BEM
PARANÁ
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Cidades
CURITIBA, SEGUNDA-FEIRA, 1º DE JUNHO DE 2015
Rodolfo Luis Kowalski
Mesmo que de forma len-
ta, a educação inclusiva para
surdos, um direito garantido
na Constituição Federal pela
lei 7.853 de 1989, tem avan-
çado ao longodos últimos anos
no Paraná. Segundo dados do
Departamento de Educação
Especial e Inclusão Educacio-
nal (DEEIN), vinculado Secre-
taria de Educação, o Paraná
conta hoje com 981 crianças
surdas frequentando as clas-
ses comuns do ensino regular
(contando a rede estadual e a
edução de jovens e adultos),
um crescimento de 171% em
oito anos.
Isso prova que crianças e
adolescentes com necessida-
des especiais têm conquista-
do seus direitos, embora a fal-
ta de preparo dos professores
e a dificuldade que o Estado
encontra na hora de contratar
intérpretes ainda dificultem a
inclusão plena.
A política de inclusão das
crianças com deficiências em
escolas de ensino regular tem
evoluído ao longo da última
década em todo o Brasil, es-
pecialmente a partir de 2008,
com a elaboração da Política
Nacional de Educação Espe-
cial na Perspectiva da Educa-
ção Inclusiva pelo Ministério
da Educação (MEC).
Naquele ano, dos 66.511
alunos matriculados, 40.389
(60,7%) estavam em escolas
regulares, enquanto 26.122
(39,3%) frequentavam escolas
especiais. Em 2010, o número
total de matriculados já havia
crescido 6%, chegando a
70.823, com 52.500 (74,1%%)
surdos em escolas regulares e
18.323 (25,9%) em escolas es-
peciais.
Segundo educadores do
mundo todo, a inclusão só
existe, de fato, quando há a
mistura, a convivência entre
ouvintes e surdos (ou porta-
dores de outras deficiências)
no mesmo ambiente.
“Educação inclusiva é dar
acessibilidade na educação
para um aluno que tem defi-
ciência. No caso do surdo, vai
ter o acesso ao currículo, ao
conteúdo formal, na língua
materna dele, que é a Libras”,
explica Fabiana Ceschin Ri-
bas, da área de surdez do
DEEIN. Segundo ela, a edu-
cação inclusiva deve enfatizar
a diversidade mais que a se-
melhança, assumindo que a
vivência e a aprendizagemem
grupos é a melhor forma de
beneficiar a todos.
“No final das contas,
quem ganha mais são os ou-
vintes, porque a gente apren-
de com a diferença do outro.
As vezes achamos que temos
algum limite, mas quando co-
nhecemos o sujeito que tem
uma deficiência sensorial e
consegue dar conta, consegue
vencer, o ouvinte acaba tendo
um ganho. É como se fosse
uma inspiração”, aponta Fa-
biana.
No Paraná, existem 250
instituições inclusivas que
atendem surdos, espalhadas
por 140 dos 399 municípios do
estado. Uma das referências
é o Instituto de Educação
Erasmo Pilotto, localizado na
região central de Curitiba. A
instituição oferece ensino em
tempo integral (das 8h30 às
18h), com 14 disciplinas no
currículo e aula com acompa-
nhamento de intérprete todos
os dias para crianças a partir
de 10 anos de idade até o ter-
ceiro ano do ensino médio.
Segundo o diretor-auxili-
ar do Instituto Erasmo Pilot-
to, Lourival de Araujo Filho, o
estado hoje se coloca numa
posição mais cumpridora dos
deveres no que diz respeito
Educaçãoespecial avançanoParaná
Atualmente, 981 crianças com deficiência auditiva participam normalmente das aulas na rede pública do Estado
aos surdos. “Hoje temos pes-
soas que trabalham direta-
mente com quem precisa des-
sa educação especial e os pro-
fessores têm compreendido
que não podem estar alheio
às pessoas com necessidades
e têm procurado se especi-
alizar”, diz.
“Mas ainda temos muito
a caminhar, muito por fazer,
embora o Brasil seja um país
que está na frente dos outros.
Em nossa escola mesmo, por
exemplo, não temos como
atender deficientes físicos,
porque são s escadas, não te-
mos rampas. Quando falamos
em sociedade inclusiva esta-
mos em um processo, mas o
objetivo ainda est longe do
alcançado.”
Surdos e ouvintes são iguais
Para que se garanta a in-
clusão, é necessário também
garantir que haverá comuni-
cação. Para tanto, é preciso
que tanto alunos ouvintes
quanto estudantes surdos te-
nham conhecimentos sobre a
Língua Brasileira de Sinais
(Libras) e a própria Língua
Portuguesa, a fim de formar
uma sociedade que consiga
ser, de fato, inclusiva.
Em Curitiba, o Instituto
Erasmo Pilotto é uma das ins-
tituições de ensino que me-
lhor consegue atender essa
diversidade. “Aqui, alunos
surdos e ouvintes frequentam
os mesmos espaços e convi-
vem perfeitamente. Da mes-
ma forma que os alunos sur-
dos aprendem língua portu-
guesa, os ouvintes aprendem
Libras. E isso é interessante,
porque eles (ouvintes) gostam
e isso gera comunicação den-
tro da escola. A gente não ex-
clui. Se queremos uma socie-
dade igualitária, temos que
pensar em todas as pessoas”,
diz Lourival.
Mas não é apenas nas es-
colas que se faz inclusão. E
um exemplo é Jacarezinho, no
Norte do Paraná, onde polici-
ais civis da 12ª Subdivisão Po-
licial (SDP) estão fazendo cur-
so básico da Língua Brasileira
de Sinais. Está será a primeira
delegacia do Brasil a ter poli-
ciais com capacitação em li-
bras.
Segundo o investigador
Adjairo José Flavio de Carva-
lho, pioneiro no curso de Li-
bras, a ideia de levar as aulas
aos colegas veio após uma di-
ficuldade no trabalho. “Passei
por uma situação em que
atendi uma pessoa com defi-
ciência auditiva e vi a neces-
sidade de ter este conheci-
mento. Foi então que comecei
a fazer o curso no Instituto Fe-
deral de Jacarezinho e apre-
sentei a proposta ao delega-
do”, conta. Ideia que foi total-
mente apoiada pelo delega-
do-titular da 12ª SDB, Mar-
cos Fernando da Silva Fontes.
“Com a realização deste cur-
so, nossos policiais poderão
atender de melhor forma, re-
alizando as demandas da po-
lícia judiciária”, aponta Fon-
tes.
Em todo o Paraná, existem
31 núcleos de intérpretes
mantidos pela Secretaria Es-
tadual de Educação, que tem
aumentado os investimentos
ao longo dos últimos anos.
Educação especial avança no Paraná é o significado dos sinais acima, na Língua Brasileira de Sinais, a Libras, e é o título da matéria abaixo
Fotos: Valquir Aureliano