BEM
PARANÁ
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Cidades
CURITIBA, QUINTA-FEIRA, 18 DE FEVEREIRO DE 2016
Rodolfo Luis Kowalski
Hoje, dia 18 de fevereiro,
comemora-se o Dia Nacional
deCombate aoAlcoolismo, um
problema que muitos (ainda)
insistem em não reconhecer
como doença e que faz cada
vez mais vítimas no Paraná.
Segundo informações do Mi-
nistério da Saúde, o número de
mortes relacionadas ao álcool
mais do que dobrou no Estado
em 18 anos, saltando de 677
óbitos em 1996 para 1.430 em
2014. Isso dá uma média de
uma morte a cada seis horas,
ou quatro mortes por dia.
Umdos principais fatores
que levam ao aumento nos ín-
dices de consumo e vítimas do
álcool é a banalização da dro-
ga na sociedade. Não à toa,
79% dos jovens que possuem
entre 12 e 17 anos já consu-
miu alguma bebida alcoólica,
diz Eugenio Rozeti Filho, o
Geninho, secretário Antidro-
gas da Prefeitura de Cascavel
e representante da Associação
dos Municípios do Paraná
(AMP). a e Comunidade (SB-
MFC). “O álcool, por ser lícito
e não trazer essa noção (de
risco), acaba sendo uma cobra
que umdia vai picar alguém”,
complementa Geninho.
“A disponibilidade de be-
bida alcoólica é muito grande
emqualquer lugar, e a maioria
dos estabelecimentos não faz
controle de idade para forne-
cer o álcool. Então um jovem
consegue comprar a bebida,
temacesso fácil. Começa como
uma brincadeira, mas pode ser
o embrião de uma doença no
A cada seis horas, uma
pessoamorre vítima no PR
Segundo pesquisa, número cada vez maior de jovens, principalmente mulheres, consome a droga lícita
médio-longo prazo”, explica o
médico de família Hamilton
Wagner, membro da Socieda-
de Brasileira de Famíli
O diagnóstico e o trata-
mento, de acordo com os es-
pecialistas, não é difícil (em-
bora o índice de reincidência
chegue a 90%), mas precisa
contar comadisposiçãodapes-
soa com dependência e a aju-
dada família. Umproblema, no
entanto, é que a maioria das
pessoas aindanão conseguever
o alcoolismo como uma doen-
ça, o que acabamarginalizando
ainda mais aqueles que sofrem
como problema.
“O alcoolismo afeta a pes-
soa de várias formas. Um de-
les é a moral, porque a família
não consegue entender a do-
ença do alcoolismo, porque é
a doença do prazer. Aí não
considera ele doente, mas um
bêbado, vagabundo, jaguara.
E isso afeta a pessoa, que se
afunda cada vez mais”, expli-
ca Geninho.
Para Wagner, é preciso
uma mudança de hábitos nas
mais diversas esferas para que
o problema seja finalmente
encarado de frente. “A primei-
ra coisa é evitar o álcool em
casa. Se tem problema de ál-
cool na tua família, deve evi-
tar. A segunda é diminuir a
propaganda de álcool nos
meios de comunicação, que
isso atratapalha bastante, é
uma armadilha. E uma tercei-
ra coisa é tratar o assuntomais
a sério dentro da própria es-
tutura de saúde, fazendo
campanhas e orientando de
forma mais intensa”, finaliza.
Alcoolismo
Droga lícita e de acesso não tão difícil, álcool é problema de saúde pública
Um fato que chama a
atenção é que o problema
cresce principalmente en-
tre mulheres. Desde 2005,
segundo Geninho, o con-
sumo de álcool entre os jo-
vens cresceu 14,5%, Entre
as mulheres jovens, porém,
essa alta foi de 35,5%. “O
agravante é que a mulher
tem um sistema enzimáti-
co mais eficiente que ho-
mem e são mais resisten-
tes. Provavelmente, no fu-
turo, teremos mais mulhe-
res alcoólatras que ho-
mens”, diz.
O médico Hamilton
Wagner compartilha da vi-
são do colega. Segundo ele,
o alcoolismo era até pouco
tempo um problema essen-
cialmente masculino. Hoje,
porém, como a questão soci-
al mudou, elas também se
tornaramvítimas. “Antes era
socialmente pouco aceito
uma menina embriagada.
Hoje, elas já participam das
brincadeiras envolvendo ál-
cool comos amigos e as ami-
gas. Isso é um dado novo,
nos últimos 10 anos aumen-
tou bastante. Eu diria que
até os anos 1980 tínhamos
15 homens com problema
paraumamulher alcoólatra.
Hoje eu diria que está no 10
para3,umnúmerobemgran-
de”, complementa.
Cada vez mais
mulheres
RÁPIDA
Consumo seguro
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os
níveis seguros de consumo de álcool são de três
doses por dia para homens, não excedendo 15
doses semanais; e duas doses por dia para
mulheres, não excedendo 12 doses semanais. Uma
dose equivale uma lata de cerveja, 140ml de vinho
ou 20ml de destilado. Pessoas que bebem até 56
doses semanais são consideradas bebedores
problema. Acima disso já são classificados como
dependente químico.
“Pessoas que bebem acima das 15 ou 12 doses
semanais se arriscam a desenvolver dependência
química, que aparece depois de dois, três meses
de uso intenso, quando começam a aparecer
sintomas da falta do álcool, como falta de firmeza
na mão, dificuldade de dormir”, explica Wagner.
Para quem atende em
saúde, o alcoolismo é qua-
se como uma bola de neve
que acaba sobrecarregando
o sistema. É que não ape-
nas o dependente terá, fa-
talmente, de buscar ajuda
em algum momento, mas
também seus familiares.
“Nessa queda, notamos
que é muito comum quem
está mais perto, geralmen-
te a mãe ou a esposa, aca-
bar indo junto. Ela fica sem
dormir, sem comer, e é mo-
ralmente afetada. É um cír-
culo vicioso”, afirma o mé-
dico HamiltonWagner .
Nos anos 1990, inclusi-
ve, Wagner relata que foi
feito um estudo sobre o
assunto. O resultado: de
cada quatro pacientes crô-
nicos (que frequentam o
serviço de saúde intensa-
mente), um tem algum al-
coolista na família. “Então
das pessoas que têm mui-
ta necessidade tem de usar
serviço de saúde, é muito
comum que tenha alguém
que bebe por trás da famí-
lia”, explica.
Sistema fica
sobrecarregado
MORTES PORBEBIDAALCOÓLICA
PARANÁ
2014
1.430
2013
1.361
2005
1.030
1996
677
TRÂNSITO
50
%
das mortes nas
rodovias federais
no último feriado
de Carnaval
envolveram
motoristas que
haviam ingerido
bebidas alcoolicas.
Foram oito óbitos
no total. 139
motoristas foram
flagrados
embriagados.
Fonte: Datasus/ Ministério da Saúde
CURITIBA
2014
217
2013
213
2005
143
1996
107
Franklin de Freitas