BEM
PARANÁ
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Educação
CURITIBA, TERÇA-FEIRA, 26 DE MAIO DE 2015
SALA DE AULA
Wanda Camargo |
Família na escola
A escolarização doméstica, “Homeschooling” em in-
glês, é tema que tem chamado a atenção de muitos
pais brasileiros. A primeira consideração a ser feita é
que no Brasil tal prática não é permitida, tendo sido
objeto de inúmeras ações judiciais. Nossa Constituição
define a educação como um dos direitos sociais (artigo
6º), impondo aos pais [...] “o dever de assistir, criar e
educar os filhos menores” [...] (artigo 229); não menci-
onando que a educação deve ser realizada em estabe-
lecimento escolar.
A LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Naci-
onal, determina, no entanto, que pais ou responsáveis
devemmatricular os menores sob sua guarda no ensino
fundamental (artigo 6º). Com base nisso, e no disposto
no Estatuto da Criança e do Adolescente, que especifica
matrícula na rede regular de ensino, muitos pais tem
sido processados por reterem seus filhos menores em
casa para educa-los.
O cumprimento da Lei é fundamental para qualquer
sociedade civilizada, mas não deve interditar o debate
dos cidadãos sobre assuntos de seu interesse, e essa
questão assoma como de grande importância, merecen-
do ser discutida.
Em alguns países como Estados Unidos, Inglaterra,
Austrália e Japão, esta alternativa de educação vem sen-
do muito utilizada. Nos Estados Unidos, em particular,
estima-se que mais de um milhão de crianças e jovens
estão sendo educados em domicilio atualmente.
Os pais que optam por esta prática acreditam que
poderão instruir melhor seus filhos que a escola, pela
proximidade e pela exclusividade; esperam que os laços
familiares se estreitem pelo maior contato; procuram
proteger seus filhos de violência e companhias que con-
sideram perniciosas. E, emmuitos casos, praticam religi-
ões ou filosofias de vida que, em seu entender, mesmo
escolas confessionais “contaminarão” com conhecimen-
tos que consideramprofanos, como a Teoria Evolucionis-
ta de Darwin que enfrenta feroz oposição de grupos fun-
damentalistas americanos.
A desvantagem mais aparente para os estudantes é
o isolamento, a falta de estímulo e desafio do contato
social, a dificuldade de praticar regularmente atividades
e esportes de grupo. E nem sempre o familiar dispõe de
todo o tempo para educar os filhos, além de haver temas
que provavelmente não dominam completamente, ou
em que estão desatualizados.
Viver é perigoso, e é compreensível que também no
Brasil pais queiram proteger seus filhos da violência,
da corrupção, das drogas e de “más ideias” educando-
os em casa. Mas deve-se pensar nisso com muito cui-
dado, sem paixões, levando em conta os interesses dos
próprios filhos, e real disponibilidade e competência
dos pais para assumir com eles e seu futuro um com-
promisso tão sério.
As notícias de atos bárbaros praticados em estabele-
cimentos escolares públicos e privados são assustadoras.
Mas não devem ser tomados como regra geral, embora
uma única violência já seja demais, esses atos são exce-
ção, situações limite não devidamente controladas.
O que tem dado certo emmuitas escolas é o envolvi-
mento de pais de alunos com elas. Pais que abrem mão
de seu merecido e necessário repouso para ir à escola,
conhecer professores, funcionários e os colegas de seus
filhos. Mães que fazem bolos para rifar em coletas de
fundos, para consertar telhados e carteiras, pais que usam
suas habilidades de pedreiro para reparar muros. Mais
do que suprir lacunas no dever do Estado, estão mos-
trando a seus filhos que se importam e que consideram
sua educação um bem precioso.
A violência, as depredações e até mesmo o tráfico e
consumo de drogas costumam se reduzir quando a co-
munidade assume a escola como sua, e cuida dela.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência
do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.
Cresce a busca pela
Educação a Distância
Nos últimos dois anos, houve um aumento de 12% no número de matrículas
Preparação de aulas para Educação a Distância: demanda por novo profissional
Franklin de Freitas
Ana Ehlert
Falta de tempo e custo são
os principais motivos que im-
pulsionam a busca pela Edu-
cação a Distância (EAD). O
gestor ambiental Renan No-
gueira, 28 anos, que trabalha
como supervisor de limpeza
na Leblon Tranportes, conta
que o curso ajudou a ele ter
conhecimento sobre o trata-
mento de efluentes, ativida-
de com a qual trabalha no dia
a dia. “Eu não tinha nenhu-
ma noção disso e sobre outros
assuntos relacionados aomeio
ambiente e agora, caso a vaga
de gestor ambiental seja aber-
ta (hoje ocupada por outro
funcionário), sou um forte
candidato”, comemora.
Nogueira é apenas umdos
exemplos dos vários profissi-
onais que estão entrando o
mercado de trabalho que, an-
tes apresentava um certo pre-
conceito pela formação a dis-
tância. “Esse proconceito não
existe mais”, ressalta o pró-
reitor de EAD da Uninter,
Marco Eleutério. Ele esclare-
ce que, como tempo, ficou cla-
ro que o ensino a distância
acrescenta e molda caracterís-
ticas muito bem-vindas pelo
mercado, como, capacidade
de organização, planejamen-
to e cumprimento de prazos.
“Oaluno temde ter uma gran-
de autonomia para estudar”.
O período de adapatação
do aluno ao sistema EAD, que
dura de seis meses a um ano,
Eleutério traça como parale-
lo ao período de nivelamento
de turmas do ensino presen-
cial. “É neste tempo que o
aluno vai ver se ele consegue
desenvolver a sua autonomia
para estudar com disciplina
e critério”, conta. Ele explica
que o ensino é organizado
por módulo semanais, moni-
torados pelo Ambiente Virtu-
al de Atividade (AVA), onde
o aluno deve estudar, no mí-
nimo, 10 horas.
Embora o ensino seja a
distância, as provas devem ser
presenciais. Eleutério ressal-
ta que esse procedimento é
regulamentado peloMEC. Na
hora de escolher um curso a
distância, o aluno deve pro-
curar saber se a instituição
tem Polos de Apoio Presenci-
al. No caso da Uninter há 429
distribuidos pelo Brasil de
modo a atender a capilarida-
de exigida pelo MEC para a
modalidade.
Eleutéurio ressalta que
esse pólos execem uma fun-
ção muito importante para o
desenvolvimento do EAD.
Neles, os alunos que não dis-
põem de ambientes específi-
cos para o estudo em casa ou
não têm uma boa conexão,
podem usar a estrutura para
estudar. Neles há tutores pre-
parados para atender as ne-
cessidades de cada aluno.
“Quando há necessidades
muito específicas, como as
demonstradas pelos alunos
das engenharias, entram em
ação os tutoriais remotos, que
possibilitam ao aluno sanar
dúvidas sobre a disciplina”,
revela.
Mercado cria demanda de novo profissional
A realidade da Educação a
Distância (EAD) também ge-
rou mudanças no mercado de
trabalho, já que o número cres-
cente de alunos se criou uma
necessidade de repensar a
apresentação do conteúdo.
“Nós precisamos de pessoas
que conheçam o domínio da
ciência da linguagem para
ampliar o poder de trasmissão
dos conteúdos”, explica o pró-
reitor de EADdaUninter, Mar-
co Eleutério.
Nos últimos dois anos a
Uninter registrou um cresci-
mento de 300% na geração de
empregos para desenvolver
os materiais apresentados
aos alunos de Educação a
Distâcia.
Na Uninter, por exemplo,
o ano de 2012 foi marcado não
apenas pelo aumento no nú-
mero de matriculados na gra-
duação a distância, mas tam-
bém pela reformulação dos
materiais disponibilizados a
este público.
“Amodalidade ganhou for-
ça pela popularização da ban-
da larga no país, o valor da
mensalidade e a possibilidade
do aluno adequar o horário de
estudo a sua realidade.
Para que este tempo dian-
te do computador geremais re-
sultados, existe uma equipe
trabalhando na preparação
destes materiais. “Além dos
professores dos conteúdos pro-
priamente ditos, temos desig-
ners educacionais, programa-
dores, designers gráficos, ilus-
tradores e produtores de mul-
timídia”, explica Marco Eleu-
tério, pró-reitor de EAD do
Centro Universitário Interna-
cional Uninter.
Ele ainda reforça que, ape-
sar domomento econômico do
país, a expectativa da Uninter
é um crescimento de 20% na
contratação destes profissio-
nais até o final do ano.
Sobre o futuro da educa-
ção, Eleutério acredita que ela
deva caminhar para um siste-
ma misto, onde seja utilizado
o presencial e o a distância.
NÚMEROS
12%
é o ritmo de
crescimento dos
alunos mantriculados
na Educação a
Distância (EAD),
segundo os dados do
último Censo da
Educação Superior
de alunos estavam
matriculados em
cursos de Educação
a Distância (EAD) no
Brasil, diante de um
total de 7 milhões
1,2
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