmes raros
— especialmente curtas
seminaisdaépoca—,não
tiveram sessões públicas
no país. “Não apenas ce-
lebraremos e discutire-
mos os filmes produzi-
dos nos Estados Unidos
e no Reino Unido entre
as décadas de 1980 e
1990, com fatos específi-
cos histórica e politica-
mente, mas, também,
propomos pensar o que
significaos poucos repre-
sentados filmes queer
brasileiros contemporâ-
neos”, conclui.
Mostra
New
Queer Cinema
É tanta gente a dizer que
Regina Casé só precisa da pu-
blicidade correta para ser indi-
cada como finalista para o pró-
ximo Oscar de atriz — seria a
segundabrasileira,apósFernan-
da Montenegro, por
Central do
Brasil
,aconseguirisso—,queela
já está se acostumando com a
ideia e até achando que pode
ser. Sem falsa modéstia. "Ué, se
ajudar o filme e o cinema brasi-
leiro, por que não?" Todo esse
auê começou no início do ano,
depoisqueReginaeCamilaMár-
dila, que faz sua filha, dividiram
o prêmio do júri no Sundance
Festival. Depois, quando
Que
HorasElaVolta?
,deAnnaMuyla-
ert, passouemBerlim, opróprio
repórter, em seu blog, apostou
emReginacomopossível candi-
data ao Oscar de atriz. "Iiiihhh,
mas temmuito chão ainda pela
frente!", ela exclama.
QueHorasElaVolta?
estreiaem
salasdetodooBrasil nesta quin-
ta-feira, 27. Há grande expecta-
tivaemrelaçãoaesse lançamen-
to. As comédias têm dado as
cartas no cinema brasileiro,mas
não as comédias autorais, como
a de Anna Muylaert. O público
vaicorresponder?Tudoestásen-
do feitoparas garantir a adesão.
Nestedomingo,ofilmeteráuma
sessão especial para emprega-
Há grande expectativa sobre o filme que estreia em salas de todo o Brasil na próxima quinta-feira
Regina Casé de olho no Oscar
com
Que Horas Ela Volta?
Divulgação
Regina: “Nós todos, principalmente as mulheres, convivemos não só com babás, mas com empregadas domésticas desde pequenininhos”
das domésticas emSãoPaulo. A
Globo, associadaaoprojeto, está
dando sua contribuição. Tam-
bémnessedomingo,o
Esquenta!
,
que Regina apresenta na emis-
sora, pega carona nas relações
entre patroas e empregadas do
filme ebrincade
seu eu fosse você
.
Uma patroa visita a casa da do-
méstica na comunidade e lhe
prepara um café. A doméstica
acompanha a patroa e vai com
ela a um concerto na Sala São
Paulo. Por telefone, a caminho
dagravaçãodo
Esquenta!
,Regina
Casé conversou com o jornal
O
EstadodeS.Paulo
.
Comovocê estávendo toda
essamovimentaçãoemtornode
Que Horas Ela Volta?
Regina Casé—
Estou ado-
rando. Gostomuito de fazer ci-
nema, deme comunicar, e acho
ótimo que o filme esteja acon-
tecendo, e em todo o mundo.
Tenho marido diretor (Estevão
Ciavatta), mas eu mesma não
produzo, não dirijo, só atuo.
Não tenho nada com a distri-
buição dos filmes, não palpito
no que deve ser feito, mas me
encanta saber que
QueHoras Ela
Volta?
provocou tanta comoção
em Sundance, que o júri de lá
criou um prêmio que nem ha-
via para a gente, e tambémque
o filme está fazendo sucesso na
França, na Itália.
Ecomofoisuaparceriacom
adiretoraAnnaMuylaert?
Regina —
Na verdade, já
deveria ter sido. Anos atrás, a
Anna me convidou para fazer
É Proibido Fumar
. A coisa estava
andando, cheguei a dar algu-
mas ideias para a personagem
no roteiro, mas aí não pude ir
adiante e a Anna chamou a
GlóriaPires, que interpretou lin-
damente o papel. Mas ficou
aquela coisa — "Eu ainda vou
trabalhar com essa mulher",
pensava. Quando ela me pro-
pôs a Val (a doméstica de
Que
Horas Ela Volta?
), nãovacilei. Foi
só uma questão de acertar da-
tas, e não foi fácil, porque te-
nho uma agenda corrida.
Há quase 40 anos, você fez
TudoBem
,deArnaldoJabor,que
já era sobre a relação entre pa-
trõeseempregadosnumaparta-
mento.Quelembrançavocêguar-
da?
Regina —
Liihhhh, cara,
mas eu me lembro de tudo.
Não era uma mansão de classe
média alta, como em
Que Horas
Ela Volta?
,masumapartamento
de classe média, no Rio, pas-
sandoporumareformaem
Tudo
Bem
.Naverdade, opróprioBra-
sil estava passandopor uma re-
forma. Começava-se a falar
numa possível abertura. Eram
os anos da ditadura. A grande
diferença é que lá eu era a filha
do patrão e aqui sou a domésti-
ca cuja filha vemmorar na casa
dos patrões, no Morumbi, um
bairro chique.
Vocêjádisse(nosetde
Made
in China
) que temmuito orgu-
lhode interpretarmulheres do
povo...
Regina —
...E tenho mes-
mo. Sou filha de nordestinos,
não vou negar meus antece-
dentes. Pegue a Marlene de
Eu
Tu Eles
, agora aVal.
Sãomulheres fortes.
Regina —
A Marlene tem
trêsmaridos, aVal ralouemSão
Paulo para que outra criasse a
filhadelanoNordeste. Sãomu-
lheres batalhadoras, com as
quais me identifico. Gosto de
fazer essas guerreiras porque
eu também sou assim.
Mas não lhe aborrece que
vocêsósejachamadaparaesses
papéis?
Regina —
Mas eu não sou
chamada só para eles. Repetiu-
sehápouco amesma coisado
É
ProibidoFumar
.Iafazerofilmeda
Sandra Kogut, que seria quase
o oposto do da Anna (Muyla-
ert). Eu ia fazer a patroa, e ou-
tra seria a empregada, mas não
deu. Teria sido bem legal fazer
a personagem.
Comovocêvêa representa-
ção das mulheres do povo no
cinemabrasileiro?
Regina —
Acho legal falar
sobre isso, porque, na realida-
de, há toda uma mudança no
País, e o cinema reflete isso.
Houve umtempo emque a do-
méstica, a nordestina, só apa-
recia de fundo, uma coisa pe-
quena, porque o foco estava
num tipo específico demulher,
tanto físico quanto social. Ain-
da bemque as coisasmudaram
e o cinema refletemais o Brasil.
Virei protagonista como uma
doméstica nordestina. Quer
mudançamaior?
E como você se preparou
parafazeraVal?
Regina—
Nós todos, prin-
cipalmente asmulheres, convi-
vemos não só com babás, mas
com empregadas domésticas
desde pequenininhos. Essas
pessoas acabam sendo mui-
to importantes na vida da
gente.